𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝖿𝗂𝗏𝖾

Antes mesmo de encarar o mais velho, uma faísca acendeu dentro de Pip: Cairo podia estar certa? E se Andie Bell ainda estivesse viva?

A ideia, absurda à primeira vista, cravou raízes em sua mente. Singh esteve ali, sua bicicleta estava na frente da casa, ainda haviam pontas soltas que jamais se amarravam. Porque, de repente, o impossível parecia não só plausível... mas inevitável.

Ele parecia tê-la esperado o tempo todo. As mangas da camisa cuidadosamente dobradas, o semblante sereno demais, como quem já sabia exatamente o que aconteceria. Ele não se surpreendeu ao vê-la. Claro que não.

Cairo havia contado. Cairo esteve ali.

E, agora, Cairo... não estava mais ali.

Amobi enfiou a mão no bolso com pressa, os dedos trêmulos ao tocar o papel amassado. Havia sido impresso minutos antes. Aquela ameaça. A mesma em seu saco de dormir no aniversário de Cara.

Desdobrou com um gesto brusco e empurrou o papel contra o peito de Ward, como se quisesse cravá-lo ali.

──── Colocou isso no meu saco de dormir. - A voz de Pip, antes embargada pelo desespero, agora ganhava um tom cortante. A fúria estava nascendo ali, alimentada pelo medo. ──── Teve tanto medo de que eu descobrisse tudo, e o Sal foi acusado do assassinato que você cometeu! Cadê a Cairo?!

Os olhos dela ardiam. Ela já não implorava por respostas. Agora, exigia.

Diferente do que ela esperava, Elliot pareceu decepcionado. Escondeu seu rosto com as mãos e abaixou a cabeça, suspirando pesadamente.

──── Pip... - murmurou, abafado por suas mãos antes de tirá-las de seu rosto. ──── Cairo está bem... Eu não matei a Andie. Só, por favor, me deixe contar o que aconteceu.

Os olhos de Pip pareciam pegar fogo. Uma mistura explosiva de medo, raiva e incredulidade queimava em cada traço de seu rosto.

Seus punhos fecharam-se com força ao redor do papel da ameaça, amassando-o até quase rasgar, os dedos tão tensos que chegaram a tremer.

Ward deu um passo hesitante.

──── Venha se sentar.

No fim do corredor, uma janela aberta iluminava uma cozinha pequena. Havia uma mesa de madeira, com apenas duas cadeiras, encostada na parede. Ela o encarou por um segundo, os olhos cravados nele como lâminas. Não confiava nele. Não mais. Se um dia o viu como figura paterna, aquilo morria ali.

Agora tudo gritava para que ela não desse as costas, não o seguisse, não acreditasse em nenhuma palavra.

Mas ela precisava saber. Precisava de sua parceira.

Então caminhou.

Os passos eram pesados, duros, ecoando pela casa como marteladas. Ela não queria ouvir. Não queria desculpas. Só uma coisa importava agora.

──── Cadê a Cairo? - rosnou, sem olhar para ele, tentando insistir naquilo. ──── Se você fez alguma coisa com ela, juro por Deus...

A ameaça ficou suspensa no ar, crua, latejante, enquanto ela lançava outro olhar cortante em sua direção. Mas Ward permaneceu inabalado. O semblante neutro, quase sereno, como se as palavras dela fossem apenas vento.

Pip queria que cada sílaba tivesse cortado sua pele, que sangrasse por dentro, que tremesse sob o peso da verdade, mas ele sequer vacilou. Era como se suas palavras batessem contra uma parede fria e escorregassem para o chão, impotentes.

Ela se sentou em uma das cadeiras com a firmeza de quem não aceitaria desculpas. O olhar em brasa, fixo nele, como uma sentença prestes a ser proferida. Cruzou os braços, rígida, e esperou. Não por justificativas, mas sim por verdades. Cada uma delas.