Desvencilhando-se em um movimento brusco, Singh escapou do toque dele como se queimasse, os ombros tensos e os olhos arregalados. Passou por Ward sem olhar para trás, os passos rápidos e descompassados soando altos no silêncio abafado da casa.
A respiração já pesava no peito, e a cada passo a raiva crescia, se enroscando na garganta como um nó quente. O corredor estreito parecia mais longo do que o normal, com as paredes apertando ao redor, sufocantes. As tábuas antigas do chão rangiam sob seus pés como gritos abafados, ecoando pelo vazio.
Ela espiou a sala de estar com olhos selvagens. Nada. Nada além de móveis cobertos de poeira e um ar viciado, pesado. O desespero apertou seu estômago. Cairo girou nos calcanhares e seguiu até a cozinha, empurrando a porta com força.
Também vazia. Fria. Morta. Nem um som, nem um suspiro. Nenhum sinal da garota loira que poderia, talvez, ainda estar viva.
Ela está viva. Tem que estar.
O silêncio era tão grosso que quase doía. E o medo... o medo agora misturava-se à certeza: ela estava sozinha com ele. E ele sabia disso.
──── Você dormia com ela, não dormia?! - A voz de Cairo cortou o ar como uma navalha, carregada de uma fúria que tentava desesperadamente esconder o pânico latejando em seu peito.
Ela não conseguia mais manter o controle. A pergunta escapou entre os dentes trincados, a respiração curta, os olhos em brasa. Era isso. Tinha ido longe demais para voltar agora. A verdade estava ali, à beira de ser dita, e ela estava sozinha para encará-la.
Sem Pip ao seu lado. Sem Ravi para guiá-la. Sem Sal para protegê-la.
Só ela. Ela, as mãos trêmulas, o coração em colapso e o medo tentando se disfarçar de coragem.
──── Por que diria isso? - Elliot repetiu a pergunta, a voz tingida por uma confusão que não era real, apenas medo mal escondido sob uma máscara de falsa inocência.
Mas Cairo já não caía mais nesse teatro barato. Ela enxergava através da performance, reconhecia o tremor oculto por trás de cada palavra ensaiada.
──── Usavam nomes falsos! Jay Gatsby e Daisy Buchanan, não é?!
──── Cairo… essa investigação com Pip não é saudável. Está deixando isso te afetar.
A tranquilidade na voz dele só fazia o sangue dela ferver mais. Borbulhante ao ponto de fazer sua cabeça latejar.
──── Pare de mentir! Eu estou bem!
Com passos firmes e pesados, Cairo se virou e marchou de volta até o hall de entrada. Cada pisada ecoava pela casa silenciosa como um alerta. Seus olhos encontraram a escada. Sua última esperança, a última chance de encontrar alguma prova, algum sinal de que Andie ainda podia estar ali.
Mas antes que pudesse alcançar o primeiro degrau, sentiu os dedos dele se fecharem em volta do seu braço, travando seus movimentos como um grilhão.
──── Tire a porra das suas mãos de mim! - A morena gritou mais uma vez, conseguindo se soltar com certa dificuldade e dando passos para trás. ──── Andie!
──── Cairo, eu preciso que fique calma - a voz dele veio suave, quase doce, como veneno escorrendo por entre os dentes. ──── Pode subir e procurar, prometo que não tem mais ninguém aqui além de nós dois.
E era exatamente isso que a aterrorizava.
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⟡ ֺ 𓂂 notes ! ˚
OO1 : Mais uma vez fiquei UM MÊS sem atualizar, mas aqui estou. Detalhe para como o primeiro ato já está prestes a acabar.
OO2 : Votem e comentem para me ajudar, vejo vocês no próximo capítulo.
