͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝖿𝗈𝗎𝗋

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Pip se ajoelhou ao lado dela e a abraçou por trás com força, sentindo a segurança momentânea daquele gesto. Mesmo com a culpa a consumindo, ainda encontrava paz naquele abraço. Como se estivesse se despedindo. Como se precisasse daquele último instante antes de ir fazer algo que sabia ser um erro, mas que não conseguia evitar.

  ──── Está me sufocando! - Ward resmungou, segurando os braços de Pip.

  ──── Eu tenho que ir. Eu te amo muito - sussurrou antes de se levantar, o vazio já atingindo ela mais uma vez.

Cara franziu a testa, rindo daquela atitude, aparentemente, melosa.

  ──── Tá bem, esquisita. Também te amo.

Pip se afastou e saiu sem olhar para trás, o coração disparado e os passos firmes. Berners Lane. Ela só tinha um destino agora.

O céu parecia mais pesado ali, como se soubesse o que aquela casa escondia. Cairo estava parada diante da entrada, com os olhos fixos no carro estacionado na calçada. O mesmo que seguia pela bolinha roxa no rastreador, o mesmo que agora denunciava sua presença.

Sua bicicleta jazia tombada no gramado úmido, a corrente ainda girando lentamente, como se tentasse convencê-la a voltar. Mas ela não se mexia. Mal respirava.

O celular pendia em sua mão trêmula, a tela ainda aberta na localização de Elliot. Seus dedos não obedeciam. Sua mente não sabia se gritava ou implorava silêncio. O peito subia e descia em ritmo descompassado, mas os pés estavam colados ao chão.

Ela estava ali. Sozinha. Com medo. Mas estava. E acabaria com aquilo. Encontraria Andie e sua vida voltaria ao normal.

Empurrou a porta com a ponta dos dedos, a madeira rangendo levemente como se protestasse contra sua presença. Entrou devagar, os passos calculados, quase sem som, o coração batendo tão alto que parecia ecoar nas paredes.

Logo à frente, uma escada antiga subia para o andar de cima, cada degrau gasto pelo tempo. À direita, um corredor estreito conduzia até a cozinha, onde a luz suave do meio de tarde invadia as janelas. Tudo estava absurdamente quieto. Silêncio demais.

Ela avançou alguns passos, o chão rangendo sob seus pés, cada som como um tiro no escuro.

  ──── Cairo? - aquela voz calma e conhecida do seu professor de literatura, ecoou no fim do corredor.

Ele a viu.

  ──── Pip está vindo e tenho certeza de que ela chamou a polícia. - Embora sua voz tremesse, havia nela uma centelha de determinação. Uma tentativa frágil, quase imperceptível, de parecer no controle.

Mas ela não estava. Não era ele quem tremia. Eram as mãos dela, incontroláveis, denunciando o pavor que tentava esconder.

O homem franziu o cenho, chegando mais perto em passos lentos e torturantes.

  ──── Por que faria isso?

  ──── Sei que Andie está aqui! Admite!

Agora implorava por respostas, a urgência queimando em sua garganta. Aquele teatrinho começava a desgastar sua paciência, mas não era o bastante para silenciar o medo que ainda ardia, discreto, bem no fundo do peito.

  ──── Andie Bell? - Elliot perguntou quase incrédulo.

Sua expressão mostrava apenas confusão, mas, no fundo dos olhos, havia o pânico nítido de quem sabe que foi desmascarado. Ele engoliu todo aquele desespero e sorriu suavemente.

  ──── Não seja ridícula, Cairo - disse ele, pousando a mão sobre seu ombro como costumava fazer, mas agora com um peso que mais machucava do que a confortava. ──── Vem, vamos para a cozinha.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Onde histórias criam vida. Descubra agora