͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝖿𝗈𝗎𝗋

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Ninguém notou quando Pip entrou.

Ela se moveu devagar, sentando-se na beirada da cama de Ward. O colchão afundou sob seu peso, mas ninguém desviou a atenção da tela. Isso era bom. Significava que não precisaria fingir muito.

Dobrou as pernas, apoiando os cotovelos nos joelhos enquanto apertava o papel entre os dedos. Seu olhar vagou até a janela, para o sol forte lá fora, o vento fazendo as árvores dançarem, o carro de senhor Ward já distante dali. Ela esperava por um sinal.

Esperava por sua parceria.

As pedaladas cessaram quando sua visão escureceu por alguns segundos. O mundo girava ao redor dela, o ar quente e denso como se o próprio peso da noite estivesse sobre seus ombros. O coração martelava em sua garganta, e cada batida ecoava na sua cabeça como um relógio descompassado.

Cairo manteve os olhos fechados por alguns segundos, tentando recuperar o fôlego, tentando afastar a tontura que ameaçava derrubá-la ali mesmo, no meio da rua.

Ela não ia cair.

Não podia cair.

Abriu os olhos lentamente, piscando para dissipar os borrões de luz espalhados pela sua visão.

Com os dedos tremendo, enfiou a mão no bolso e puxou o celular sem muita pressa, apertando mais o guidão com sua mão livre. Respirou fundo, tentando recuperar o fôlego, e olhou para a tela.

O pontinho roxo do rastreador ainda estava lá, parado em um endereço que fazia seu estômago revirar. Berners Lane.

As palavras de sua parceira ressoaram em sua mente, tão claras quanto se ela estivesse ali ao seu lado: Assim que o carro de Elliot parar e tivermos a localização exata, você liga para Cara. Vamos chamar a polícia e fazer isso juntas.

Cairo abriu a aba de contatos e encontrou o número de Cara. O dedo pairou sobre o botão de chamada. Bastava um toque. Uma simples ligação, e ela não estaria sozinha nisso.

Mas não conseguiu.

Seus olhos se fixaram no nome de Cara na tela, aquele número recém salvo em sua lista de contatos, mas sua mente estava em outro lugar. Em Pip, confiando nela. Em Andie, possivelmente viva. Em Elliot, um monstro escondido sob a máscara de um homem confiável.

Seu corpo começou a queimar mais uma vez, o gosto amargo em sua boca.

Não podia fazer isso com Pip. Mas, ao mesmo tempo, não podia simplesmente esperar.

Esperou por cinco anos.

Seus lábios se separaram, uma respiração trêmula escapando. Em um movimento brusco, desligou a tela e enfiou o celular de volta no bolso. Seu corpo ainda tremia, as pernas falhando sob seu peso.

Os pulmões queimavam. O coração batia tão forte que parecia reverberar em seus ossos. Mas ela respirou fundo, ergueu a cabeça e focou na estrada à sua frente.

Ela sabia para onde estava indo agora.

E, mesmo que seu corpo protestasse, suas mãos voltaram ao guidão, e suas pernas encontraram força para pedalar outra vez. Mais rápido. Mais determinada. Mais perto da verdade.

O filme já passava da metade, mas Pip não sabia dizer do que se tratava. As imagens na tela se misturavam a um ruído distante, como se tudo ao seu redor estivesse submerso em água.

Sentada na beira da cama de Cara, com as pernas cruzadas e as mãos inquietas no colo, ela não conseguia parar de olhar para a porta, ou para o celular de sua melhor amiga, jogado no chão ao lado dela, com a tela voltada para cima.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now