𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗁𝗂𝗋𝗍𝗒-𝖿𝗈𝗎𝗋

O celular vacilou em suas mãos quando o afastou da orelha, pendendo ao lado de seu corpo em chamas. Identificou na hora aquele gosto amargo preenchendo sua boca como aviso de que estava prestes a vomitar, ficando mais forte ao cruzar os olhares com ele.

Elliot Ward. Seu professor de literatura. Aquele que entregou o número de telefone a uma aluna para ajudá-la. Aquele com quem havia conversado cinco minutos atrás.

  ──── Singh! - A voz calma e confusa de sua parceira de investigação chamou sua atenção e fez o gosto amargo desaparecer.

Os olhos azuis dela a encararam com suavidade antes de franzir o cenho e dar alguns passos até ela. Singh tentou se mover, andar até ela também, mas sabia que tropeçaria em seus próprios pés.

Quando conseguiu focar os olhos em Pip, olhou novamente para o celular onde a chamada com Naomi ainda acontecia. Amobi chegou mais perto.

  ──── Esse é o meu celular?

Cairo lambeu os lábios antes de responder, sentindo a garganta seca.

  ──── É… É o… O senhor Ward me entregou para te dar porque… porque você esqueceu na sala…

Conseguiu capturar o exato momento em que a expressão confusa da mais velha se transformou em medo e desespero. Foi quando sua atenção caiu sobre o próprio celular nas mãos da mais nova que o brilho em seus olhos sumiu, tomado por um pânico diante daquilo que ela ainda não compreendia.

Tirou o celular de Cairo sem pensar duas vezes, levando-o até a orelha com as mãos trêmulas. A conversa não foi longa e Pip fez exatamente as mesmas perguntas que Singh, pela sua expressão, também sentiu o gosto amargo na boca.

A chamada não demorou a acabar e as duas tinham o mesmo semblante, exceto que Pip não sentia seu corpo sujo e nojento como Cairo sentia.

  ──── Ele… - A mais velha começou e se interrompeu no mesmo momento, olhando para Ward já dentro do carro, apenas esperando por ela.

O silêncio mortal voltou, Amobi não conseguia desviar o olhar e Singh não podia olhá-lo sem querer colocar a refeição do dia anterior inteira para fora de seu estômago.

Nenhuma delas era capaz de pensar em um plano de última hora, até a dos olhos azuis voltar seu foco ao telefone.

  ──── Me dá seu celular - disse firme, estendendo a mão para a mais nova.

Sem perguntar muito, não havia energia para isso, ela entregou e apenas assistiu enquanto Pippa fazia o que se passava em sua cabeça. Quando viu melhor, era um rastreador, os celulares das duas estavam conectados e ambas teriam acesso a localização uma da outra.

Pip digitava com precisão, os olhos fixos na tela, sem hesitação. Cairo piscou lentamente, processando o que acontecia enquanto via o rastreador ser ativado. Em poucos segundos, os dois dispositivos estavam completamente conectados.

  ──── Elliot da aulas particulares, vou deixar meu celular no carro dele e você vai acompanhar a localização.

  ──── Para onde ele poderia ir, Pip? - Seus olhos escuros já ardiam em lágrimas presas.

  ──── Eu não sei… Mas, talvez, ele ainda esconda alguma coisa.

O ar, de repente, ficou mais pesado e difícil de puxar, como se estivesse sendo sufocada a cada ponto que estava sendo ligado na cabeça de sua parceira. Seu maxilar estava travado, os músculos dos ombros rígidos. Queria socar alguma coisa, quebrar algo, qualquer coisa para dissipar o nojo que corria por suas veias.