͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗇𝗂𝗇𝖾

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Seu coração começou a bater mais rápido. Havia alguém lá fora. Podia ter certeza.

Ficou parada, o corpo rígido e a respiração presa. Seus olhos percorreram o quintal, tentando decifrar qualquer movimento na escuridão. Mas nada parecia fora do lugar, além do som persistente que fazia seu coração martelar no peito. Fechou a cortina de volta lentamente, engolindo em seco.

O gênero do terror tende a ser um dos seus favoritos na vida, sabe todas as regras e pode recitá-las como no filme Pânico. A principal seria ficar lá até o barulho sumir, até mesmo se trancar no quarto e ignorar qualquer coisa do lado de fora. Mas aquilo não era um filme de terror e a sua curiosidade a mataria um dia.

Mesmo sozinha, disfarçava seu medo com uma postura perfeita e o maxilar cerrado. Pegou o celular da mesinha ao lado da cama, ativou a lanterna e abriu a porta do quarto com o máximo de cuidado, como se temesse que até o menor som pudesse denunciar sua presença.

Seus passos eram leves enquanto descia as escadas, o brilho do celular tremendo levemente em sua mão enquanto perdia aquela pose de corajosa e confiante para si mesma. Ao alcançar a porta dos fundos, parou e segurou a maçaneta por um momento, reunindo coragem.

Ela abriu a porta devagar, apenas o suficiente para espiar. A brisa fria da noite tocou sua pele, mas tudo parecia parado. Cairo apontou a lanterna para fora, iluminando o quintal. Os passos haviam cessado, mas algo estava diferente. Uma das cadeiras de jardim havia tombado, o metal brilhando sob a luz do celular.

  ──── Viu… Só o vento - ela sussurrou para si mesma, mas a incerteza ainda a rondava. Voltou para dentro, trancou a porta com mais força do que o habitual e subiu as escadas rapidamente, evitando olhar para trás.

Quando finalmente voltou para a cama, o sono veio apenas em pedaços, os sons da noite parecendo mais altos e ameaçadores do que nunca.

Na manhã seguinte, estava sentada nos degraus da frente de sua casa, o corpo mole, como se o simples ato de existir fosse um peso impossível de suportar. Era como se tivesse passado a noite inteira acordada, já havia bebido duas canecas de café e ainda sentia que desmaiaria de cansaço. Seu cérebro se recusou a desligar depois dos sons estranhos, estava dormindo mas não estava realmente descansando.

O ar fresco da manhã deveria revigorá-la, mas tudo parecia cinza, como se uma névoa opaca cobrisse o mundo. Não era apenas todos os imprevistos da madrugada, também tinha aquilo dentro dela que jamais mudaria. Sabia muito bem que não podia criar muita expectativa sobre os remédios, afinal, fazia menos de um dia desde sua volta ao tratamento. Mesmo assim, não podia evitar. Não precisava de ajuda, só queria ficar cheia de energia de novo.

Ela descansava os cotovelos nos joelhos e segurava o rosto com as mãos, olhando para a rua vazia. Sua mochila estava jogada ao lado, o zíper aberto revelando os cadernos desalinhados. Cairo sabia que precisava organizar tudo, mas onde encontrar a energia para se importar? Haviam coisas mais importantes acontecendo: a inocência de seu irmão.

Por estar sem sua bicicleta naquela manhã, Pip chegaria como sua carona a qualquer momento. Já estava quase virando sua motorista particular, e não podia reclamar. Até que gostava do carro velho de sua parceira.

Ainda pensava em coisas demais, deixando sua cabeça dolorida logo pela manhã. Nem mesmo sua preferência por roupas confortáveis parecia trazer conforto naquele momento. Uma camiseta branca e larga com um desenho do homem aranha caía sobre uma bermuda de moletom vermelha, também tinha seu casaco velho de sempre.

Nos pés, seus Vans pretos clássicos estavam gastos, com os cadarços frouxos e as solas levemente sujas. As mãos estavam escondidas dentro das mangas do moletom, um hábito que ela mantinha tanto por conforto quanto por costume. Talvez para se esconder o máximo que ela podia.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now