͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗇𝗂𝗇𝖾

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Mas Pippa estava certa.

Se Cairo não lutasse para limpar o nome de seu irmão, nunca conseguiria seguir em frente. Nunca conseguiria viver o futuro que ele merecia, por ele e por si mesma.

Apertou o frasco na mão esquerda, os dedos tremendo ligeiramente enquanto girava a tampinha branca. Ela a ouviu cair sobre a madeira do gaveteiro com um som oco, revelando os comprimidos brancos abandonados lá dentro.

Sal sempre gostou dela sem os remédios, a versão "verdadeira" de Cairo, aquela que ele via todos os dias e nunca tentou mudar. Mas Sal também foi o primeiro a acompanhá-la na farmácia para buscar a medicação quando ficou pronta. Era ele quem, todas as manhãs, lembrava-a de tomar os comprimidos com sua voz tranquila e firme, como se fosse a coisa mais importante do mundo.

Sal podia amar ambas as versões de sua irmãzinha, mas, agora, Cairo não sabia mais qual delas era a real. Quem era ela, afinal?

Depois de um longo suspiro, virou um dos comprimidos na boca e engoliu usando o pouco de café que havia sobrado em sua caneca de Lady Bird. Olhou novamente para onde havia deixado o frasco e se deparou com os outros três que faltavam. Agora sim ela entendeu porque sempre esquecia de tomar. Mas não mais.

Não precisa da ajuda de ninguém para aquilo, os remédios podiam fazer o efeito que prometiam e ela se sentiria melhor e mais preparada para a investigação. Era isso que ela precisava, ajudar na investigação.

Cairo entrou no banheiro pequeno e bem iluminado de seu quarto, sentindo o piso frio contra seus pés descalços. Ela pendurou a toalha úmida no gancho atrás da porta, os dedos rápidos e metódicos no movimento. O vapor do banho ainda pairava no ar, embaçando o espelho. Com um gesto automático, limpou o vidro com a mão e encarou seu reflexo por um momento, os olhos cansados, mas a mente inquieta. Nada novo.

Pegou sua escova de dentes e o creme dental na prateleira ao lado da pia, espalhando o produto com uma precisão quase distraída. Enquanto escovava os dentes, sua mente vagava inevitavelmente para a lembrança dos lábios gelados de Pippa Fitz-Amobi. Ela podia sentir a pressão suave e confiante dos lábios de Pip, o gosto da chuva misturado ao som distante de seus risos.

Um calor confortável subiu por seu peito, e ela abaixou os olhos quando encarou seu sorriso bobo no espelho, sentindo-se ligeiramente exposta e envergonhada até para si mesma.

Ao terminar, enxaguou a boca, desligou a luz e voltou para o quarto. O relógio digital ao lado da cama brilhava com números vermelhos quase intimidadores: 01:53 da manhã. A morena se jogou na cama com um suspiro pesado, puxando o edredom macio sobre o corpo. Fechou os olhos, mas sua mente se recusava a silenciar.

Pensava nos olhos de Pip, na sensação dos dedos dela em sua pele, nos segundos que pareciam eternos debaixo da chuva. Mesmo sabendo se sua sexualidade desde sempre, Pippa parecia mexer com ela de uma forma diferente.

Tudo parecia mais intenso do que aqueles crushes bobos de sua infância, como a Lindsay Lohan em Operação Cupido quando ela tinha oito anos. Ou uma garota de sua sala no oitavo ano. Sua parceira de investigação era especial. Ainda era seu primeiro beijo.

A exaustão finalmente começou a vencê-la, o corpo afundando no colchão e a respiração desacelerando. Estava prestes a se perder no sono quando um som a fez abrir os olhos. Algo do lado de fora. Vidro? Um galho? O vento derrubando algo?

Uma sensação de alerta percorreu sua espinha, e ela ficou imóvel, ouvindo. Passos. O som claro de alguém se aproximando pela lateral da casa.

Cairo se ajoelhou devagar, bagunçando um pouco sua cama para que pudesse ter visão do lado de fora.

  ──── Talvez tenha sido o vento - ela sussurrou para si mesma, tentando se convencer daquilo.

Aproximou-se da janela, os dedos afastando um canto da cortina. Tudo estava escuro, apenas as sombras borradas das árvores se mexendo com o vento. Ainda assim, o som persistia: passos leves, cuidadosos, mas indiscutíveis.

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Where stories live. Discover now