𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗇𝗂𝗇𝖾

Ela fixou o olhar na rua, esperando ver qualquer movimento, qualquer ondulação na escuridão que pudesse se transformar em uma figura humana.

Deixou a cortina cair e voltou para a cama, mas o edredom já havia perdido todo o calor que antes a envolvia. A garota se encolheu, tremendo, enquanto observava o relógio do celular marcar três e poucos da manhã. 

O vento uivou lá fora, sacudindo a janela, e o som fez seu coração disparar, subindo até a garganta. Incapaz de ignorar o nervosismo crescente, afastou o edredom novamente e se levantou, atravessando o corredor na ponta dos pés. Abriu a porta do quarto de Josh devagar, quase sem som. Ele dormia profundamente, o rosto sereno banhado pela luz suave das estrelas azuis projetadas no teto. 

Sem fazer barulho, aproximou-se da cama. Rastejou até o pé do colchão e se aninhou cautelosamente ao lado do travesseiro, tomando cuidado para não encostar no irmão. O mais novo não acordou, mas murmurou algo incompreensível quando ela se cobriu com o edredom quente. Ela sentiu o calor envolvê-la, reconfortante e familiar. 

Deitada ali, ouvindo a respiração lenta e profunda do irmão, Pip começou a relaxar. Deixou seus olhos se perderem no brilho suave das estrelas giratórias no teto, como se o universo inteiro estivesse ali, ao alcance de suas mãos. O medo e a tensão começaram a derreter, substituídos por uma exaustão tranquila. Josh estava seguro. E, por enquanto, isso era o suficiente.

──

Usava uma toalha grossa para secar seus fios de cabelo ainda molhados do banho quente, ela entrou no quarto em passos suaves e silenciosos sobre o piso de madeira, já que suas meias não fazem nenhum barulho. Em cima de seu gaveteiro de madeira ela deu de cara com frascos laranjas de comprimidos, todos cheios ou na metade.

Todos os dias, quando acordava, aquela era uma de suas primeiras visões. O móvel perto da cama, mesmo sendo alto, ela podia ver quando se sentava, e sempre sentia algo queimar. Ela segurou um dos frascos e leu seu nome na etiqueta: Cairo Marie Singh. Estava a tanto tempo ignorando a existência desse tratamento, nem sabia mais dizer se os remédios fariam efeito.

Os olhos castanhos escuros caíram sobre o celular, jogado sobre a cama. Seu papel de parede era uma foto antiga com seus irmãos, uma memória congelada no tempo. Uma selfie tirada em um dia ensolarado, os três olhando para a câmera usando chapéus coloridos de aniversário e o mesmo sorriso nos lábios.

Sal estava no canto direito da imagem, segurando o celular com uma mão e fazendo o sinal de paz com a outra. Seu sorriso era discreto, quase tímido, mas ainda assim carregava um calor inconfundível. Ao lado dele, sentado na grama com as pernas cruzadas, Ravi exibia um sorriso largo e despreocupado, os olhos semicerrados pela luz do sol, como se estivesse completamente à vontade naquele momento.

Mais ao fundo, atrás de Ravi, Cairo estava deitada de bruços na grama. Seu braço esquerdo estava envolto em um gesso rosa que se destacava contra o verde vibrante ao seu redor. Mesmo assim, ela sorria radiante, os olhos fechados em um gesto tranquilo, como se não houvesse dor capaz de apagar sua alegria naquele instante. Era uma cena de pura harmonia, cheia de detalhes que transbordavam amor e união.

Desviou o olhar, incapaz de encarar a foto por mais um segundo. As lágrimas ardiam em seus olhos, e o peso da saudade apertava seu peito. Pensar que alguém havia arrancado toda a cor e a união que os três tinham compartilhado era uma dor que só parecia crescer com o tempo. Mesmo com uma esperança sem fim dentro de seu peito, ainda tinha que enfrentar a realidade. Nada o traria de volta.

Não o faria atravessar a porta da cozinha com um sorriso, pegá-la desprevenida em um abraço e jogá-la nas costas para correr pela casa enquanto sua mãe gritava para terem cuidado. Esses momentos eram parte de um passado que nunca retornaria, e aceitar isso era como encarar um vazio que ela não sabia preencher.