͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗇𝗂𝗇𝖾

Começar do início
                                        

Pip entrou no quarto e jogou a mochila na cama, a roupa molhada e gelada deixava seu corpo apenas mais frio e desconfortável. Caminhou até a mesa, mas algo chamou sua atenção de imediato. Algo estava errado.

Seu notebook estava aberto, com a tela inclinada para trás, algo que jamais deixava acontecer. Ela tinha o hábito obsessivo de sempre fechá-lo antes de sair. Suas mãos hesitaram antes de ligá-lo. Quando a tela acendeu, sua atenção foi desviada para a pilha de impressões sobre a mesa, que agora estava espalhada em desordem.

No topo, um único papel destacava-se. Era a foto. A prova que confirmava o álibi de Sal. Não estava onde ela havia deixado.

O notebook emitiu suas notas de boas-vindas, e a tela inicial carregou. À primeira vista, tudo parecia normal: o documento do Word com a entrada mais recente de seu diário de produção ainda estava aberto na barra de tarefas, ao lado de uma guia minimizada do Chrome. Mas quando clicou no diário, a página se abriu um pouco abaixo do diagrama de suspeitos.

Ela congelou.

Logo abaixo de suas últimas palavras, alguém havia digitado uma mensagem: VOCÊ PRECISA PARAR COM ISSO, PIPPA.

Um arrepio subiu por sua espinha enquanto ela relia a frase. O ar no quarto parecia mais denso, quase sufocante. Alguém havia estado ali. Alguém sabia.

Deu alguns passos para trás, verificando se suas cortinas estavam fechadas. Elas estavam, assim como as janelas. A garota sentiu um arrepio na espinha que não foi causado pelas roupas molhadas. O assassino tinha estado ali, em seu quarto. Tocado em suas coisas. Lido sua pesquisa. Pressionado as teclas de seu notebook. Dentro de sua casa.

Ela se afastou da mesa e desceu as escadas.

  ──── Hum, mãe… - começou, tentando manter o tom normal mesmo com o terror ofegante em sua voz. ── Alguém veio aqui em casa hoje?

Sua mãe, sem tirar os olhos do que estava fazendo, deu de ombros.

  ──── Não sei, fiquei o dia todo no trabalho e fui direto para a reunião de pais do Josh. Por quê?

  ──── Ah, nada de mais - respondeu Pip, improvisando. ── Encomendei um livro e achei que seria entregue. Hum… Na verdade, tem mais uma coisa. Estava rolando uma história na escola hoje. Estão invadindo a casa de algumas pessoas, e acham que estão usando as chaves reserva para entrar. Talvez a gente não devesse deixar a nossa lá fora até os invasores serem pegos, né?

A mais velha levantou o olhar.

  ──── É, talvez a chave não deva mais ficar lá fora então. E você precisa tirar essa roupa molhada logo ou vai ficar doente.

  ──── Eu vou, só vou buscar a chave antes - anunciou Pip, tentando não derrapar enquanto corria até a porta da frente.

Ao abrir a porta, uma lufada de ar noturno atingiu seu rosto, só trazendo mais frio para todo seu corpo. Pip se ajoelhou rapidamente, levantando um canto do capacho externo. O brilho do metal refletiu sob a luz fraca do corredor. 

A chave não estava exatamente na marca que deixara na terra, mas caída ao lado, como se alguém a tivesse movido. Com dedos trêmulos, ela a pegou, sentindo o toque gelado do metal contra sua pele.

Ela se enfiou debaixo do edredom depois do banho mais quente de sua vida, o corpo tenso e imóvel, tremendo. Fechou os olhos e tentou se concentrar nos sons ao redor. Uma raspagem. Algo arranhando, talvez nas paredes. Seria alguém tentando entrar? Ou apenas o salgueiro, cujos galhos às vezes batiam na janela dos pais?

Um baque surdo vindo da frente a fez pular. A porta do carro do vizinho? Ou alguém tentando invadir a casa?

Com um suspiro, Pip saiu da cama pela décima sexta vez e foi até a janela. Levantou um canto da cortina e espiou lá fora. Tudo estava envolto na escuridão. Os carros na garagem refletiam a luz da lua, suas superfícies tingidas de prateado, mas o resto da rua estava engolido pelo tom azul-escuro da noite. Havia alguém lá fora? Alguém observando-a nas sombras?

𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭Onde histórias criam vida. Descubra agora