𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗇𝗂𝗇𝖾

Não sabia dizer se sempre foi daquela forma, também não conseguia lembrar se já sentiu isso por alguma garota antes. Talvez quando ficou obcecada por Courteney Cox em Friends, mas pensava ser apenas uma admiração. Aparentemente estava errada.

Pip lembrou-se de como se sentia ao lado de meninos no passado, algumas mãos entrelaçadas, os olhares longos. Era confortável, seguro até. Mas não tinha o mesmo efeito que a morena tinha sobre ela. Nunca foi avassalador, nunca fez seu peito queimar e sua mente girar como uma bússola perdida.

Talvez o que mais a assustasse não fosse o que sentia pela garota, mas o que significava. A palavra "bissexual" piscou em sua mente como um letreiro de neon. Cara estava certa, de novo.

Pip sabia que precisava de tempo para digerir isso, para se permitir compreender que era mais do que um rótulo, mas não tinha tempo para auto descobertas.

Durante esses poucos dias na escola, de segunda a quinta, Cara estava extremamente quieta. Pip entendia: seu projeto tinha abalado os alicerces da família Ward, e a vida dela e da irmã dependiam de Amobi descobrir a verdade. Ela havia perguntado na quarta feira quem Pippa achava ser o culpado. Ela não disse nada, apenas avisou Cara para deixar Naomi para longe de Max.

Não podia arriscar compartilhar os segredos de Andie com elas, caso viessem junto com ameaças de assassinato. Era um fardo que ela precisava carregar sozinha.

Dois caminhos seguiam em sua frente, podia escolher entre contar para a polícia e reabrir a investigação, assim os Singh podem ter uma liberdade mais rápido mas Naomi seria presa, ou, podia pensar até seu cérebro fritar em alguma forma de livrar os Ward daquilo. Sua escolha já estava feita, mas ainda parecia estar presa ali, sem conseguir seguir em frente.

  ──── Como foi a reunião de pais? - a garota perguntou, mudando de assunto e tirando suas meias também molhadas.

Sua mãe, a qual estava na dispensa, colocou apenas a cabeça para fora para responder a Pip.

  ──── Foi boa, Josh está melhorando em ciências e matemática - ela para de falar ao ver o estado de sua filha, franzindo o cenho. ── O que aconteceu?

  ──── Chuva… muita chuva… - sussurrou brincando com os dedos, era difícil mentir para sua mãe. Embora não estivesse mentindo, de alguma forma, a mulher sempre sabia quando ela estava escondendo algo. ── Vou subir, tenho trabalho para fazer e preciso de um banho!

  ──── Ah, querida… - Leanne suspirou. ── Está se esforçando demais.

  ──── Não estou nem no meu máximo!

Então, apressadamente, ela saiu da cozinha e correu degraus acima, parando em frente a porta de seu quarto quando chegou lá. Estava entreaberta. A visão trouxe à tona uma memória meio borrada daquela manhã.

Joshua, com seu humor peculiar, havia pegado dois frascos de loção pós-barba do Victor. Com um em cada mão, usando um chapéu de vaqueiro improvisado, ele trotava pelo andar de cima como se estivesse montado em um cavalo invisível. Enquanto esguichava o líquido pelo corredor, proclamava em alto e bom som: “Eu sou o “tchau-preguiça-tchau-sujeira-adeus-cheirinho-de-suor”! E esta casa não é grande o suficiente para nós dois, Pippo!”

Ela se lembrava de ter saído correndo para a escola naquela manhã, fechando a porta do quarto atrás de si para evitar o cheiro enjoativo da mistura das loções Brave e Pour Homme. Ou será que isso tinha acontecido outro dia? A semana inteira parecia embaralhada em sua mente. As noites mal dormidas haviam transformado seus dias em um borrão sem fim.

  ──── Alguém entrou no meu quarto? - gritou do andar de cima, virando sua cabeça para a escada.

  ──── Não, acabamos de chegar, filha - respondeu sua mãe no mesmo tom.