𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗌𝖾𝗏𝖾𝗇

  ──── Por que ela não me contou?

  ──── Talvez só escondesse essa parte - respondeu Amobi em um sussurro, sem coragem para olhar sua melhor amiga. ──── Ela devia estar com vergonha.

  ──── E deveria estar - Cara disse, virando o rosto e finalmente deixando as lágrimas correrem por suas bochechas.

Só agora Pip sentiu o peso esmagador no peito, uma sensação sufocante como nunca antes. Instintivamente, virou-se em direção à sua melhor amiga, deixando seus olhos fixos no rosto dela.

  ──── Só porque ela fez isso, não significa que ela deixa de ser uma boa pessoa.

Então esticou a mão para segurar as mão inquietas da morena, a qual logo recuou.

  ──── Não, Pip… Não sei se consigo perder mais alguém.

Dando a conversa por encerrada, Cara começou a se levantar, pronta para ir embora com seus próprios fantasmas. Mas, antes que ela pudesse se afastar, um estalo iluminou os pensamentos de Pip, que rapidamente segurou o braço dela.

  ──── Espera.

O olhar de Ward se acendeu com uma centelha de esperança, e ela se sentou novamente no mesmo instante, como se estivesse esperando exatamente por isso.

  ──── E se houver outro jeito de provar a inocência do Sal? - continuou Pippa com certa hesitação em sua voz.

  ──── Como?

  ──── Eu ainda não sei, mas…

  ──── Faria isso por nós?

Desta vez, Amobi respondeu sem hesitar, em questão de segundos.

  ──── Faria qualquer coisa por vocês.

A morena estendeu os braços antes que Pip pudesse dizer qualquer outra coisa. O abraço veio como uma âncora em meio ao turbilhão, apertado, quente e cheio de significado. Amobi afundou o rosto no ombro de Ward, sentindo um conforto tão raro que mal sabia como reagir. Não precisavam de palavras para entender o quanto aquilo significava.

Cara não era apenas sua melhor amiga; ela era sua irmã em tudo, menos no sangue. A única pessoa que sempre estaria ali, pronta para abraçá-la, mesmo quando tudo parecia desmoronar.

Quando o abraço se desfez, Pip deu um meio sorriso, mas seu olhar logo desviou para o fundo do corredor. Havia algo que ainda incomodava, algo que precisava resolver. Cairo Singh. Ela precisava encontrar Cairo, olhar nos olhos dela e admitir que estava errada. Cairo era seu Watson, e nada disso faria sentido sem ela.

──

Passou dias ensaiando mentalmente seu discurso de desculpas, ajustando cada palavra, como se isso pudesse diminuir o peso do que havia feito. Durante todo esse tempo, evitou ao máximo cruzar com a morena pelos corredores da escola, o que, para sua sorte, não era difícil. Cairo quase nunca estava lá. 

Mas agora, tudo era diferente. Pip estava cansada de fugir. Em vez disso, estava caçando Singh pela cidade, determinada a encontrá-la. Ravi esteve ao seu lado por cinco minutos, antes de ele soltar uma bronca pesada. Ela ouviu cada palavra, aceitando a culpa que já sabia carregar. 

Mas agora sabia bem onde encontrar sua parceira. Campo de futebol, treinando. Seu coração disparou quando saiu do carro e a viu com o uniforme de treino, correndo junto de outras garotas.

Pip não sabia ao certo o que a fazia sentir aquele aperto no peito. Se era pela maneira como Cairo parecia ainda mais atraente com o uniforme, ou se era pelo peso da certeza de que agora a garota a odiava.