𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗌𝗂𝗑

O quê? O que fizeram? Quem descobriu?

Antes que qualquer pergunta pudesse ser feita, Ward assumiu o controle da situação, sua voz cortando o silêncio de maneira firme e determinada, como se estivesse lutando para manter o domínio sobre suas próprias lembranças.

  ──── Aconteceu uma coisa na véspera do ano novo… há cinco anos atrás. Eu saí com Max, Jake e Millie, a gente… hum, a gente foi naquela boate de merda, em Amersham. E todo mundo bebeu demais. Quando a boate fechou, foi impossível
conseguir um táxi. Tinha umas setenta pessoas na nossa frente e estava congelando do lado fora…

Ela continuou.

  ──── Então Max, que tinha nos levado até lá, disse que na verdade nem tinha bebido muito e que estava bem para dirigir. Convenceu Millie, Jake e eu a entrarmos no carro com ele. Foi tão idiota. Ai, meu Deus, se eu pudesse voltar no tempo e mudar uma coisa na minha vida, seria aquele momento…

Sua voz estava cada vez mais embargada e difícil de entender, mas Pip não disse nada e deixou a garota prosseguir.

  ──── Sal não estava lá, estava cuidando dos irmãos, mas… queria que ele tivesse ido. Jamais nos deixaria fazer uma burrada daquelas. Então Max, tão bêbado quanto o resto de nós, começou a acelerar na A413. Eram tipo quatro da manhã e não tinha nenhum outro carro na rodovia. E então… Max bateu em outro carro.

Os soluços de Naomi ecoavam pela sala escura, preenchendo cada canto com um som desesperado e cru. Pip, agora com os olhos marejados, sentia a garganta apertada, como se qualquer palavra que tentasse dizer fosse se despedaçar antes de sair. Não havia nada que pudesse fazer para aliviar a tensão, nenhuma frase que pudesse apagar aquele momento caótico. 

A cena à sua frente parecia uma distorção, como se o peso de tudo aquilo tivesse o poder de arrastar ambas para um lugar sem volta. O coração de Amobi batia acelerado, não apenas pela confissão que pairava no ar, mas pela inevitável conexão que sua mente fazia com Cairo. O pensamento dela era como um fio que puxava memórias e arrependimentos, e a ansiedade crescia em seu peito. 

Todo esse tempo. Toda essa dor. Tudo isso... por quê?

  ──── Nós… nós fomos embora e deixamos o homem lá… - A morena continuou. ──── Saiu no jornal dizendo que ele estava em estado grave e… nada mencionava a gente. Uma semana depois de Andie desaparecer, depois de Sal dar seu depoimento, chegou um bilhete na casa de Max com… instruções. Precisávamos mentir sobre o horário que Sal saiu e apagar todas as fotos que provassem o contrário…

  ──── E se não fizessem? - Pip finalmente disse algo, apertando mais a mesa atrás dela.

  ──── A polícia iria ficar sabendo sobre o acidente… Que… que deixamos um homem morrendo.

Amobi soltou uma risada curta, seca, que ecoou pela sala como um estalo inesperado. Não era uma risada genuína, mas algo que explodiu entre o choque e a indignação, como se seu corpo não soubesse como reagir. Afastou-se da mesa e começou a olhar ao redor, procurando por câmeras que pudessem estar gravando aquela brincadeira sem graça. Mas não era uma brincadeira.

  ────  Todo esse tempo, você deixou que acreditassem que Sal é culpado quando não foi ele! - ela disse, sua voz tremendo entre a incredulidade e a raiva que queimava em seu peito.

  ──── Não tem sido fácil! - retrucou Ward, as lágrimas molhando completamente seu rosto vermelho. ──── Meu melhor amigo se matou por causa do que eu fiz! Guardar isso por cinco anos quase me matou! Ver os irmão dele sofrerem tanto por minha culpa, Pip, foi terrível!