𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗍𝗐𝖾𝗇𝗍𝗒-𝗈𝗇𝖾

Pip soltou uma risada nervosa, as mãos suando dentro da luva. O gato desceu correndo, parando para miar para eles.

──── Oi gato - Sussurrou, enquanto o animal esfregava o rosto em suas canelas.

Cairo se ajoelhou e começou a acariciar o pelo macio do felino, seus olhos brilhando de uma forma especial enquanto segurava o rosto do animal e usava os polegares para alisar suas bochechas.

──── Você é tão fofo - Ela disse suavemente, encostando sua testa com a testa do gato.

Pip observava a garota com um sorriso bobo no rosto, o coração aquecido pela cena diante de seus olhos. Fazia tanto tempo que não via Cairo tão radiante e cheia de energia. Pip sabia que essa fase ainda não havia passado - havia passado madrugadas pesquisando sobre o transtorno bipolar - mas, se soubesse que um simples gato poderia deixá-la assim, teria encontrado um antes.

──── Vamos lá - disse para Singh, seguindo até as escadas.

Ainda demorou para se levantar, mas então Cairo deixou o gato e seguiu Pip para o andar de cima.

Segurando o corrimão, Amobi subiu os últimos degraus, quase derrubando um notebook e um pendrive deixados de forma estranha no topo da escada. No andar de cima, ela examinou as portas. O quarto dos fundos não poderia ser de Andie; a colcha amarrotada e um par de meias na cadeira indicavam que alguém ali havia dormido. O quarto da frente também não era, com um roupão jogado no chão e um copo d'água na mesa.

Singh, percebendo algo, deu um tapinha gentil no braço dela e apontou para a única porta fechada. Ao abrir, Pip imediatamente reconheceu o quarto: tudo parecia encenado, mas estagnado. Fotos de Andie e amigas, um ursinho marrom e um estojo de maquiagem estavam lá, mas o ambiente parecia congelado em cinco anos de luto.

Pip deu um passo no tapete creme. As paredes lilás e os móveis brancos estavam limpos, como se Dawn Bell ainda cuidasse do quarto da filha. Pip imaginou as memórias que preencheram aquele espaço. O quarto parecia esperar por alguém que nunca voltaria, enquanto o mundo seguia do lado de fora.

Ela olhou para Cairo e soube que ela tinha um cômodo igual na casa dos Singh. Agora, mesmo começando a conhecer Andie, o quarto a tornava real pela primeira vez. Ao se aproximar do guarda-roupa, Pip fez uma promessa silenciosa ao quarto: descobrir a verdade, não apenas por Sal, mas também por Andie, pois a resposta poderia estar ali.

Por outro lado, a mais nova sentia uma estranha familiaridade naquele lugar. Nunca havia pisado naquele quarto antes, nem mesmo na infância, mas podia sentir a presença de Andie ali, como se ela ainda estivesse viva. Desejava voltar-se para a porta e ver a loira entrando com jogos de tabuleiro para que jogassem ou trazendo doces, indicando que iam assistir a um filme. Qualquer sinal que a fizesse sentir-se completa novamente.

──── Pronta? - Ouviu Pip chamar.

Andie não ia voltar.

Virou-se para o guarda roupa e assentiu, os olhos fixos no chão.

Amobi abriu o guarda-roupa lotado de vestidos e moletons pendurados em cabides de madeira. Em um canto, o antigo uniforme escolar de Andie estava esmagado entre saias e blusas, sem espaço para respirar.

Com dificuldade devido à luva de látex, Pip pegou o celular do bolso da calça e ligou a lanterna. Ajoelhou-se, com Cairo ao lado, e ambos se arrastaram por baixo das roupas, iluminando as tábuas do assoalho. Começaram a cutucar o piso, passando os dedos sobre a madeira e tentando levantar as bordas.

Singh encontrou o que procurava: a tábua dos fundos, à esquerda. Ela empurrou um canto para baixo, fazendo o lado oposto subir. Pip se arrastou para frente, retirou a tábua e, com a luz do celular, eles se inclinaram para olhar no espaço escuro.