𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗇𝗂𝗇𝖾𝗍𝖾𝖾𝗇

Então ela ouviu.

Muito mais alto do que o som da chamada de seu próprio celular. O grasnado de um pato mecânico soou das mãos do homem. Ela o observou pressionar a tela e levar o aparelho ao ouvido.

  ──── Alô? - Soou uma voz distante, abafada pela janela.

Logo depois, a mesma voz falou pelos alto-falantes do celular de Pip. Era a voz de Howie, estava confirmado.

Cairo riu fraco, se ajeitando sobre o banco e encarando Pippa novamente.

  ──── Você foi tipo uma gênia agora.

Ela apertou o botão de desligar com um sorrisinho idiota nos lábios e observou Howie Bowers baixar o telefone e encarar a tela, franzindo as sobrancelhas grossas e incrivelmente retas que lançavam sombras sobre seus olhos. Ele voltou a levar o celular à orelha.

  ──── Merda - Murmurou a garota, silenciando o próprio telefone.

Uma fração de segundo depois, a tela se iluminou com uma chamada de Howie Bowers. Pip apertou o botão de bloqueio e deixou a chamada soar silenciosamente, com o coração disparado. Aquela tinha sido por pouco, muito pouco. Havia sido burrice não ocultar seu número ao ligar.

Singh parecia tão nervosa quando Pip, mas seu rosto não expressava nada disso, ela apenas batucava os dedos silenciosamente pelo painel do carro.

Enquanto observava Howie à distância, sua mente vagava. Não conseguia parar de pensar em como tinha falhado com Pip na noite da festa, sentindo-se culpada por não ter estado ao lado dela. Mas mais do que isso, havia uma confusão constante em seus sentimentos pela garota.

Mesmo nessa escuridão que a envolvia, ela ainda se sentia atraída por Pip, preocupada com ela de um jeito que não conseguia explicar, uma mistura de carinho e desejo. Ser assumida para sua família e muito bem aceita por si mesma definitivamente não faziam suas dúvidas irem embora como pensou no passado, talvez só tenha deixado ela mais insegura.

  ──── Não é perigoso ele ter seu número? - Perguntou a morena.

Aquilo sim era ainda mais preocupante e Amobi nem sequer cogitou aquilo.

  ──── Eu espero que não - Respondeu tentando soar tranquila, mas aquela era a última coisa que realmente estava sentindo.

Howie guardou o celular e ficou parado, de cabeça baixa, com as mãos nos bolsos. Embora tivesse confirmado que aquele homem era Howie Bowers, Pip ainda não sabia se era ele quem fornecia drogas a Andie.

Sua única informação era que Bowers traficava para os alunos do Colégio Kilton, o mesmo grupo para o qual Andie vendia a mercadoria de seu traficante. Podia ser coincidência, sempre podia. Talvez Howie Bowers não fosse o homem que havia trabalhado com Andie tanto tempo antes. Mas, em uma cidade pequena como Little Kilton, não dava para acreditar muito em coincidências.

  ──── Sargento! - Chamou Cairo em um sussurro, havia alguém se aproximando.

Então Pip ouviu passos pesados sobre o concreto, cada vez mais altos, aproximando-se. Não conseguia ver seu rosto ainda, embora, pela reação de sua parceira, não parecia algum conhecido. E então a pessoa entrou em seu campo de visão.

Era um homem alto, com um longo casaco bege e sapatos pretos engraxados, cujos estalidos nítidos e brilho demonstravam serem novos.

Ao alcançar Howie, ele se virou para se recostar na cerca, ao lado do traficante. Pippa precisou de alguns instantes antes que seu olhar focasse o homem. Então ela levou um susto.

Cairo jamais o reconheceria, mas seu nome ainda deveria incomodar ela.

Pip o conhecia. Reconhecia seu rosto das fotos dos funcionários no site do Kilton Mail.