𝗡𝗢 𝗕𝗢𝗗𝗬, 𝗡𝗢 𝗖𝗥𝗜𝗠𝗘 : 𝗉𝗂𝗉𝗉𝖺 𝖿𝗂𝗍𝗓-𝖺𝗆𝗈𝖻𝗂 ੭

͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏𝗇𝗂𝗇𝖾𝗍𝖾𝖾𝗇

Cada palavra dela soava como uma confissão, um lamento preso em sua cabeça há tempo demais. O coração da mais velha apertou.

  ──── Não precisa se desculpar. Eu entendo de verdade… Você não tem que carregar essa culpa.

  ──── Somos uma equipe, sargento, eu deveria estar lá. É só que… Depois da Andie sumir e o Sal morrer… Ficar em casa assistindo meu irmão falhando em um jogo bobo parece mais seguro… Sinto muito por não ter te ajudado.

Pip respirou fundo, lutando contra o nó que começava a se formar em sua garganta. Não podia estragar tudo agora como fez durante a entrevista com Cairo. Qualquer palavra errada por fuder com tudo.

  ──── Não sinta, Singh. Você não está falhando de forma alguma, é até uma detetive melhor do que eu estava esperando. Sei que está passando por um momento difícil, e… eu estou aqui por você. Você não tem que enfrentar isso sozinha.

Do outro lado da linha, a morena permaneceu em silêncio, mesmo sendo possível escutar sua respiração leve.

  ──── Podemos nos encontrar amanhã para me contar tudo? - Singh perguntou em um sussurro.

  ──── Sim, claro. Já sei o que precisamos fazer, posso te buscar amanhã à noite?

  ──── Um sábado à noite? Vou pelo menos ganhar sorvete?

Amobi sentiu o estômago revirar com a mudança repentina na conversa, e uma leve risada escapou de seus lábios antes que pudesse conter.

  ──── Tudo bem, podemos comprar sorvete - Respondeu, tentando manter o tom casual, mas sentindo o coração acelerar.

Singh riu do outro lado, um som suave e quase tímido, como se estivesse testando os limites.

  ──── Perfeito então, estarei pronta. Gosto de morango, Pippa Fitz-Amobi, pode anotar.

A garota revirou os olhos, mas um sorriso cresceu em seus lábios.

  ──── Boa noite, sargento - Cairo disse por fim.

  ──── Tchau - Ela sussurrou de volta.

Pip desligou, ainda com um sorriso no rosto, o calor persistente no peito. Mesmo nas sombras da depressão, Cairo sempre conseguia encontrar um jeito de deixar tudo um pouco mais leve, e talvez, mais confuso também.

Cairo ficou em silêncio por um longo momento, encarando o teto do quarto. A breve conversa com Pip havia aliviado parte da escuridão que pesava sobre ela, mas a culpa e o cansaço ainda rondavam. Estavam sempre ali ao seu lado, acompanhando-a desde os 8 anos de idade.

Ela sabia que estava numa fase difícil, oscilando entre momentos de isolamento e o desejo de ser próxima de sua parceira, mas havia algo naquela ligação que a fazia sentir um conforto tênue.

O comentário foi quase inconsciente, uma tentativa de se sentir conectada, mesmo que por um instante. No fundo, Cairo se sentia confusa. Havia dias em que sentia como se estivesse puxando Pip para sua própria escuridão, e isso a fazia sentir ainda mais culpada.

Então ela suspirou, rolando na cama de seu irmão, sua mente ainda presa em Amobi, desejando que a leveza daquele comentário fosse suficiente para afastar a escuridão, mesmo que por uma noite.

──

Já haviam terminado de comer as casquinhas de sorvete quando perceberam uma figura solitária passar por um poste de luz na rua. O grande plano de Pip era ficar de tocaia na estação de trem até encontrar Howie Bowers, e era óbvio que traria Cairo com ela.