Capítulo 45

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CECÍLIA

Milão, março de 2023

Depois de virmos para o hotel ontem, não fizemos muita coisa. Os dois estavam muito cansados de passar o dia caminhando.

No entanto, para hoje eu tinha um plano bem importante que precisava ser cumprido...

Já eram 10 da manhã e eu não tinha saído da cama, muito menos tentado agendar esse plano.

Em minha defesa, João também estava deitado, apenas revezando seu olhar entre mim e o teto, e alguma força magnética me puxava para perto dele, impedindo-me de sair daquele colchão.

Decidi pelo menos tentar resolver algo. Peguei meu telefone e abri minha lista de contatos, parando apenas quando encontrei o que procurava.

Cliquei no botão de ligar, torcendo para que ela já estivesse acordada.

Coloquei no viva-voz e fiquei vendo minhas notificações enquanto ninguém atendia.

Ao ouvir o barulho de discagem, João se virou para mim com uma expressão de dúvida e eu só disse que ele já iria entender.

— Ciao, Cecí — ouvi a voz de Gianna no alto falante de repente

— Oi, Gigi!! — eu falei também em italiano, animada — Como você está?

— Deprimidíssima, sabendo que minha melhor amiga está a poucos quilômetros de mim e eu nem a vi

— Só um pouco dramática você, né? — eu brinquei — A gente pode resolver isso... Você tá livre hoje?

— Sim! Quer dizer, eu tenho aulas da pós-graduação agora de manhã, mas quem se importa?

— Doida! Nem pensar, a gente pode se ver no horário de almoço, sem problemas! Só não posso deixar de te ver enquanto estou aqui

— Ah, que fofa! — ela falou — No almoço fica perfeito para mim!

— Você tem algum lugar em mente para ir?

— E se a gente fosse naquela tratoria que a gente foi no seu aniversário daquela vez?

— Meu Deus, sim! Amo aquele lugar.

— Vou ligar para lá para reservar uma mesa. Você tá com o seu gatinho?

Soltei uma risada genuína.

— Sim, Gigi, eu tô! Inclusive ele tá te ouvindo nesse momento, apesar de não entender quase nada

Me virei para olhar meu namorado, que fazia um baita esforço para compreender o que falávamos, mas fracassando na maior parte do tempo.

— Ah, sério? Oi, João — ela disse, gastando o português que eu havia ensinado nos últimos anos

— É comigo, mesmo? — Jão virou animadinho e eu assenti — Ciao, Gianna!

— Como você está? — ela voltou a utilizar o italiano — Traduz para ele, Cecí

Eu ia começar a falar o que ela tinha falado, mas sabia que João já tinha entendido, afinal não era uma frase tão difícil

— Essa eu entendi — ele falou para mim — Bene!

— Tô animada para ver vocês — ela disse — Enfim, amiga, até mais tarde. Estarei lá ao meio-dia, mas agora eu realmente preciso voltar para a aula

— O.k.! Boa aula. Beijinhos, Gigi!

— Beijinhos

Assim que ela desligou, contei para João sobre o que havíamos conversado.

— Você tem algum problema em almoçar com a Gigi hoje? Eu queria muito vê-la, tanto pela saudade, quanto para agradecer a ajuda no trabalho

— Claro que não. Vamos, sim!

— Obrigada — eu abracei-o

JÃO

Estávamos esperando por Gianna em um restaurante que me parecia acolhedor. Era bonitinho.

— Ela vai falar tudo em italiano? — perguntei com medo de, mais uma vez naquela semana, não entender uma palavra do que estavam falando

— Não — Cecília falou me tranquilizando — Combinei com ela de falar inglês para que você nos entendesse

— Ufa — respondi aliviado, enquanto segurava sua mão, brincando com seus anéis

Eu não sabia muito sobre Gianna.

Pelo pouco que eu havia ouvido, ela me parecia um pouco louquinha.
Sua família era de uma cidade pequena na Itália e tinha condições financeiras ótimas. Cecí sempre me mostrava que ela havia comprado algo novo, um traço um pouco consumista.

Gigi tomava algumas decisões meio impulsivas, como Cici mesma dizia. Ela sempre arrumava alguma viagem de última hora, algum namorado de 1 mês, alguma festa aleatória no meio do nada...

Mas parecia alguém divertido de se ter por perto.

Não fiquei preocupado ao conhecer a mãe de Cici, nem seu irmão, porque eles estiveram na minha vida por um tempo incontável.
Mas algo em mim me fazia sentir que Gianna era a parte da família de minha namorada que eu ainda não conhecia e que eu precisava de aprovação. Por isso, queria causar uma boa impressão.

Meus pensamentos foram interrompidos por Cecília desentrelaçando sua mão da minha. Eu levantei o rosto e pude ver um movimento no restaurante.

Gianna se aproximava com um par de botas de caubói beges e um vestido justo rosa, que eu consideraria chamativo. Um óculos de sol prendia seus cabelos, como uma tiara.

— Cecília! Meu Deus, que saudades — ela falou em inglês e abraçou Cici com força

— Nem me fala!

Assim que as duas se soltaram, Gigi virou-se para mim.

— Então, você que é o famoso João?

— Eu mesmo — eu ri

Ela me puxou para um abraço também, mas o nosso foi mais curto do que o das duas.

Voltamos a sentar em seguida. Eu ao lado de Cici e Gianna em sua frente.

— Vocês são uma graça juntinhos! Mal posso esperar para conhecer meu par assim...

— O que aconteceu com o Luca? — minha namorada perguntou

— Ai, terminei! Ele era muito irritante

— Esse aqui também é, de vez em quando — Cecí brincou ao meu respeito, me cutucando — Tem que aprender a lidar...

Nós rimos juntos.

Pedimos o almoço, afinal Gianna tinha um horário limitado de almoço, por ter que trabalhar.

Elas falaram mais do que eu, para falar a verdade, o que foi completamente justo. Colocaram a conversa em dia e Cecí agradeceu muito pelo trabalho que a amiga indicou-a.

De vez em quando, uma pergunta era direcionada para mim. Falei um pouquinho do meu trabalho, sobre meu relacionamento etc.

Foi divertido. Era legal sair da rotina. Conhecer gente nova.

No fim, ela foi uma querida.

Pelo que Cecília me contou, algumas horas depois de irmos embora do restaurante, ela gostou de mim e até pediu para ser madrinha de nosso casamento no futuro, o que me arrancou uma risada.

Acho que deu tudo certo, afinal.

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