Capítulo 3

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JÃO
São Paulo

Eu acordei mais um dia cansado.
Tinha passado mais uma noite em claro.
Fazendo coisas que eu não deveria.
Beijando bocas que eu não queria.
E escrevendo músicas que descreviam toda a euforia que eu sentia.

Desde que tudo acabou com o Pedro tem sido assim.

Ele era minha bússola.
Me guiava pelo caminho certo.
Agora eu pareço um navio sem rumo. Um pirata libertino.

Desde que ele terminou comigo, minha inspiração tem ido embora pouco a pouco e  tento achar o máximo de liberdade todos os dias para me sentir mais vivo. Tento achar algo novo para amar.

Escuto meu celular tocando e vejo o nome de minha mãe na tela.
Foi reconfortante. Seria bom falar com ela.
Atendi logo.

— Oi, filho! Tudo bem? Como estão as coisas por aí? Muita correria para o lançamento do álbum novo?

Tinha esquecido que tinha falado para a minha mãe que queria lançar um álbum em breve.
Na verdade, se eu tinha 4 músicas prontas já eram muitas.
Mas meu último havia sido lançado há quase 3 anos.
Precisava de algo novo.

— Tudo sim, mãe. Só trabalhando mesmo — menti

— Escuta, deixa eu te perguntar, você lembra da Cecília filha da Rita? Irmã do seu melhor amigo. Aquela que você tava sempre de casinho — nem precisavam de tantos detalhes, eu lembrava, claro, como esquecer? Antes que eu respondesse isso, ela continuou falando — Filho, ela voltou da Itália faz uns meses e agora está formada em moda. Eu só consegui lembrar de você reclamando dizendo que queria ter um estilo próprio igual esses artistas pop lá da gringa... por que você não chama ela para trabalhar com você?

— Ah, que legal que ela se formou... Sobre o trabalho, eu não sei não, viu, mãe? Faz um tempão que eu não falo com ela

— Ué, então usa essa chance para se reaproximar. Poxa, o Arthur é tão seu amigo. Com certeza ele ficaria muito feliz se você arrumasse um emprego pra irmã dele — quando ela disse isso, eu percebi que não era só uma sugestão. Se eu não fizesse o que ela estava pedindo, ela nunca mais me daria paz

— Vou pensar sobre — falei e deixei o silêncio pairar sobre a ligação — depois me passa o contato dela que eu falo com a equipe

— Ah, que ótimo, filho! Você é mesmo demais! Te amo muito

— Também te amo, mãe! Saudades de você

— Você nem imagina o quanto, filho! Venha logo nos ver. Se precisar de alguma coisa me liga, viu? Preciso ir agora, a porque eu e seu pai vamos sair. Beijos

— Tudo bem! Um beijo

Vejo que logo após desligar a ligação minha mãe manda não só o número de telefone de Cecí como também seu Instagram.
Eu entro nele e vejo suas publicações. Algumas fotos dela, outras do pôr do Sol — que ela sempre amou tanto —, outras de suas criações — que devo admitir que são maravilhosas — e mais algumas sobre arte num geral.
Ela continua a mesma.

A mesma pela qual eu me apaixonei antes de vir para São Paulo.

Isso tinha 99,9% de chances de dar errado.
E era exatamente o que eu precisava.

Algo que me trouxesse de volta aquele Jão de antes.

Enviei seu contato para Pedro com uma mensagem: "Uma amiga minha de infância que agora está trabalhando com moda. Boa opção para estilista, né?"

Ele respondeu minutos depois com: "Vou agendar uma entrevista."

Se tudo desse tão errado, pelo menos renderia mais umas músicas.

Rádio | JÃOWhere stories live. Discover now