Capítulo 9

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CECÍLIA

Ele simplesmente decretou o nome do álbum e, em seguida, chamou o garçom, como se não tivesse feito nada demais.
Eu fiquei boquiaberta por uns 15 segundos e nem consegui pedir nada para o homem que nos atendia.

Pelo resto das vezes que eu tentava pedir explicações sobre o que ele tinha acabado de dizer ele mudava de assunto e seguia o almoço.
No final, deixei isso de lado também e a partir daí ficou tudo muito divertido.
Rimos muito e voltamos para o escritório duas horas depois com um sorriso de orelha a orelha.

...

Esses almoços continuaram ao menos uma vez por semana.

A gente falava sobre trabalho, amizades, festas e sobre a vida, no geral.

Desde que eu deixei a Europa e voltei para o Brasil eu não tinha mais ninguém para conversar sobre a vida. Lá fora eu conheci a Gianna, que virou uma irmã para mim, mas ela estava tão distante que não sei se faria sentido atrapalha-la com minha vidinha.
E, enquanto isso, aqui no Brasil já estavam todos os grupos formados, o curso quase acabado.
Eu tinha até medo de não ter contatos suficientes aqui no país para arrumar um emprego, já que a moda cobra essas relações com gente importante desse nicho.
Acabei ficando meio solitária.
Sempre tinha como encontrar alguém para fazer dupla ou grupos, mas ninguém que eu realmente confiasse.
E aí, como se uma estrela tivesse — de modo atrasado — atendido todos os pedidos da Cecília de 16 anos, que implorava por recomeçar com João, ele voltou para a minha vida.

Era difícil dizer que eu realmente não sentia nada por ele.
Só de olhar em seu olho eu já ficava meio perdidinha.
Talvez seja algo do passado voltando. Talvez seja só tontura. Talvez seja uma daquelas paixonites bestas que passa em 2 dias. Talvez seja só porque ele é lindo.
João sempre foi aquele tipo de pessoa tão legal que hipnotiza todos a sua volta.

Mas eu não queria me deixar levar e mudar as coisas.
Acredito de verdade que a gente pode ser muito amigo e que esses sentimentos estranhos que eu venho tendo possam passar conforme a nossa relação melhora.

Até porque finalmente tudo na minha vida tá dando certo.
É maravilhoso ter tudo isso.
Pessoas incríveis na equipe, tudo fluindo, literalmente o trabalho dos sonhos.

Agora falta tão pouco para o lançamento. Temos apenas 3 meses para preparar tudo. Últimas músicas. Gravação do trailer. Entrevistas para divulgação.
Todos começaram a ser cobrados, o que me incluía.

Pedro chegou no escritório na segunda-feira quase me implorando para ter ao menos duas roupas prontas para a semana que vem.
Eu teria que correr MUITO, já que não tinha nem mesmo as medidas do Jão.

Corri para seu escritório e bati na porta

— Já tá na hora do almoço? — ele perguntou

— Não — eu ri — Eu queria saber se você tem um tempinho livre hoje a tarde. Preciso tirar suas medidas pra começar a trabalhar nas roupas em si

— Ah, claro! Pode ser umas três e meia? Eu tenho meia hora livre. Acha que dá tempo?

— Acho que sim

— O.k., então até mais tarde

— Até — eu fechei a porta com um sorrisinho no rosto.

...

Às 15:27 Jão entrou na sala que me deram no escritório (meio provisoriamente, porque eu provavelmente vou costurar da minha casa mesmo. Eu definitivamente precisava de um ateliê).

— Oi! — Ele disse

— Oi! — eu respondi enquanto pegava a fita métrica, um caderninho e um lápis — Posso? — pedi indicando que ia começar as medições

— À vontade, madame

Essa era uma das partes mais fáceis do processo de criação. Eu já tinha bastante prática, então fui fazendo tudo bem rapidinho.

Eu estava quase acabando. Faltava só sua cintura.
Quando a medi, percebi que tinha me aproximado mais dele do que eu imaginava.
Eu inclinei a cabeça para olhar seu rosto e senti sua face a pouquíssimos centímetros da minha. Um movimento descuidado e sua boca tocaria na minha.

Eu não me afastei, porém. Nem ele.

Não é como se eu não quisesse me distanciar. Eu não tinha como.
Alguma força magnética muito mais forte do que eu me mantinha quase colada a ele.

Nos encaramos por bons segundos, apenas ouvindo a respiração um do outro.

Eu estava prestes a me afastar, achando que estava passando vergonha ali, quando ele se aproximou ainda mais selando nossos lábios.
Foi um beijo delicado.
Ele foi aprofundando e eu só retribuía, não pensando em literalmente nada além daquele momento. Se minha vida ia virar de cabeça pra baixo, que virasse em qualquer outro instante, não naquele.

Ele me beijava com saudade. Como se quisesse me prender ali para sempre.
Foi a melhor sensação que eu já tive.

No entanto, infelizmente — ou talvez felizmente — ele não durou muito. Alguém bateu na porta, o que fez com que nos afastássemos rapidamente.

— Jão, você ta aí? — era Renan — Areunião já vai começar

Jão olhou para mim como se quisesse que nunca tivéssemos ouvido aquele toque na porta.

— Oi, tô aqui sim. Me dá um minuto que eu já to indo.

— O.k. — ouvimos os passos se afastando

— Eu sinto muito por isso, Cecí — ele disse e eu não sabia se ele falava pela interrupção ou do beijo em si

— Tudo bem, vai lá pra reunião — eu sorri de um jeito tão forçado que tenho certeza que ele percebeu que não era algo genuíno

— Eu preciso mesmo ir — ele disse caminhando até a porta — Mas a gente pode conversar depois — eu só assenti

Ele acenou e saiu da sala.

——
nota:
oii,
pra compensar a demora, aí um capítulo meio longo :)
espero que vocês tenham gostado
se quiserem deixar sugestões ou só comentários aleatórios, fiquem a vontade

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