Capítulo 5

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CECÍLIA

Ele mudou tanto e ao mesmo tempo continuou o mesmo.
Continuava lindo, como sempre.
Eu odiava admitir, mas sentia sua falta.

— Oi, Lia — ele me chamou pelo apelido que só ele usava

— Oi, João — eu respondi esboçando um sorrisinho

— Bom, podemos começar? — Pedro falou, fazendo com que meu contato breve com Jão acabasse
Ele parecia levemente irritado com minha presença ali.

.....

JÃO

Ela continuava linda.
E sua voz era tão calminha. Me lembrava da nossa adolescência.

A entrevista correu bem. O trabalho que ela expunha naquele portfólio era simplesmente maravilhoso e eu queria que ela começasse o quanto antes.

Assim que ela saiu da sala eu falei:

— Quero muito ela no time

— Eu acho que ela merece a vaga mesmo — Renan concordou

Pedro acabou por concordar porque também gostou muito do trabalho da garota:

— Vou ligar para ela mais tarde para dar a notícia então

Continuamos então com a produção do álbum até a noite.

.....

CECÍLIA

Assim que deixei o escritório fui tomar um café e cheguei em casa uma hora depois.

Eu mal havia pisado em casa quando notei que meu celular vibrava com uma ligação.
Era o produtor de Jão, Pedro.
Fiquei instantaneamente ansiosa e não sabia nem se atendia. Aquilo podia mudar minha vida.

Clico em aceitar chamada e Pedro não se tarda muito em me contar todas as notícias.
EU FUI APROVADA!

Ele me passa algumas informações sobre o início do trabalho e tudo mais, mas minha cabeça já girava tanto que nem estou certa de que ouvi tudo.

Desligo a chamada e ligo para minha mãe. Ela ficou tão animada que só faltou entrar pela tela do celular para me dar um abraço.

Eu sei que começaria na segunda-feira, então teria três dias para me preparar, o que me deixou aliviada e ao mesmo tempo preocupada.
Criar a imagem pessoal de alguém envolve muito mais do que achar roupas bonitas. Tem que envolver a personalidade. É a partir dela que você mostra quem você é para o mundo. Um pequeno ajuste e você pode sair de "pessoa simpática" para "cara de metido".

Eu costumava saber muito do João, mas não sei nada do "Jão".
Muito tempo se passou. Muita coisa mudou. Se eu queria começar com o pé direito então precisava conhecer quem ele era hoje.
Não sabia se sua vida permanecia a mesma de quando ele escreveu Anti-Herói, mas algo me fez sentir que eu deveria ouvir o álbum por completo para iniciar uma pesquisa mais aprofundada.

Ouvi músicas lindas. Canções de amor, de sentimentos muito reais, de loucuras e sofrimento.
Eu havia ouvido 6 delas até chegar em uma que me chamou muita atenção: Você Vai Me Destruir.
João falava de um romance que parecia não correspondido, alguém que parecia brincar com seus sentimentos.
No entanto, um ponto me chamou muita atenção. Ele citava uma cidade pequena.

São Paulo podia ser muita coisa, mas não era nem um pouco pequena.

Ele estava falando de Américo Brasiliense?

Será que ele tinha outro amor lá? Será que a música era para mim? Será que ele se sentia assim mesmo?
Eu nunca brincaria com os sentimentos de ninguém.

Pensando muito a fundo, posso até ter ficado confusa na época, porque ele era incrível, mas havia toda a situação com o meu irmão. Além disso ele era mais velho e já estava indo para São Paulo. Eu não queria o prender a mim e ele não queria me prender a ele.

Não consigo parar de pensar nisso.

Desligo o aplicativo de música e deito na cama com a cabeça rodando com mais de um bilhão de dúvidas que tinham pouquíssimas chances de serem solucionadas.

Decido tomar um banho e deitar para dormir — o que não consigo fazer de jeito nenhum. Então fico acordada, olhando pela janela e me revirando na cama.

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