Capítulo 20

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CECÍLIA

A noite, faltando menos de uma hora para o lançamento, abri meu celular e percebi que o pessoal tinha me mandado um monte mensagens perguntando se eu não iria para a reunião

Fran (19:56)
Cecília do céu, cadê vc ? Vai perder o lançamento do ano ? COOOOORRE GAROTA 🏃‍♀️🏃‍♀️

Pedro Tófani (20:05)
Oi, Cecí, tá tudo bem? Você vem hoje?

Malu 💕 (20:12)
amiga, cadê você? já tá todo mundo aqui
o Jão ta todo mal tbm... qq tá acontecendo hj?

Apesar de não ter pique para responder nenhuma daquelas mensagens, decidi pelo menos avisar Malu que não ia

Malu 💕

Oii amg!
(20:16)

Passei um pouco mal hoje mais cedo
e não vou conseguir ir 🥺
(20:16)

Manda um beijo pra tds aí!
(20:17)

já ouvi esse papinho antes...
(20:19)

Fechei o celular, porque se eu conhecia bem minha amiga, sabia que ela faria de tudo para tirar qualquer informação de mim e eu não estava nada bem para responder nenhuma pergunta.

Voltei a dar play em The Office, que era o que me mantinha felizinha no meu mundinho, mas não consegui acabar nem aquele episódio antes de ouvir a campainha tocar.

Não estava esperando nada e duvidava que fosse qualquer pessoa da equipe vindo me buscar, porque tinha certeza que minha amiga já tinha espalhado a notícia de minha "doença".

Quando abri a porta, porém, me surpreendi com a presença de Malu ali.

– Oi gatinha! – ela disse já entrando em meu apartamento sem fazer muita cerimônia – Nem precisa fechar a porta, porque já já a Maris tá aí – ela me abraçou — Ah, e eu pedi pizza

– Como você fez para o porteiro te deixar subir assim?

– Ah, ele me conhece... Agora, vai, me conta tudo. Eu sei que essa doença não é verdade. O que rolou?

– Senta aqui – eu apontei para o lugar ao meu lado no sofá – Eu tinha algo com o Jão... Um rolinho. A gente ficava de vez em quando – no caso, sempre

– Pera, para tudo. Vocês ficavam? Tipo um amor de sexta-feira — ela parecia ligar pontos em sua cabeça — MENTIRA! Amor Pirata é pra você?

– Segundo ele, sim – eu disse meio triste lembrando dessa manhã

– EU SABIA! – ela disse comemorando, mas assim que olhou para a minha cara triste parou – Mas o que aconteceu? Vocês brigaram?

– Ele quer algo sério. E eu não sei o que me deu. Toda a memória que eu tinha da nossa adolescência voltou e eu só surtei. Eu fui embora

– Memória do que? Vocês já se conheciam, né? Os dois de Américo Brasiliense

– A gente quase namorou – ela fez uma cara de choque – Mas quando deu o tempo de ele ir pra São Paulo, ele me avisou 2 dias antes de partir e só foi embora. Eu fiquei muito mal

– Ai meu Deus

– Mas não era para isso me impedir de ser feliz agora, Malu. Eu o amo. E agora eu só fui uma maluca e joguei tudo pro ar, num dos dias mais importantes da vida dele

– Pode parecer na sua cabeça que você foi louca, mas eu te garanto que é compreensível. Ainda mais sabendo do que rolou no passado. Tá tudo bem, Cecí. Respira fundo. Toma o seu tempo

Ela me abraçou

– Então agora não tem mais nada entre vocês?

– Eu não tenho ideia – resmunguei

Minutos depois Marina chegou e nós fomos comer pizza na mesinha de centro da sala. Eu expliquei toda a situação para ela, assim como tinha feito com Malu minutos antes.

– O álbum vai ser lançado em alguns minutinhos. Cecí, você se sente bem em ouvir?

– Acho que sim. Uma hora ou outra eu vou ter que ouvir, né?

Abri o Spotify assim que deu o horário e reproduzi a tela na minha TV. A lista de nome das músicas já havia sido divulgada e eu sabia que aquela que Jão tinha me mostrado a letra tempos atrás — chamada Clarão — havia entrado. Foi muito bom saber disso.

Colocamos na ordem original e quando demos o play.

Apesar de tudo que eu passava, eu não podia deixar de notar o quão incrível aquilo ali era. O Jão sabia transformar músicas em sentimentos — e vice-versa.

Dava vontade de dançar, sair correndo, pegar o carro e acelerar em direção à alguma praia. Era mágico.

Clarão acabou e uma música chamada Não Te Amo começou. Parecia uma música normal sobre o fim de algo importante, até o verso "me lembro do dragão nas suas costas na minha cama" ser citado.
Era mais do que uma música pra mim. Era parte da nossa história.
Eu prestei ainda mais atenção em cada palavra a partir daí.

Relembrando dos versos anteriores, fiz conexões rápidas e lembrei do dia em que ele me ligou bêbado. Aquilo ali era com certeza pra mim.

— Gente, para tudo! — Malu falou surtando — Cecília! O dragão! O dragão das suas costas

— Como é? — berrou Marina

— Ei, sh! Eu quero ouvir — tentei fugir do assunto, mandando-as se calarem, mas Malu foi rápida em pausar a música

– Isso aí é pra você!

Eu ri um pouco melancólica, mas logo pedi para que voltássemos a ouvir o álbum, porque eu estava curiosa com o resto. Elas só concordaram.

A próxima música se chamava Idiota.

Da primeira vez que eu li o título eu deduzi que fosse sobre algum ex amor, com o qual ele fez alguma idiotice.

Mas então a música começou.

Eu fiquei paralisada durante ela toda. Era a coisa mais bonita que eu já tinha ouvido.

— Será que é pra mim? — perguntei com medo do que elas responderiam, porque eu queria muito que a resposta fosse sim

— Você tem alguma dúvida? Ele tá caidinho por você — Malu concordou, o que me alegrou muito, já que ela conhecia ele bem

Eu tentei processar essa informação, juro que tentei. Mas minha cabeça girava e girava.

Eu não podia acreditar que tinha jogado aquilo fora.

Eu estava maluca. Completamente fora de mim.

Eu precisava consertar aquilo. O mais rápido possível

— Meninas, com licença. Fiquem a vontade. Eu já devo voltar — eu falei me levantando e indo pegar a chave do meu carro

— Você ta doida? Onde você vai? — Malu disse

— Preciso resolver uma coisa — eu falei e fechei a porta

Consegui ouvir Marina e Malu criando teorias sobre o que eu faria, mas eu não me importava se elas pensassem em algo errado.

Eu só pensava que precisava falar com ele.

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