Capítulo 33

196 41 6
                                    

CECÍLIA

São Paulo, 11 de novembro de 2022
Despedida da Turnê Pirata

— Beleza, gente, quando o Jão acabar de cantar Idiota a gente entra no palco e joga isso aqui nele — Gio disse pegando um pacote de bebida na mão

Era o último show da turnê Pirata no Espaço Unimed, em São Paulo. Estávamos ouvindo Jão cantar Olhos Vermelhos, a penúltima da setlist. O plano era simples: reunir as pessoas (equipe, banda, família...) que ele amava naquele palco.

— Os pais dele já estão lá do outro lado... eles vão entrar por aquele lado do backstage e vocês podem entrar por aqui — ela voltou a falar — Só queria aproveitar para agradecer todos vocês. Obrigada por esse ano! Curtam a noite

Depois de sua fala, Gio entregou uma lata de cerveja para cada um.

Jão curtia no palco com seu conjunto de calça e colete rosa — um dos meus trabalhos favoritos. Era tão encantador ver aquilo que não dava para notar o tempo passar.

Quando Olhos Vermelhos acabou, todos nos escondemos, porque achávamos que ele iria para a área em que estávamos para se secar um pouco antes de tocar Idiota, como sempre, mas ele permaneceu no palco.

— São Paulo! Que noite linda! Eu queria agradecer vocês pela Turnê, por todas as vezes que eu cantei aqui. Foi mágico — a equipe se entreolhava perguntando-se se aquilo tinha sido combinado — Essa última música é muito especial para mim... Como vocês sabem, Pirata é sobre liberdade. É sobre várias formas de expressar ela. Porque as letras começaram com euforia. Começaram com um Jão perdido, um Jão que passava noites acordado, provando de tudo um pouco, tentando se achar nessa imensidão. Mas, conforme o álbum avançou, minha vida virou de cabeça para baixo. E uma pessoa... Uma pessoa muito especial, voltou para ela — ele disse o que me deixou emocionada — E foi aí que Pirata se tornou um novo álbum. Um álbum de recordações de memórias antigas, muitas vezes misturadas com novas. Eu amei ter esse sentimento. E espero que vocês tenham sentido esse disco dentro do próprio coração de vocês e que, assim como eu, consigam amar como idiotas um dia — ele olhou para o backstage, bem para onde eu estava — Essa é pra você.

Ele começou a cantar a última música e a equipe se olhava totalmente muda, tentando descobrir se ele olhava realmente para mim ou alguma outra pessoa ali perto.

Em pouco tempo esse dilema não importava mais, porque era hora de se despedir de São Paulo e comemorar com João esse momento de finalização.

Na última estrofe de Idiota, os pais e a irmã de João entraram no palco e começaram a encharca-lo com cerveja. Em seguida, vi Pedro, Malu e Renan entrando e os segui.

Quando Jão me viu, ele correu até mim. Ele me deu o mesmo abraço forte de todas as vezes.

João se afastou do abraço, colocou sua mão em minha bochecha e se aproximou rapidamente de mim, selando nossos lábios.

E aí, foi como um flashback do Rock in Rio, só que daquela vez  em frente a centenas de pessoas.

Eu nunca fui de me expor. Acho que, se fosse qualquer outra pessoa tendo qualquer tipo de contato físico comigo daquele tipo em frente aquela multidão, eu me afastaria sem hesitar.

Mas Jão tinha aquele efeito magnético em mim. Ele me fazia esquecer dos problemas. Do futuro. Então, ali, naquele momento, a única certeza que eu tinha era de nós dois.

Quando nos afastamos, eu pude ver João sorrir de orelha a orelha para mim enquanto ouvia os fãs gritarem histéricos. A banda e toda a equipe fazia cara de choque e a família de meu namorado pulava de alegria.

Mais cerveja foi derramada. Dessa vez em cima de nós dois. João me abraçou de lado e acenou para os fãs.

Ele se soltou de mim por alguns minutos para procurar por quem não tínhamos tido tempo de chamar — pessoal de iluminação, som etc. Nesse meio tempo Cat e Carlos, meus sogros, me abraçaram.

— Muito obrigado! Obrigado para toda essa equipe maravilhosa! Obrigado por vocês, fãs, que permitiram que a gente tornasse esse sonho em realidade. Eu amo vocês! E a gente se vê logo, logo! — foi tudo o que ele disse no microfone quando voltou ao centro palco

Em seguida ele deu um abraço coletivo em toda a equipe e deixou o palco abraçado comigo e sua família.

Eu não sabia o que falar. Só sabia que tinha um novo tipo de felicidade imensa a minha volta. O ar era mais leve, o cheiro era mais doce e as cores mais vibrantes.
E eu estava onde deveria estar.

Rádio | JÃOWhere stories live. Discover now