49. A vez em que um jovem órfão adentrou uma câmara misteriosa

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Ostende mihi!

Tão logo pronunciei aquelas palavras, o retrato de Babylon se iluminou e deixou transparecer a mesma passagem secreta que havíamos utilizado na primeira vez em que estivéramos ali. Entramos em silêncio, atentos, sem saber o que nos esperava do outro lado. Notei que Órion, apoiado sobre os meus ombros, estava calmo, um sinal de que talvez não corrêssemos perigo, pelo menos não por enquanto. Mesmo assim, não baixei minha guarda e me mantive a postos, pronto para utilizar a minha magia caso ela se fizesse necessária.

— Esse lugar tá meio diferente, não tá? — Ian comentou, observando o espaço ao nosso redor.

De fato, na primeira vez que entramos ali, o cômodo parecia um lugar abandonado, há muito tempo sem uso. Agora, porém, estava limpo e organizado, iluminado por uma luz quente e difusa, vinda de um castiçal imponente no teto, clara apenas o suficiente para enxergarmos a mobília que se encontrava disposta no espaço.

— Eram essas as caixas que vocês estavam procurando? — perguntou Roman, apontando para as paredes laterais.

Olhei na direção que o jovem vampiro indicara e encontrei as mesmas caixas de transporte que havíamos visto anteriormente. Porém, agora, uma grande diferença podia ser percebida logo de cara: elas não estavam mais abertas, havia tampas cobrindo cada um dos caixões.

Fui até a caixa de transporte que estava mais perto de mim e passei os dedos sobre a estrutura de madeira maciça, sentindo um arrepio subir pela minha espinha assim que toquei o objeto.

— Acho melhor a gente se dividir e começar a procurar por alguma pista, rápido — opinou Ian, apreensivo. — As luzes já estavam acesas quando chegamos. Esse lugar não está mais tão abandonado quanto antes. É capaz de aparecer alguém aqui a qualquer momento.

Acatando a sugestão do meu namorado, começamos a fazer uma varredura daquela câmara. Nós observávamos cuidadosamente todos os móveis, teto e paredes, fotografando com nossos telefones celulares qualquer detalhe que chamasse a atenção e enviando as imagens imediatamente para o grupo no qual estavam Benjamin e os demais. Gastamos cerca de quinze minutos naquela tarefa, mas não encontramos nada que parecesse uma pista de fato, era apenas a mesma decoração extravagante do restante do castelo que havia sido reproduzida ali dentro.

— Você achou a imagem que tinha visto da primeira vez? — Roman perguntou, ao meu lado.

— Não, ela tava gravada por dentro do caixão, nos fundos — expliquei. — Eles estavam abertos da outra vez...

— Vamos ter que tirar a tampa de uma dessas caixas então — opinou Ian, contrariado. — Tivemos o maior trabalho pra chegar até aqui, não podemos voltar de mãos abanando! Vem cá, Roman, me ajuda por favor, isso parece pesado...

O caixão escolhido por eles estava de pé, levemente inclinado para trás e apoiado na parede à nossa esquerda. Ian e Roman seguraram a tampa, um de cada lado, enquanto eu esperava em frente à caixa com meu celular em mãos, pronto para tirar a foto do brasão misterioso. Seria mentira se eu dissesse que não estava apavorado com a ideia de descobrir o que havia ali dentro, mas eu apenas torcia para que os caixotes de transporte continuassem vazios, assim como estiveram antes.

O vampiro e o lobo precisaram fazer uma força considerável, mas, após algumas tentativas, a tampa pesada finalmente se movimentou e eu consegui ter um vislumbre do interior do caixão. E, correspondendo ao meu maior temor, ele estava mesmo ocupado.

— O que é isso aqui dentro? — perguntei, assustado, tirando uma foto atrás da outra e apertando o botão de encaminhar imediatamente.

Diante de nós, havia um corpo seco, escuro, retorcido, parecendo uma daquelas múmias que eu já vira em documentários sobre o antigo Egito. A criatura, que ainda guardava algumas feições humanas apesar de ser praticamente pele e ossos, estava de olhos fechados e tinha os braços cruzados sobre o peito.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin