41. A vez em que uma loba dourada se viu em meio a sangue e caos

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[AVISO DE GATILHO: violência física e mutilação].


O que eu fazia naquele momento estava longe de ser uma boa ideia. Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes meus amigos e aliados tinham me dito para desistir de ir atrás de Lavínia e Navalha em busca de vingança pela morte do meu pai. Inara tinha até mesmo me transmitido uma mensagem diretamente dos espíritos superiores, repetindo a mesma coisa. O que mais eu precisaria para finalmente entender?

O fato é que, mesmo recebendo todos os inúmeros avisos, os instintos de justiça da minha loba acabaram, mais uma vez, sendo mais fortes que a minha razão; e cá estava eu, atravessando o campo de batalha no meio de uma guerra, tentando localizar os meus alvos, sem conseguir pensar em mais nada. Eu tinha me aproveitado de um momento em que todos ao meu redor estavam concentrados, assistindo ao ataque das gárgulas, para me afastar discretamente do elevado onde nos agrupamos sem que ninguém me visse ou tentasse me impedir. E, até o momento, aquilo tinha funcionado.

O meu plano era bastante simples: eu iria aproveitar a confusão causada por aqueles vampiros voadores e também o fato de Lavínia estar com o braço ferido para atacá-la de surpresa e dar um fim nela o mais rápido possível, num duelo um contra um, antes que a loba pudesse pedir ajuda. "Rápido e efetivo", eu repetia para mim mesma. "Vai dar certo. Precisa dar certo".

Depois de atravessar a planície inteira sem ser notada ou atacada por uma gárgula, finalmente reparei num grupo de lobisomens, mais afastado dos demais, lutando com alguma criatura que eu deduzi ser um vampiro. De onde eu estava, não era possível ver o que acontecia com muita clareza, mas tive certeza de que havia humanos montados a cavalo logo atrás daqueles lobos, e eu sabia muito bem quem costumava se locomover de tal forma.

Fui me aproximando com cautela, aproveitando alguns arbustos que existiam por ali para me esconder, até finalmente notar que uma das pessoas a cavalo era, de fato, Navalha. A outra criatura, responsável por toda aquela confusão, era o tal vampiro almofadinha de nome difícil, o conselheiro do Vampiro Rei. Não vi sinal algum de Lavínia porém, e finalmente fiquei em dúvida se deveria continuar procurando por ela ou se esperava para ver o que aconteceria com Navalha.

"Talvez ela esteja tentando fugir", ponderei. "Melhor ir logo atrás dela antes que seja tarde demais. Eu vi duas pessoas a cavalo agorinha mesmo, a outra só podia ser a Lavínia, e ela não deve ter conseguido ir muito longe...".

Antes que eu pudesse me mover, no entanto, reparei que o cavalo de Navalha tinha saído de onde ele estivera esse tempo todo, logo atrás de seu dono, e vinha agora trotando decidido, exatamente no rumo do arbusto que eu estava usando para me esconder.

"Mas que droga é essa?", me perguntei, confusa. "Vou mostrar os dentes e rosnar quando ele chegar mais perto, isso deve ser o suficiente pra espantar esse bicho daqui antes que alguém me veja", eu decidi, ainda surpresa com o comportamento do animal.

Para o meu espanto, porém, o cavalo não se abalou nem um pouco com o meu rosnado. Pelo contrário, ele bateu os cascos da frente com força no chão, sem hesitar, como se estivesse me desafiando.

Mas que diabos você quer comigo, cavalo chato? — pensei, indignada.

Eu só não contava que ele fosse mesmo me responder.

Eu só quero que você crie um pouco de juízo nessa sua cabeça oca, sua teimosa irresponsável! — ele retrucou relinchando, mas de uma maneira que eu conseguia entender perfeitamente.

"Espera um pouco...", pensei. "Eu conheço muito bem esse tom de voz e esse jeito de falar...".

Davi? É você? — arrisquei, confusa, usando a conexão telepática dos lobos.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Where stories live. Discover now