9. A vez em que um jovem órfão invadiu uma base inimiga

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Nadei em direção à margem mais próxima o mais rápido que consegui. Eu não sentia dor e sabia que não tinha me ferido, graças a Eugene, que agira rápido e me arremessara para longe da explosão. No entanto, eu não fazia nem ideia de onde os três irmãos vampiros estavam, ou, pior ainda, se os responsáveis pela armadilha que quase tinha me matado estavam por perto. Cheguei à conclusão de que o melhor que eu poderia fazer era me esconder até ter certeza de que não corria perigo e, depois daquilo, tentar descobrir o que acontecera com os meus parceiros de missão.

Tão logo cheguei à margem, me dirigi à mata, procurando não ficar tão exposto. Eu temia que houvesse lobos ali por perto e, se isso fosse mesmo verdade, faria o possível para que eles não me localizassem tão facilmente. Para minha sorte, encontrei uma árvore enorme, que tinha uma rachadura em seu tronco, grande o suficiente para eu me enfiar pela cavidade e conseguir me abrigar em seu interior. Tão logo eu entrei no meu esconderijo improvisado, pude ouvir uivos e sons de movimentação na vegetação ao meu redor, o que me fez prender a respiração imediatamente, com medo de ser localizado.

Eu sabia que era questão de tempo até os lobos da Caçada Voraz conseguirem me farejar com o seu olfato aprimorado, então eu precisaria evitar aquilo de alguma forma, e rápido. Encostei minhas mãos na parte de dentro do tronco da árvore e me concentrei, tentando ativar minha magia mais uma vez, tal qual eu fizera na cerimônia de inauguração do polo industrial. A energia ressoou em meu peito, mas não tão intensamente quanto horas atrás; pelo visto, as pulseiras não tinham sido completamente inutilizadas e ainda estavam atrapalhando a ação dos poderes do cernuno. Porém, eu não tinha outra escolha a não ser torcer para que aquela força débil que eu estava conseguindo movimentar fosse o suficiente para me tirar daquela situação de perigo.

— Árvore centenária — sussurrei baixinho, com os olhos fechados e meus lábios próximos à madeira, improvisando uma prece. — Seu guardião pede licença para adentrar sua morada. Que os seres dessa mata me deixem passar e me ajudem em minha missão. Empreste-me um pouco do seu aroma e impeça que os olhos dos inimigos me encontrem.

Senti a energia da mata ressoar na palma da minha mão, como se naquela árvore houvesse de fato um coração vivo, pulsando. A magia da floresta respondera ao chamado do cernuno e, agora, pequenos feixes de energia natural se moviam pelo ar, como se fossem ramas, e me envolviam cuidadosamente, ocultando meu cheiro e camuflando o meu corpo. Permaneci imóvel e deixei que minha mente se unisse àquela grande rede viva, que se estendia como raízes, conectando todos os quilômetros de vegetação que compunham a floresta e fazendo de todos nós um único e imenso organismo, ressoando magia natural.

Com os olhos da floresta, consegui perceber que os lobos haviam desistido de procurar por mim e pelos vampiros na região onde nosso barco explodira, e que, agora, estavam seguindo a direção da correnteza do rio, continuando sua caçada e buscando por qualquer sinal de que havíamos passado por ali. Para meu alívio, também fui capaz de localizar a magia de sangue dos três vampiros, bem diferente de tudo o que havia naquela mata, o que indicava que eles ainda estavam vivos e bem perto de mim. Astutamente, os três haviam se abrigado no topo de uma árvore altíssima, longe do chão e fora do alcance dos lobos, e, por sorte, pareciam não ter se afastado mais de duzentos metros de mim, evitando, dessa forma, que as braçadeiras enviassem um alerta a Alphaeos.

Com facilidade, consegui traçar uma rota segura, que permitiria que nos afastássemos dos nossos inimigos ao mesmo tempo em que continuávamos avançando em direção à base da Caçada Voraz, que já não estava mais tão distante assim.

Tão logo tive certeza de que os lobos já haviam mesmo se afastado e não poderiam me ouvir, agradeci à árvore e saí do seu interior, correndo em direção a onde os três vampiros estavam escondidos. Chegando no local, encostei no tronco e os chamei, tentando não fazer muito barulho.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora