7. A vez em que um jovem órfão se envolveu com a política

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— De jeito nenhum — respondeu Alphaeos, sem nem pensar duas vezes, após ouvir a proposta de Vlad de me levar até o evento de inauguração do polo industrial no Amazonas. — O Davi deve permanecer aqui, pronto para atender ao príncipe Leocaster.

— É uma viagem rápida, senhor — Vlad argumentou. — Estaremos de volta em menos de 48 horas.

— Não importa, é muito longe da nossa base e de onde estão concentrados a maior parte dos nossos guerreiros de elite — Alphaeos rebateu. — E, caso vocês não se lembrem, há um território de lobos naquela região. Se perceberem que enviamos vampiros até lá, podem querer aprontar alguma coisa.

— Com todo respeito, senhor, eu não entendo o que os lobos ganhariam fazendo isso — Vlad pontuou. — O tal Navalha pareceu ter deixado claro que o problema dele é com nosso rei e com nosso príncipe, e não com o Davi. E a publicidade de um evento dessa magnitude seria extremamente benéfica para a nossa empresa.

— É só mandarmos um representante então — Alphaeos interrompeu, sem paciência. — Diremos que o Davi ficou doente e não pôde comparecer. Pronto, problema resolvido.

— Mas senhor...

— Basta, Vlad! Assunto encerrado, já falei! O Davi não vai sair daqui. Agora, se vocês me dão licença, tenho outras coisas a resolver.

Após dizer aquilo, o vampiro mais velho saiu do meu quarto sem sequer olhar na minha direção.

"E agora, como faremos?" — escrevi num pedaço de papel que estava sobre a mesa diante de mim, sabendo que os irmãos vampiros o leriam com facilidade.

Os três apenas me encararam cabisbaixos, com cara de derrotados.

"Não me digam que já estão pensando em desistir???" — escrevi, incomodado com aquele pessimismo todo.

Os três se entreolharam e deram de ombros, provavelmente sem nenhuma ideia para nos tirar daquele beco sem saída em que nos encontrávamos. Mas eu não podia deixar as coisas acabarem daquela forma, não mesmo. Sim, eu queria muito ajudar Tatianna, mas, para além daquilo, também precisava provar a mim mesmo que ainda tinha forças para lutar e para me opor aos meus inimigos. Fazer aquele plano dar certo havia se tornado, de uma hora para a outra, uma questão de honra.

— Vlad, me fale mais sobre a presidenta do país — pedi, em voz alta. — Não tenho tido tempo de acompanhar a política nacional e gostaria de saber mais sobre ela.

— Bem, ela chegou ao poder após vencer um partido conservador de extrema direita, que havia colocado nossa economia numa grande recessão — o vampiro explicou, com uma expressão confusa, sem entender meu interesse repentino naquele tópico. — Desde então, ela tem adotado uma postura bem mais democrática e progressista, apoiada na promoção dos direitos humanos e na construção de uma república mais justa e igualitária. Os resultados têm sido ótimos e a taxa de aprovação do governo é a mais alta das últimas duas décadas.

— Aposto que ela tem encontrado alguma resistência, não tem? — mencionei. — Mudanças assim nem sempre são bem recebidas...

— Sim, você está certo — ele confirmou. — O líder da oposição no senado tem pensamentos bastante retrógrados e tem atacado ela constantemente, se valendo de argumentos pautados "na religião, na moral e nos bons costumes"... — explicou Vlad.

— Espera, esse não é aquele tal senador Flávio Carlos, que vivia aparecendo na TV falando absurdos? — eu quis saber.

— Ele mesmo — Vlad confirmou.

Eu tinha uma ideia para salvar nossa operação de resgate. E já sabia por onde começar a colocá-la em prática.

— Vlad, eu quero que você me traga nossa lista de contatos nos maiores veículos jornalísticos do país, por favor — eu pedi, decidido. — Não perca tempo com nomes pequenos, selecione apenas os peixes grandes.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora