15. A vez em que uma loba dourada voltou à estaca zero

440 120 125
                                    

Após as luzes se acenderem e uma sirene soar na fazenda, eu e meus aliados nos entreolhamos, preocupados. Se não tomássemos uma atitude rapidamente, muito em breve estaríamos cercados por lobos da Caçada Voraz.

— Sigam com o plano — Poliana pediu, sem hesitar. — Eu seguro esses lobos enquanto vocês procuram pela prisioneira. — Vão logo, rápido!

Num primeiro momento, cheguei a pensar que deixar Poliana ali, sozinha, seria o mesmo que abandoná-la à morte certa; no entanto, após encarar o seu olhar por mais alguns segundos, consegui notar uma motivação e confiança que eu não fazia ideia de onde vinham. Seja lá o que minha colega tivesse em mente, eu não queria estar na pele dos lobos que teriam que lidar com ela naquela noite.

— Maia, Anne, aqui, rápido! — Fred nos chamou, sussurrando, em frente à porta trancada de um dos galpões. — Farejem nesse lugar, por favor, e vejam se sentem a presença de alguém.

Rapidamente demos as costas à Poliana e fomos encontrar o garoto, fazendo como ele pedira. Anne e eu rodeamos o galpão, tentando captar algum aroma que indicasse a presença de alguma pessoa naquele lugar, mas a única coisa que sentimos foi o cheiro característico dos animais da fazenda.

— Nada? — ele perguntou, nos vendo retornar. — Vamos tentar aquele outro então — indicou ele, apontando para um galpão um pouco mais afastado dos demais.

Assim que chegamos até o local sugerido por Fred, me virei para ver o que Poliana estava fazendo, e a enxerguei de pé, na beira do fosso, envolta em magia das trevas, com os cabelos soltos balançando com o vento, aguardando pela chegada dos lobos.

— Vamos, Maia, mais rápido!!! — Fred me chamou, me fazendo voltar a me concentrar na minha missão. Anne e eu nos separamos e cada uma foi inspecionar um dos lados do galpão. Eu estava completamente focada em identificar algum aroma familiar que apontasse que a minha mãe estava por perto, até que finalmente consegui encontrar um cheiro atípico. O problema, no entanto, era que eu captara uma fragrância que eu definitivamente não estava esperando sentir naquela noite.

Apesar do meu estado de surpresa, apoiei as patas na madeira do galpão e o arranhei com as minhas garras, tentando chamar a atenção de quem quer que estivesse ali. Imediatamente ouvi alguém se movimentar do lado de dentro, como se estivesse respondendo à minha tentativa de contato.

— Você encontrou algo? — Fred me perguntou, se aproximando de mim, com Anne em sua forma de pantera logo atrás dele. Apenas assenti com a minha cabeça de loba e apontei para o galpão à minha frente com o meu focinho.

— A porta tá trancada com uma corrente grossa — Fred suspirou, frustrado, após verificar a entrada da construção. — Não sei se a gente consegue arrombar a tempo apenas com a nossa força. Logo aqueles lobos chegarão até nós...

Inspecionei a parede do galpão mais uma vez, atentamente, e ergui minha cabeça, encontrando o que procurava. Eu conhecia aquelas construções como a palma da minha mão, já que cresci acostumada a brincar por ali, então não foi difícil localizar a abertura no topo do celeiro, para ventilação. Fred acompanhou meu olhar e finalmente entendeu o que eu tinha em mente.

— Deixa essa parte comigo — ele pediu. — Tá na hora de colocar todas aquelas minhas aulas de escalada em prática.

Ao dizer aquilo, o garoto fechou os olhos e se concentrou, e logo vi um pouco da mesma energia das trevas que emanava de Poliana aparecer também nele, envolvendo suas mãos e pés. Sem perder tempo, Fred se agarrou à parede de madeira do galpão, tal qual uma lagartixa, e começou a escalar, sem demonstrar hesitação ou dificuldade. Logo ele chegou até a janela e saltou para o lado de dentro, me fazendo perdê-lo de vista por alguns instantes.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora