25. A vez em que um jovem lobo se lançou numa busca na neve

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Eu não sabia quantas horas haviam se passado desde que eu desmaiara dentro do avião. Quando eu finalmente acordei, porém, não percebi o mínimo sinal de movimento na aeronave e tive certeza de que não estávamos mais voando. Levantei-me devagar e logo confirmei minhas suspeitas. A gaivota estava pousada em terra firme, a porta estava aberta e não havia nem sinal de Benjamin ou de Javier.

Calcei meus tênis e desci do avião com cuidado, atento ao meu redor. Javier havia pousado num lugar deserto, sem o mínimo sinal de civilização até onde minha vista alcançava. Caminhei mais um pouco e logo ouvi o som de vozes conversando e senti cheiro de fumaça.

Contornei a gaivota indo em direção ao som e vi Benjamin e Javier sentados ao redor de uma fogueira, conversando despreocupadamente.

— Ei, você finalmente acordou! — Ben exclamou assim que me viu. — Como tá se sentindo?

— Com um pouco de dor de cabeça — respondi, me aproximando dos dois. — E com muita fome também.

— Não se preocupe, hermanito, preparei um arroz carreteiro pra gente — Javier informou, com a simpatia de sempre. — Venha, venha, pode se servir!

Enchi uma das cumbucas de Javier com a comida e me sentei junto ao fogo.

— Por que paramos? — perguntei, entre uma colherada e outra.

— A gente tinha que abastecer o avião — Benjamin explicou. — Assim que descemos numa pista de pouso aqui perto, falaram que havia uma tempestade a caminho, então o Javier achou melhor passarmos a noite em solo, em segurança, e continuar amanhã de manhã, se o tempo estiver melhor.

— Entendi. A gente vai dormir onde? Dentro do avião? — eu quis saber.

— Sim, seu hermano achou melhor ficar longe de qualquer cidade, pra não chamar atenção indesejada — Javier respondeu. — E, por falar nisso, agora que você acordou e os dois estão juntos de novo, tem algumas coisas que yo gostaria de saber...

Assim que ele disse aquilo, eu logo deduzi que ele perguntaria sobre meu lobo e sobre os poderes de Enoe. E eu não o julgava, eu também ficaria abismado se estivesse no lugar de Javier e presenciasse todas aquelas coisas inexplicáveis acontecendo bem na minha frente, em tão pouco tempo.

— Vocês dois são lobisomens, não são? — o piloto finalmente indagou, indo direto ao ponto.

— Acho que não tem nem como negar depois de tudo o que você viu, Javier — meu irmão respondeu, com um suspiro. — Sim, eu e meu irmão somos metamorfos e podemos nos transformar em lobos. E aquela mulher que nos atacou na pista de pouso também é uma de nós.

No creo! — ele disparou, abismado. — Pensei que ela fosse uma bruja, manipulando os ventos daquela forma... Não sabia que lobisomens conseguiam usar esse tipo de magia...

— Espera... — interrompi, surpreso com a naturalidade com que Javier dissera aquela última frase. — Então você já sabia sobre a existência de criaturas mágicas?

— Sim, com certeza! — ele respondeu, satisfeito. — Minha abuela, mãe da minha mãe, era uma curandeira muito talentosa. E ela atendia todos os tipos de criaturas que você possa imaginar antes de falecer. Foi ela que me ensinou o pouco que sei sobre lobisomens.

— Então você também possui magia? — eu quis saber, curioso.

— Bem poquito — ele respondeu. — Sou aquilo que vocês chamam de híbrido, mas nunca desenvolvi nenhum talento especial. Apenas vez ou outra consigo perceber quando estou lidando com pessoas que não são humanos comuns. Bem que desconfiei de que havia algo de diferente em vocês dois... E, no fim das contas, yo estava mesmo certo, não é mesmo?

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora