17. A vez em que uma loba dourada presenciou um duelo entre irmãs

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— Eu não estou entendendo o que você pretende com tudo isso, Poliana — Eleonora declarou, em tom contido, como se estivesse se esforçando para manter a calma.

— Você sabe muito bem o que eu quero — Poliana rebateu, sem se abalar. — Eu cansei de tentar alertar vocês e ser completamente ignorada. Como os bruxos não me deram ouvidos, eu precisei buscar ajuda em outro lugar!

— O círculo de Esmeraldina já está lidando com a situação — Eleonora argumentou, sem revelar muitos detalhes. — Nós temos tudo sob controle! Não era preciso criar toda essa comoção!

— A Deusa Anciã discorda de você — Poliana insistiu. — O Oráculo de Hécate falou novamente, e ele foi bem claro ao afirmar que o Véu continua sob perigo!

— Como você se julga digna de sair por aí se declarando uma representante direta da Deusa? — Eleonora apontou, finalmente deixando transparecer sua irritação. — Até um dia desses, nem magia você tinha! Me dê um bom motivo para eu não punir a sua insolência aqui mesmo, na frente de todos esses convidados!!!

— Você acha mesmo que é capaz de fazer isso? Quem te deu essa autoridade, pra começo de conversa?? — Poliana provocou, sarcástica. — Se você duvida tanto assim da minha legitimidade como sacerdotisa de Hécate, por que não tenta provar então que eu sou uma farsa? Pode vir, irmãzinha, vamos ver se você é tão poderosa quanto diz ser!

Ao ouvir aquela provocação, Eleonora abriu os braços e deixou sua aura mágica explodir com violência, pegando a todos nós de surpresa com o tamanho e a intensidade de sua magia natural. Os olhos da sacerdotisa brilhavam como dois fachos de luz branca, e uma névoa intensa circulava ao redor do seu corpo, balançando o seu vestido.

Apesar daquela assustadora demonstração de poder, no entanto, Poliana continuava de pé, de braços cruzados, com o mesmo sorriso debochado no rosto.

— Você não sabe o quanto eu esperei por esse momento! — a bruxa mais nova finalmente declarou, entredentes.

Depois de dizer aquilo, minha colega também ampliou sua aura mágica, tal qual sua irmã fizera segundos antes, e logo vimos uma luz roxa rodear o seu corpo. Porém, ao contrário de Eleonora, Poliana direcionou sua energia das trevas para um ponto um pouco mais à frente de seu corpo, fazendo surgir no chão um círculo luminoso, rodeado de símbolos estranhos, que eu desconhecia.

— O que você pensa que está fazendo, sua garota inconsequente??? — o pai de Poliana questionou, ao lado da mãe dela, ambos indignados por conta do círculo de energia das trevas conjurado por sua filha caçula (e que eu não fazia ideia do que era). Eu os conhecia de vista das inúmeras reuniões de pais e professores que frequentávamos no Colégio Alvorada, e os dois sempre mantinham um certo ar de superioridade ao se dirigir aos demais; ali, no círculo, não parecia ser diferente.

— Apenas provando que eu sou tão digna de representar a Deusa quanto a minha irmãzinha, que vocês tanto idolatram!!! — Poliana retrucou, fazendo a esfera de magia das trevas se expandir e um portal surgir no seu interior. — Daemonium impetum!!!

Assim que a bruxa mais jovem pronunciou aquelas palavras, o chão no centro do círculo se rachou e logo vimos uma mão monstruosa, com garras, sair do subsolo.

— O que ela tá fazendo??? — perguntei, confusa, à Inara, que ainda estava ao meu lado, boquiaberta com o embate que se desenrolava à nossa frente.

— Eu não tenho certeza... — minha amiga respondeu. — Mas eu acho que ela acabou de invocar um demônio...

Meus olhos se arregalaram de espanto assim que eu ouvi o palpite de Inara, e pude perceber que as pessoas que assistiam ao confronto entre as duas irmãs estavam igualmente assustadas. Voltei a concentrar minha atenção no centro do círculo e percebi que a criatura monstruosa, de chifres, já tinha conseguido atravessar metade do seu corpo para fora do portal, e muito em breve estaria livre, diante de nós.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Where stories live. Discover now