35. A vez em que uma loba dourada recepcionou uma comitiva real

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As folhas das árvores se agitavam, preguiçosas, movidas pela brisa fresca da manhã, e saudavam um dia que havia acabado de nascer. Apesar do cenário bucólico, nós, por outro lado, não compartilhávamos da mesma sensação de calmaria, e já estávamos todas bem despertas e atentas a tudo o que Tatianna teria a nos ensinar.

— Vocês têm mesmo certeza de que é seguro treinar aqui? — a vampira fez questão de se certificar mais uma vez, olhando para o espaço verde e deserto ao nosso redor.

— É sim, esse bosque também faz parte da propriedade da tia do Davi, junto com a pousada — Bárbara explicou. — Praticamente ninguém entra aqui sem ser convidado.

— E eu consigo sentir que aplicaram neste lugar a mesma magia da Deusa que foi usada pra consagrar e proteger o terreno do casarão — completou Poliana. — Estamos seguras. Pelo menos por enquanto.

Eu havia decidido aceitar o convite de Tatianna para treinarmos juntas, em preparação ao inevitável confronto com os lobos da Caçada Voraz. A oferta também fora estendida aos demais moradores da pousada e, como resultado, Bárbara, Inara e Poliana haviam se juntado a nós. Por fim, o bosque aos fundos do casarão havia sido escolhido como nosso campo de treino, devido à proximidade e à privacidade que o lugar nos oferecia.

— O Fred não quis vir? — Inara inocentemente perguntou à Poliana.

— E eu vou lá saber?? — nossa colega retrucou, áspera como sempre. — Virei babá de marmanjo agora???

— Desculpa, é que vocês não se desgrudam mais desde que... Bem, desde que ele morreu e você trouxe ele de volta, por isso achei que você saberia dizer onde ele tava... — Inara ainda tentou se justificar.

— Você tá querendo insinuar alguma coisa sobre mim e o Fred, é isso?? — Poliana rebateu, ainda mais irritada. — Eu entendi direito???

— Er... Não, imagina... — Inara gaguejou. — Não precisa ficar tão brava, eu não pensei nada de mais, eu só...

— Ele não vem — interrompi, tentando acalmar os ânimos e salvar Inara de se meter em mais uma enrascada. — Como a minha mãe saiu com a Anne pra ajudar na evacuação da cidade, o Fred achou melhor ficar na pousada, vigiando, pra casa não ficar desprotegida enquanto a gente estiver aqui fora, ocupadas com o treino. A Lia, a Teresa e a Larinha também estão lá, então é melhor mesmo que elas não fiquem sozinhas, sem ninguém pra defendê-las caso algo aconteça.

— Certo, podemos começar então? — Tatianna quis saber, retomando o nosso objetivo ali. Assim que confirmamos, a vampira abriu uma sacola de tecido que ela trazia consigo. — Estendam as mãos, por favor — ela nos pediu.

Fizemos como indicado e Tatianna foi depositando flores de plástico na palma de nossas mãos, que eu logo reconheci terem vindo de um arranjo artificial que costumava ficar num dos corredores da pousada. Cada uma de nós recebeu uma flor, sem entendermos muito bem para que elas serviriam.

— A primeira parte do treinamento é bastante simples — a vampira explicou. — Vocês precisam colocar essas flores em mim. Podem prendê-las nos meus cabelos ou nas minhas roupas, tanto faz, elas apenas precisam ficar fixas sobre o meu corpo de alguma forma, sem cair no chão. Eu não vou correr, me esconder ou revidar qualquer investida. Só vou me esquivar e tentar evitar que vocês consigam fazer isso.

— Vale qualquer coisa? — Poliana quis saber, pragmática. — Eu posso usar a minha magia, por exemplo?

— Vocês podem usar qualquer habilidade que possuam, então a magia tá liberada. A Maia e a Bárbara também podem se transformar em suas formas animais caso prefiram, sem problemas. Vocês decidem.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Where stories live. Discover now