4. A vez em que um jovem órfão assinou um contrato

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O silêncio tomou conta da sala enquanto eu aguardava por uma resposta do rei dos vampiros. Depois de ponderar calado por alguns segundos, Babylon finalmente me dirigiu a palavra.

— Eu não imaginava que iríamos discutir esse assunto tão cedo, mas já que você quer uma prova de nossa boa vontade, eu vou ser honesto com você, Davi. Sim, os vampiros são de fato os responsáveis pelo transporte das duas criaturas ancestrais até à cidade de Esmeraldina — ele admitiu, sem fazer rodeios.

— Mas por que vocês fizeram isso?? — perguntei, incrédulo com aquela confirmação. — E por que vocês estavam em posse desses monstros, pra começo de conversa???

— Quando meu pai, o rei dos vampiros da Europa, me enviou para cá, séculos atrás, ele e os demais vampiros da nobreza europeia não estavam muito confiantes de que esse continente sul-americano se desenvolveria tanto — Babylon explicou, sem demonstrar emoção alguma enquanto relatava aquilo. — Meus familiares aproveitaram a ocasião da minha vinda para despejar nessas terras distantes algumas coisas perigosas demais, que eles queriam ver bem longe de seus domínios. Entre esses itens, estavam dois vasos com as criaturas que haviam sido aprisionadas pelos vampiros no Congo e nas Filipinas, em momentos distintos, e que muito deram trabalho antes de finalmente serem subjugadas.

— Então os vampiros europeus simplesmente trataram nosso continente como um depósito gigante para as tralhas que eles não queriam mais? — questionei, abismado com tais revelações.

— Podemos dizer que sim — o vampiro rei confirmou. — Eu tinha consciência de que esses artefatos eram muito perigosos e por isso dedicava uma parte considerável do meu tempo reforçando com a minha própria magia os selos que os protegiam. Porém, depois que eu fui enfim oficializado como rei e um novo reino vampírico foi instituído aqui, na América do Sul, minhas responsabilidades triplicaram, assim como as ameaças à nossa espécie, com as quais eu tinha que lidar diariamente. Resumindo, tornou-se inviável manter esses vasos sob os meus cuidados, e eu temia que, por um descuido meu, as entidades acabassem se libertando.

— Bem, eu não sei o que você estava pensando quando decidiu enterrar os vasos em Esmeraldina, mas acho que não preciso te dizer que seu plano foi um fiasco completo — comentei, com sarcasmo. — Por que você decidiu mandar os monstros pra lá?? Logo pra uma cidadezinha do interior, no meio do nada? Pessoas perderam a vida por causa disso!

— Se acalme, Davi, por favor — ele pediu, finalmente demonstrando um pouco de compaixão em seu tom de voz. — Imagino que ouvir isso tudo de uma vez só seja um choque para você, e eu acredito que sentiria o mesmo se estivesse na sua posição, mas peço que ao menos tente entender o meu raciocínio.

— Duvido muito que você vá conseguir me fazer acreditar que os vampiros agiram corretamente, mas fique à vontade pra tentar — retruquei, irritado.

— Eu investiguei minuciosamente todo esse continente procurando por um lugar adequado, acredite. Precisava ser um solo com grande fluxo de magia, para continuar energizando o selo que prendia as criaturas — ele explicou. — E, também, um lugar seguro o suficiente para evitar que humanos comuns encontrassem os artefatos por acaso e fizessem alguma besteira. O Véu de Esmeraldina era exatamente o que precisávamos, por isso optamos por esconder as criaturas por lá.

— E por que não deu certo? — eu quis saber, inconformado. — Qual foi o problema então?

— Nós mantivemos os vasos trancados por décadas em uma pequena gruta naquela região e tudo parecia muito bem — Babylon revelou. — Porém, cerca de dez anos atrás, as terras que usávamos foram desapropriadas pelo governo do estado para a construção de uma nova rodovia, a mesma estrada que hoje atravessa a reserva e liga Esmeraldina e seus distritos à capital e a outras cidades dos arredores. Por conta dessa obra, seria preciso mover as criaturas para outro lugar, antes que elas fossem encontradas pelos operários.

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Where stories live. Discover now