10. A vez em que um jovem órfão enfrentou uma prova de fogo

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Eu sabia que invadir uma base da Caçada Voraz no meio da floresta amazônica seria uma missão arriscada, mas em momento algum cheguei a imaginar que acabaríamos sendo surpreendidos pelo Grande Lobo em pessoa. Sim, diante de mim estava ninguém menos que Navalha, o responsável por boa parte das tragédias que tinham afetado a mim e aos meus amigos desde a batalha contra o Devorador de Sonhos.

Para piorar a situação, Navalha havia conseguido nos imobilizar, graças à ação de sua relíquia de poder, e, agora, estávamos ali, à mercê daquele lobo imprevisível e sanguinário.

— Eu tinha certeza de que alguma hora você acabaria sendo útil — disse Navalha a Helena, em tom de deboche. — Só não imaginava que uma isca vagabunda dessas fosse pescar peixes tão grandes! Veja só o que temos aqui! — continuou ele, maravilhado, se dirigindo a mim. — O menino cernuno em pessoa, junto com três vampiros de elite! Acho que hoje é mesmo meu dia de sorte!

Navalha movimentou sua adaga no ar e imediatamente senti a pressão ao redor do meu pescoço desaparecer, significando que eu poderia falar, caso quisesse. Imaginei que o mesmo tinha acontecido com os outros, já que Eugene não perdeu tempo e logo abriu a boca.

— O que vocês fizeram com a Tatianna? Pra onde levaram a nossa criadora??

— Eu previ que não demoraria muito até virem atrás de uma vampira poderosa como ela, então eu plantei uma pista falsa — revelou Navalha, satisfeito. — Espalhei para todos os lobos presentes na batalha em Esmeraldina que eu a traria pra cá. Sabia que essa informação acabaria chegando até os ouvidos dos morcegos e, pelo visto, eu estava mesmo certo. Sinto desapontar vocês, no entanto, mas ela nunca esteve aqui — concluiu ele, com um sorriso cínico.

— E o que você pretende fazer com a gente agora??? — perguntei, profundamente preocupado com o que ele responderia.

— Hummmm... Vocês invadiram uma das minhas bases, agrediram meus guardas e tentaram libertar uma das minhas prisioneiras... — ele contou nos dedos, se divertindo. — Eu não posso deixar isso passar batido, vocês não acham? Esse não é o comportamento esperado de um rei...

— Não tente dialogar com essa criatura vil, Davi — Vlad pediu. — A razão já o abandonou faz muito tempo. Não vale o esforço.

— Calado, morcego, antes que eu perca a paciência e te fure, igual eu fiz com o seu principezinho — Navalha ameaçou, apontando sua adaga para Vlad. — Como eu estava dizendo — continuou ele, voltando a me encarar, — eu teria todos os motivos do mundo pra acabar com todos vocês, aqui mesmo. Porém, cheguei a tempo de ouvir vocês conversando e sou muito grato pela informação que me trouxeram. Agora tenho certeza de que o Leocaster ainda está vivo, sei onde os dois lobos traidores Ian e Benjamin foram se esconder e também descobri que Babylon planeja me atacar em Esmeraldina. Já posso começar meus preparativos para a batalha com bastante antecedência, vejam só, que maravilha! Acho que vou até deixar vocês viverem mais alguns minutos como prova da minha gratidão... Que tal?

— Você tem tanta certeza assim de que é mesmo capaz de derrotar todos os vampiros? — perguntei, honestamente. — Ainda dá tempo de voltar atrás, Hector! (sim, eu havia decorado o nome verdadeiro dele). — Muitas vidas podem ser poupadas se você fizer isso!!!

— Não me subestime, garoto — Navalha respondeu, frio. — Já ultrapassei um ponto do qual não há mais volta. Essa desavença entre lobos e morcegos vai ser resolvida de uma vez por todas, custe o que custar. E eu finalmente vou concluir a minha vingança.

— Eu também perdi meus pais — arrisquei. — Sei o tamanho dessa dor. Mas também sei que eles não vão mais voltar pra esse mundo, não importa o que eu faça. Você deveria pensar nisso...

O Clube da Lua e a Noite Sem Fim (Livro 3 - em andamento)Where stories live. Discover now