Gularg no Inferno de Janeiro

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Gularg estava com muita fome. Ele tinha passado o dia inteiro voando pelo céu do Rio de Janeiro, sem se preocupar com nada. Ele tinha vindo do inferno para conhecer a cidade maravilhosa, mas não tinha achado nada de maravilhoso nela. Ele só via prédios, carros e pessoas. Ele queria comer carne, mas não sabia onde encontrar.

Ele voou até a zona sul e viu as praias cheias de gente. Ele pensou em atacar algum banhista, mas viu que eles eram magros e sem graça. Ele voou até o centro e viu os edifícios altos e modernos. Ele pensou em invadir algum escritório, mas viu que eles eram frios e sem vida. Ele voou até a zona norte e viu os estádios e as escolas de samba. Ele pensou em se divertir com algum torcedor ou sambista, mas viu que eles eram barulhentos e sem noção.

Ele estava quase desistindo de encontrar algo bom para comer, quando ele viu uma favela. Era o Complexo da Maré, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. Ele viu as casas coloridas e amontoadas, os becos estreitos e movimentados, os morros altos e íngremes. Ele sentiu o cheiro de carne fresca no ar. Ele ouviu o som de tiros e sirenes. Ele achou que ali era o lugar certo para ele.

Ele se aproximou da favela e viu um grupo de traficantes armados na entrada. Eles tinham uma churrasqueira improvisada no meio da rua, onde assavam pedaços de carne de porco e de boi. Gularg sentiu a saliva escorrer pela sua boca. Ele queria comer tudo aquilo.

Ele esperou até que os traficantes se distraíssem com alguma coisa. Então, ele desceu voando e pousou perto da churrasqueira. Ele olhou em volta e não viu ninguém. Ele pegou um espeto com um pedaço de carne e levou até a sua boca. Ele mordeu a carne com força e sentiu o sabor suculento. Ele soltou um grunhido de satisfação e pegou outro espeto. Ele estava tão concentrado na sua refeição que não percebeu que os traficantes tinham voltado e estavam olhando para ele com espanto e raiva.

- Coé, mermão, que porra é essa? - gritou um deles, apontando uma arma para o Gularg.

- Isso carne - respondeu o Gularg, sem entender.

- Carne o caralho, isso é nosso churrasco, seu bicho feio! - retrucou outro, também apontando uma arma.

- Isso churrasco? Isso bom - disse o Gularg, lambendo os lábios.

- Bom é o cacete, isso é nosso, seu ladrão! - esbravejou um terceiro, atirando na direção do Gularg.

O Gularg se assustou com o barulho e se abaixou. A bala passou por cima da sua cabeça e acertou a parede de uma casa. Os moradores da favela ouviram o tiro e começaram a sair para ver o que estava acontecendo. Eles viram o Gularg e ficaram boquiabertos.

- Caraca, que bicho é esse? - perguntou uma mulher.

- Parece um diabo da Tasmânia - disse um homem.

- Não, parece um bebê com asas - disse uma criança.

- Não, parece um arroz - disse uma adolescente.

O Gularg ficou confuso com as vozes e olhou em volta. Ele viu as pessoas e os traficantes. Ele percebeu que estava em perigo. Ele soltou os espetos e abriu as asas. Ele decidiu fugir dali.

- Gularg ir embora - ele anunciou.

- Não vai não, seu filho da puta! - gritou um dos traficantes, atirando novamente.

O Gularg desviou da bala e voou para cima. Ele escapou dos tiros e foi em direção ao céu. Os traficantes ficaram frustrados e xingaram muito. Os moradores ficaram impressionados e comentaram muito.

- Que loucura foi essa? - perguntou um deles.

- Foi um ET que veio roubar o nosso churrasco - disse outro.

- Foi um anjo que veio nos abençoar - disse outro.

- Foi um milagre que ninguém se machucou - disse outro.

O Gularg voou alto e olhou para baixo. Ele viu a favela cheia de gente e de confusão. Ele se sentiu aliviado por ter escapado. Ele também se sentiu triste por ter perdido a carne. Ele pensou em voltar para o inferno. Ele achou que lá era melhor do que o Rio de Janeiro.

Fim

Quiméricos Astrais- Desventuras Mágicas(vol.I)Where stories live. Discover now