•Aurora e o Príncipe Encantado•

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Aurora era uma fadinha de baixa estatura, com o tamanho semelhante a um bebê e fisionomia de uma menina de sete anos. Ela tinha cabelos loiros, olhos azuis e asas transparentes. Ela era obcecada pela sua própria beleza e tinha aversão a tudo o que era feio ou sujo. Ela vivia se arrumando e se maquiando, e não suportava que nada estragasse o seu visual perfeito.

Um dia, ela ouviu falar de um príncipe encantado que vivia em um castelo distante. O príncipe era lindo, rico, inteligente e bondoso. Ele estava à procura de uma princesa para se casar e viver feliz para sempre. Aurora ficou encantada com a ideia e decidiu que ela seria a escolhida do príncipe.

Ela pegou o seu melhor vestido, o seu colar de pérolas, o seu batom vermelho e o seu perfume de rosas. Ela se arrumou toda e voou em direção ao castelo do príncipe. Ela chegou lá e se deparou com uma fila enorme de candidatas à princesa. Eram mulheres de todas as idades, formas e cores. Algumas eram bonitas, outras nem tanto. Algumas eram simpáticas, outras arrogantes. Algumas eram educadas, outras malcriadas.

Aurora ficou indignada com aquela concorrência. Ela achava que nenhuma daquelas mulheres merecia o príncipe. Ela se achava a mais bela, a mais charmosa, a mais elegante de todas. Ela resolveu furar a fila e ir direto ao encontro do príncipe.

Ela entrou no salão onde ele estava sentado em um trono, cercado de guardas e conselheiros. Ela se aproximou dele e disse:

- Olá, meu príncipe! Eu sou a Aurora, a fadinha mais linda do mundo! Eu vim para me casar com você e te fazer feliz!

O príncipe olhou para ela com surpresa e desagrado. Ele não gostou da sua atitude, da sua voz, do seu cheiro, do seu tamanho. Ele achou que ela era uma criatura estranha e irritante. Ele disse:

- Quem é você? Como ousa entrar aqui sem permissão? Você não é uma princesa, você é uma fada! Você não tem nada a ver comigo!

- Como assim? - perguntou Aurora, ofendida. - Eu sou uma fada sim, mas isso não me impede de ser uma princesa! Eu sou linda, delicada, graciosa, encantadora! Eu tenho tudo o que você precisa!

- Não, você não tem - disse o príncipe, impaciente. - Você é feia, baixinha, chata, metida! Você não tem nada que eu queira!

- Isso é mentira! - gritou Aurora, furiosa. - Você é que é cego, burro, malvado, ingrato! Você não sabe reconhecer a beleza quando vê!

- Chega! - ordenou o príncipe, irritado. - Leve essa fada daqui! Eu não quero mais vê-la!

Os guardas pegaram Aurora pelos braços e a arrastaram para fora do salão. Ela esperneou, chorou, xingou. Ela tentou usar o seu poder mágico para se soltar ou para atacar o príncipe, mas nada funcionou. Ela foi jogada para fora do castelo como um lixo.

Ela ficou caída no chão, machucada e humilhada. Ela olhou para o céu e viu que estava escurecendo. Ela sentiu frio, fome, medo. Ela se lembrou de todas as coisas ruins que já tinha passado na vida: a rejeição das outras fadas por ser diferente; a morte da sua mãe por uma doença; a solidão de ser imortal; a falta de sentido da sua existência.

Ela percebeu que tinha sido tola em pensar que o príncipe iria amá-la. Ela percebeu que tinha sido vaidosa em achar que era melhor do que as outras mulheres. Ela percebeu que tinha sido egoísta em querer o príncipe só para si. Ela percebeu que tinha sido injusta em julgar as pessoas pela aparência.

Ela se arrependeu de tudo o que tinha feito e dito. Ela se sentiu culpada e envergonhada. Ela se sentiu triste e vazia. Ela se sentiu feia e miserável.

Ela chorou até dormir, sem esperança de acordar.

No dia seguinte, ela foi encontrada por um mendigo que passava por ali. O mendigo era um homem velho, magro, sujo e maltrapilho. Ele tinha cabelos grisalhos, olhos castanhos e uma barba rala. Ele era bondoso, generoso, sábio e humilde. Ele vivia de esmolas e de favores. Ele não tinha nada de seu, mas compartilhava tudo o que tinha.

O mendigo viu Aurora caída no chão e achou que ela era uma boneca abandonada. Ele se aproximou dela e disse:

- Olá, minha bonequinha! Você está perdida? Quem te deixou aqui?

Ele pegou Aurora no colo e a abraçou. Ele sentiu o seu coração bater e o seu corpo aquecer. Ele percebeu que ela não era uma boneca, mas uma fada. Ele ficou surpreso e encantado. Ele disse:

- Você é uma fada! Que maravilha! Você é linda, delicada, graciosa, encantadora! Você tem tudo o que eu preciso!

Aurora acordou com a voz do mendigo e abriu os olhos. Ela viu o rosto dele e se assustou. Ela achou que ele era um monstro. Ela disse:

- Quem é você? Como ousa me tocar? Você não é um príncipe, você é um mendigo! Você não tem nada a ver comigo!

- Como assim? - perguntou o mendigo, confuso. - Eu sou um mendigo sim, mas isso não me impede de ser um príncipe! Eu sou bondoso, generoso, sábio, humilde! Eu tenho tudo o que você precisa!

- Não, você não tem - disse Aurora, impaciente. - Você é feio, velho, sujo, pobre! Você não tem nada que eu queira!

- Isso é mentira! - disse o mendigo, triste. - Você é que é cega, burra, malvada, ingrata! Você não sabe reconhecer a beleza quando vê!

- Chega! - gritou Aurora, irritada. - Solte-me daqui! Eu não quero mais

Ela se soltou dos braços do mendigo e voou para longe dele. Ela xingou, cuspiu, mordeu. Ela tentou usar o seu poder mágico para se afastar ou para ferir o mendigo, mas nada funcionou. Ela foi atingida por uma torta que vinha do castelo.

Ela caiu no chão, suja e envergonhada. Ela olhou para cima e viu o príncipe na janela do castelo. Ele estava rindo dela e jogando tortas nela. Ele disse:

- Olha só quem voltou! A fadinha mais linda do mundo! Hahaha! Você achou mesmo que eu ia me casar com você? Você é uma piada! Você é uma torta!

O mendigo correu até Aurora e tentou limpá-la. Ele disse:

- Não ligue para ele, pequena! Ele é um idiota! Ele não sabe o que diz!

Ele pegou Aurora no colo e limpou sua testa. Ele disse:

- Eu te amo, fadinha! Você é a minha princesa! Você é a minha felicidade!

Aurora ficou nos braços do mendigo, sem entender nada.

Ela aprendeu uma lição naquele dia: A beleza é relativa, a felicidade é ilusória, a vida é uma piada.

"A beleza é uma promessa de felicidade." - Stendhal

Fim

Quiméricos Astrais- Desventuras Mágicas(vol.I)Where stories live. Discover now