•Ashmita e a Gentileza•

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Ashmita estava entediado. Ele já tinha meditado o suficiente, lido todos os livros sagrados, e feito todas as tarefas que Buda lhe havia pedido. Ele queria algo mais divertido, algo que o desafiasse e o fizesse rir. Ele pensou em sair do seu plano celestial e ir para o mundo dos humanos, onde ele poderia se misturar com eles e ver como eles viviam.

Ele pediu permissão a Buda, que concordou, mas com uma condição: ele teria que aprender uma lição sobre uma virtude que ele ainda não dominava. Ashmita aceitou, sem saber qual era a virtude ou como ele iria aprendê-la. Ele só queria se divertir.

Ele se teletransportou para uma cidade grande e movimentada, cheia de carros, prédios, pessoas e barulho. Ele se disfarçou de um menino comum, usando roupas simples e um boné. Ele andou pelas ruas, observando tudo com curiosidade e admiração. Ele viu lojas, restaurantes, parques, museus, cinemas e teatros. Ele quis entrar em todos eles, mas logo percebeu que precisava de dinheiro para isso.

Ele pensou em usar os seus poderes para conseguir dinheiro, mas lembrou-se de que Buda lhe havia proibido de fazer isso. Ele teria que conseguir dinheiro de forma honesta e justa. Ele pensou em pedir esmola, mas achou isso humilhante e indigno. Ele pensou em vender alguma coisa, mas não tinha nada para vender. Ele pensou em trabalhar, mas não sabia fazer nada útil.

Ele ficou frustrado e irritado. Ele queria aproveitar a vida humana, mas ela era cheia de obstáculos e limitações. Ele começou a sentir raiva dos humanos, que pareciam tão felizes e despreocupados com as suas coisas materiais. Ele quis mostrar-lhes que havia coisas mais importantes do que o dinheiro, como a espiritualidade, a sabedoria e a paz.

Ele teve uma ideia. Ele decidiu se tornar um pregador ambulante, que espalharia os ensinamentos de Buda pelas ruas da cidade. Ele achou que assim ele poderia iluminar as mentes dos humanos e talvez ganhar algum dinheiro com as suas doações.

Ele subiu em um caixote de madeira em uma esquina movimentada e começou a falar em voz alta:

- Atenção, atenção! Eu sou Ashmita, o devoto de Buda! Eu vim trazer-lhes a boa nova da iluminação! Escutem-me e sigam-me!

As pessoas que passavam por ali olharam para ele com estranheza e indiferença. Algumas riram dele, outras o ignoraram, outras o xingaram. Ninguém parou para ouvi-lo ou dar-lhe dinheiro.

- Mais um religioso fanático? - alguém comentou.

- Desce daí, garoto! Vá capinar um lote! - outra pessoa zombou.

Ashmita ficou ofendido e magoado. Ele não entendia por que os humanos eram tão insensíveis e desinteressados pela verdade. Ele tentou falar mais alto e mais claro:

- Não se deixem enganar pelas ilusões deste mundo! O dinheiro não traz felicidade! O sofrimento é causado pelo desejo! A libertação é alcançada pela renúncia! Sigam os quatro nobres verdades e o nobre caminho óctuplo!

As pessoas continuaram a ignorá-lo ou a zombar dele. Algumas jogaram lixo nele, outras cuspiram nele, outras o empurraram. Ninguém se importou com as suas palavras ou com os seus sentimentos.

Ashmita ficou furioso e descontrolado. Ele perdeu a paciência e a compostura. Ele começou a gritar e a xingar os humanos:

- Seus ignorantes! Seus estúpidos! Seus imbecis! Vocês não sabem de nada! Vocês são uns burros! Uns idiotas! Uns otários!

Ele usou os seus quatro braços para fazer gestos obscenos para eles. Ele mostrou-lhes a língua, fez caretas, piscou os olhos, balançou a cabeça, bateu palmas, deu pulinhos, fez cócegas, fez o sinal da cruz, fez o sinal do rock, fez o sinal do coração, fez o sinal do dedo médio.

As pessoas ficaram chocadas e indignadas com a sua atitude. Algumas riram dele, outras se ofenderam, outras se assustaram. Ninguém entendeu o que ele estava fazendo ou por quê.

Quiméricos Astrais- Desventuras Mágicas(vol.I)Onde histórias criam vida. Descubra agora