Aurora e a Irmã Feia

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Aurora era uma fadinha que vivia em um bosque encantado, onde tudo era lindo e perfeito. Ela adorava se olhar nas águas cristalinas do lago, onde podia admirar a sua beleza sem igual. Ela se vestia com as mais finas sedas, se enfeitava com as mais brilhantes joias, se perfumava com as mais doces flores. Ela se achava a fada mais bela de todas, e não perdia a chance de se gabar disso.

Um dia, ela resolveu fazer uma visita à sua amiga Lila, uma fada que morava em uma caverna escura e úmida. Lila era o oposto de Aurora: ela era feia, desleixada, mal cheirosa e sem graça. Ela não se importava com a sua aparência, nem com a dos outros. Ela só se interessava por livros, que ela colecionava na sua biblioteca particular.

Aurora chegou à caverna de Lila e bateu na porta. Lila abriu e ficou surpresa ao ver a sua amiga.

- Oi, Aurora! Que bom que você veio me visitar! Entre, por favor! - disse Lila, sorrindo.

- Oi, Lila! Que lugar horrível é esse? Parece uma favela! - disse Aurora, torcendo o nariz.

- É a minha casa, Aurora. Eu gosto daqui. É tranquilo e aconchegante. - disse Lila, sem se ofender.

- Tranquilo e aconchegante? Isso é um buraco! Você precisa de uma reforma urgente! - disse Aurora, entrando na caverna.

- Não precisa, Aurora. Eu estou satisfeita com o que eu tenho. - disse Lila, fechando a porta.

- Satisfeita? Como você pode estar satisfeita com essa vida miserável? Você não tem nada de bom aqui! Nem um espelho para ver o seu rosto feio! - disse Aurora, olhando em volta.

- Eu não preciso de um espelho, Aurora. Eu sei como eu sou. E eu não me importo com o meu rosto. Eu me importo com o meu interior. - disse Lila, levando Aurora até a sua biblioteca.

- O seu interior? Que interior? Você só tem livros aqui! Livros velhos e empoeirados! Isso é um lixo! Você deveria jogar tudo fora e comprar coisas novas e bonitas! - disse Aurora, pegando um livro e jogando no chão.

- Não faça isso, Aurora! Esses livros são preciosos para mim! Eles me ensinam muitas coisas sobre o mundo e sobre mim mesma. Eles me fazem feliz. - disse Lila, pegando o livro e limpando a capa.

- Feliz? Como você pode ser feliz com esses livros chatos? Você não sabe o que é felicidade! Felicidade é ser bonita como eu! É ter asas brilhantes como as minhas! É usar roupas elegantes como as minhas! É ter admiradores como os meus! - disse Aurora, se exibindo.

- Aurora, você é muito vaidosa. Você só pensa em si mesma. Você não se preocupa com os outros. Você não tem amigos de verdade. Você só tem bajuladores que querem se aproveitar de você. Você não sabe o que é amor. - disse Lila, seriamente.

- Amor? Que amor? Amor é uma bobagem! Amor é uma ilusão! Amor é uma fraqueza! Eu não preciso de amor! Eu só preciso de mim mesma! Eu sou suficiente para mim mesma! Eu sou perfeita! - disse Aurora, arrogantemente.

- Aurora, você está enganada. Você não é perfeita. Ninguém é perfeito. Todos nós temos defeitos e qualidades. Todos nós precisamos uns dos outros. Todos nós precisamos de amor. O amor é o que nos torna humanos. O amor é o que nos torna felizes. - disse Lila, sabiamente.

- Que besteira! Você não sabe nada da vida, Lila! Você é uma ignorante! Uma fracassada! Uma favelada! Eu não quero mais falar com você! Eu vou embora daqui! - disse Aurora, irritada.

- Aurora, espere! Não vá assim! Vamos conversar! Vamos ser amigas! - disse Lila, tentando segurar Aurora.

- Me solta, sua feia! Me deixa em paz! Eu não quero ser sua amiga! Eu não quero nada com você! Você é a pior coisa que já me aconteceu! - disse Aurora, se soltando de Lila e saindo da caverna.

Aurora saiu da caverna e voou para longe, sem olhar para trás. Ela estava furiosa com Lila. Ela achava que Lila era uma invejosa que queria estragar a sua felicidade. Ela não percebia que Lila era uma verdadeira amiga que queria ajudá-la a ser uma pessoa melhor.

Aurora voou até o lago, onde ela se olhava todos os dias. Ela queria se ver novamente, para se acalmar e se consolar. Ela queria se admirar novamente, para se sentir superior e orgulhosa. Ela queria se amar novamente, para se esquecer dos outros e de si mesma.

Aurora chegou ao lago e se aproximou da água. Ela esperava ver o seu reflexo perfeito, mas o que ela viu foi algo terrível. Ela viu o seu rosto deformado, as suas asas rasgadas, as suas roupas rasgadas, as suas joias quebradas. Ela viu o seu corpo todo machucado, sujo e sangrando. Ela viu o seu olhar vazio, triste e assustado. Ela viu a sua alma perdida, solitária e infeliz.

Aurora não entendeu o que estava acontecendo. Ela pensou que era um pesadelo. Ela tentou acordar, mas não conseguiu. Ela tentou gritar, mas não saiu som. Ela tentou fugir, mas não se moveu. Ela estava paralisada de medo e de dor.

Aurora então percebeu que aquilo era real. Que aquilo era ela. Que ela tinha se transformado naquilo. Que ela tinha se tornado naquilo.

Aurora entrou em pânico. Ela não aceitava aquela situação. Ela não suportava aquela imagem. Ela não reconhecia aquela pessoa.

Aurora chorou. Ela chorou de arrependimento e de remorso. Ela chorou de vergonha e de culpa. Ela chorou de desespero e de angústia.

Aurora implorou. Ela implorou por perdão e por misericórdia. Ela implorou por ajuda e por socorro. Ela implorou por amor e por felicidade.

Aurora esperou. Ela esperou por uma resposta e por uma solução. Ela esperou por uma mudança e por uma salvação. Ela esperou por um milagre e por uma graça.

Mas nada aconteceu.

Ninguém veio.

Ninguém ouviu.

Ninguém viu.

Ninguém se importou.

Aurora ficou sozinha.

Aurora ficou triste.

Aurora ficou feia.

E assim ela ficou durante um ano.

"A beleza exterior é passageira, a beleza interior é eterna".

Fim.

Quiméricos Astrais- Desventuras Mágicas(vol.I)Onde histórias criam vida. Descubra agora