Epílogo.

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Cinco anos depois...

É inverno em Florianópolis e apesar da cidade parecer o inferno no verão e na maior parte das outras estações, ela conseguia ser realmente fria nessa época do ano, me obrigando e colocar camadas e mais camadas de roupa, principalmente porque Bernardo se preocupava demais com a possibilidade de eu passar frio ao sair de casa. Pensando bem, tem pouca coisa que o deixa preocupado desde que eu fiquei gravida.

—Você parece mais feliz a cada visita. —A doutora Rafaela estava sorrindo, me observando passar a mão na minha barriga enorme, que não me permitia mais enxergar meus próprios pés. —Como anda o bebê?

—Ah, tão bem. Eu e Bernardo temos certeza que ele vai ser jogador de futebol, porque ele ama chutar. Principalmente a noite quando estou tentando dormir. —Afirmei, o que a fez soltar uma risada contida.

Era incrível como eu conseguia me sentir muito mais confortável em conversar com ela a cada ano que passava. Chegou a um ponto que era apenas natural fazer isso, assim como me abrir com Bernardo e deixa-lo saber quando algo não estava me deixando infeliz. Foram anos longos, em que eu precisei trabalhar toda aquela carga que eu trazia da casa dos meus pais.

A época da minha formatura de química foi a pior, porque desmoronei quando percebi que seria a única a não ter ninguém da família presente. Mas Bernardo estava lá, assim como seus pais e meus amigos, o que deixou tudo maravilhosamente mais fácil pra mim. Ainda penso nos meus pais as vezes, mas não deixaria que eles estragassem a minha vida de novo.

—Eu os vi na rua outro dia. —Falei, sabendo que ela iria entender de quem eu estava falando. Encarei minha barriga, abrindo um sorriso tremulo quando senti o bebe se mexer. —Primeiro foi minha mãe. Ela estava em um restaurante, almoçando com um homem. Provavelmente o novo marido. Não sei, na verdade. Eu estava almoçando com Júlia quando os vi. Não falei com ela e acho que ela não me viu. De qualquer forma, senti que ela era uma completa estranha.

—Isso fez você se sentir mal? —Indagou, e eu balancei a cabeça negativamente na mesma hora.

—Isso me fez me sentir livre. —Dei de ombros, sem saber se aquilo fazia algum sentido. —Eu vi meu pai saindo de uma loja. Estava do outro lado da rua, passeando com Nina e ele me viu. Primeiro ele viu Nina, então olhou pra mim. Ficou paralisado quando viu minha barriga. Por um segundo pensei que ele ia atravessar a rua pra falar comigo, porque vi seus lábios se movendo pra me chamar. Isso me fez voltar a andar e deixa-lo pra trás, porque fiquei realmente com medo que ele tentasse falar comigo e eu não saberia o que fazer.

—Você se arrepende de não ter falado com ele? Tem curiosidade de saber o que ele poderia querer falar pra você?

—Não, porque não importava o que ele falasse, nada iria mudar todos aqueles anos ruins que passei com eles. —Falei, erguendo a mão para secar a lágrima solitária que escorreu pela minha bochecha. —Estou casada agora, com um bebê a caminho e uma vida absolutamente feliz. Meus pais não se encaixam mais na minha vida e estou muito feliz por isso.

Ela assentiu, parecendo gostar do que estava vendo no meu rosto, como se pudesse ler todas as minhas emoções naquele momento.

—E como anda a ideia da adoção? —Aquela pergunta fez um sorriso enorme se abrir nos meus lábios, a ponto de minhas bochechas doerem.

—Decidimos que depois que o bebê nascer, vamos dar início a papelada de adoção. —Soltei um suspiro, mordendo o interior da bochecha ao pensar naquilo. —Estamos ansiosos por isso, na verdade.

[...]

—Bernardo? —Abri a porta de casa, soltando minha bolsa sobre o sofá. Tudo estava no mais completo silêncio, me fazendo franzir a testa e pensar na possibilidade dele ter saído. Subi as escadas com cuidado, me segurando no corrimão enquanto tentava não tropeçar, segurando minha barriga com a mão que estava livre. —Amor?

—No quarto do bebê! —Ele finalmente me respondeu, me fazendo sorrir e atravessar o corredor até a porta aberta do quarto, de frente para o que eu e Bernardo dormíamos. Meu queixo caiu quando senti o cheiro de tinta e o encontrei completamente sujo de tinta roxa, enquanto as paredes estavam sendo cobertas pela cor.

—O que você está fazendo? —Exclamei, vendo ele se virar pra mim, abrindo um sorriso enorme. Soltei uma gargalhada quando vi a tinta que manchava suas bochechas e algumas mechas de seu cabelo.

—Você disse que queria o quarto roxo. —Deu de ombros, enquanto eu escondia o rosto entre as mãos e balançava a cabeça negativamente, sem acreditar que ele estava realmente fazendo aquilo depois de eu ter feito um comentário aleatório. —Lembra o seu quarto na época da faculdade.

—Oh, meu Deus! —Nem percebi que estava chorando como uma manteiga derretida naquele momento, até ele me abraçar, sujando minhas roupas de tinta sem se preocupar nem um pouquinho com isso. Chorar era tudo que eu fazia nas últimas semanas, com absolutamente qualquer gesto carinhoso dele. —Eu te odeio por me fazer chorar.

—Eu sei, linda. Eu sei. —Ele beijou minha testa, erguendo meu rosto para que eu o encarasse, me derreti com aquelas covinhas, que eu sonhava muito que o bebê também tivesse. Comprimi os lábios quando Bernardo ergueu o dedo sujo de tinta e desenhou um coração na minha testa. —Eu te amo por ser a grávida mais linda e chorona, só por me encontrar pintando uma parede.

—De roxo. —Falei, porque era um ponto importante. Não era qualquer cor. Era roxo, a mesma cor que ele havia pintado meu quarto cinco anos atrás quando não estávamos nos falando. —Você não precisada fazer isso, mas obrigada por ter feito.

—Como foi hoje? —Questionou, beijando de leve meus lábios, antes de se afastar para encarar meu rosto.

—Tudo bem. Falar com ela sempre me deixa mais leve. —Segurei a mão dele, entrelaçando nossos dedos, antes de o puxar para o nosso quarto. —No final das contas, nós duas concordamos que aquela casa que tanto falávamos está pronta, mas que eu preciso continuar cuidado dela.

—Vamos continuar cuidando dela então, pra ela continuar forte e perfeita. —Ele beijou a ponta do meu nariz. O sorriso exultante fazendo meu coração disparar dentro do peito. —Está cansada?

—Na verdade, sim. Acho que preciso me deitar um pouco. —Beijei a ponta do nariz dele, da mesma forma que ele havia feito comigo um segundo antes. —Mas preciso de você, porque ainda tenho medo do escuro.

Ele riu, segurando meu rosto e me beijando como se não suportasse mais ficar perto de mim sem fazer aquilo. Aproveitei cada segundo, porque não havia nada que eu não pudesse fazer por ele e por aquilo que havíamos construído nesses anos.

Fim!

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now