Capítulo 22: Reação química.

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Eu e Bernardo corremos pra água e eu soltei um gritinho baixo quando senti o quão fria estava. Mas isso não tirou o sorriso do meu rosto quando afundei na água junto com Bernardo, ouvindo o grito de Júlia quando percebeu que eu finalmente havia ido pro mar. Ela estava sentada na prancha junto com Érika, enquanto Melissa estava escorada da prancha de Eduardo.

—Tem certeza que não quer umas aulas? —Soltei uma risada quando Felipe agarrou minha cintura e me colocou sentada na prancha, enquanto eu tirava a água do rosto para poder abrir os olhos.

—Sinceramente? Tenho medo de tentar e me afogar. —Falei, sentindo um arrepio de frio agora que estava completamente molhada.

—Tem 4 pessoas que sabem surfar aqui, Manu. Se você cair na água, um de nos pega você. —Diogo afirmou, me fazendo olhar pra cada um deles e vê-los concordando com a cabeça. —Tenta. Júlia já caiu umas 50 vezes e está inteira.

—Só estou dolorida de cair contra a água. —Júlia deslizou para fora da prancha de Érika, nadando para perto de Melissa, enquanto eu me segurava quando uma onda passou por onde estávamos. —Mas foram boas tentativas.

Eu dei o braço a torcer e tentei. Felipe me fez ficar em pé na prancha, tentando ter equilíbrio quando as ondas vinham. Mas eu acho que equilíbrio e eu não fazemos parte de uma mesma reação química, ou talvez a gente faça parte de uma que a reação final seja explodir, porque eu não conseguia ficar nem cinco segundos em pé antes de tombar na direção da água.

No final de acabei desistindo, sentindo que aquilo não era pra mim, mesmo que meus amigos insistissem para que eu continuasse. Quando começou a anoitecer nós juntamos nossas coisas e fomos todos embora. Melissa pegou carona com Diogo de novo, enquanto eu e Júlia fomos com Felipe, já que ele e os outros iam literalmente para o mesmo lugar que a gente.

Guardei a concha que Bernardo me deu quando cheguei em casa, indo dormir com a cabeça completamente a mil. Queria que minha cabeça relaxasse de vez em quando, só pra eu conseguir pensar em algo concreto e não em milhares de possibilidades pra mesma coisa. Só que isso era impossível pra ele e consequentemente pra mim.

[...]

Maldito seja o ser humano que descobriu a matemática. Simplesmente estou cansada de ver números e mais números na minha frente, por mais que isso seja importante pra química e por mais que eu saiba que preciso aprender isso. Bernardo é perfeito explicando e tirando minhas dúvidas, e acho que eu nunca vou me cansar de dizer isso. Mas eu e números também não fazemos parte de uma mesma reação química.

—Pode falar, eu sou horrível em cálculo, né? —Choraminguei. Sim, choraminguei de verdade na frente dele, lembrando do que a professora Carla me disse no dia que visitei ela na sua sala.

—Claro que não. Você está indo super bem. Para de ser tão negativa. —Bernardo afirmou, negando com a cabeça, enquanto passava pra outra matéria. —Lembra do nosso acordo?

—Estudar de manhã e andar de patins a tarde. —Falei, soltando uma risada baixa.

Havíamos combinado isso depois que eu acordei e o chamei pra estudar comigo antes do almoço. Bernardo me ajudaria com cálculo de manhã e então a tarde nos dois iriamos pra Beira-mar, para eu o ensinar a andar de patins. Quando eu questionei ele sobre os patins, que ele não tinha, ele me disse que poderia resolver isso e que eu não precisava me preocupar com nada. Não sei o que ele queria dizer com isso, mas preferi não discutir com ele.

—Exatamente. —Ele sorriu, mordendo o lábio inferior logo em seguida. —Estamos quase terminando aqui. Só mais meia hora e eu libero você.

—Mais meia hora de tristeza. —Suspirei, fazendo ele gargalhar, antes de nos dois voltarmos a atenção pra matéria de novo.

Foi a meia hora mais demorada de toda minha vida, porque quanto mais as coisas avançavam, mais as questões iam ficando mais difíceis e complexas, que roubavam vários minutos meus batendo a cabeça pra resolver alguma coisa. As vezes isso me faz pensar nos motivos que me fizeram escolher química. Mas então eu me lembrava de todos os trabalhos que fiz relacionado a ela e me lembrava o porquê. Ver uma reação acontecendo na minha frente e entender o porquê dela acontecer daquele jeito era fascinante.

Minha atenção se voltou para o meu celular quando ele vibrou em cima da minha cama, antes de eu olhar para Bernardo de novo e me forçar a prestar atenção nele. Mas meu celular vibrou de novo, me fazendo morder o interior da bochecha e esfregar a testa quando aquilo tirou minha concentração de novo. Da próxima vez, o deixaria no silencioso.

—Desculpa, juro que estou tentando prestar atenção. Não sei quem pode ser. —Afirmei, fechando meus olhos com força quando meu celular vibrou de novo. —Vou coloca-lo no silencioso.

—Pode ver o que é. As vezes é algo importante. —Bernardo abriu um sorriso compreensível, que fez meu coração se derreter mais um pouco por ele.

Me levantei e fui até a cama, engolindo em seco quando meu coração parou de bater quando vi o nome da minha mãe aparecer na tela, com várias mensagens dela, antes do nome aparecer na tela e meu celular começar a tocar quando ela me ligou. Bernardo deve ter visto meu desespero, porque praticamente agarrei o celular.

—É minha mãe. Já volto. —Falei, saindo do quarto e me trancando no banheiro antes de atender, sentindo meu coração martelando no peito.

Manu — Oi, mãe, tudo bem?

Mãe — Finalmente, Manuela. Eu estava tentando falar com você a horas!

Manu — Desculpe, eu estava estudando e...

Mãe — Vocês jovens vivem com o celular na mão, mas quando a gente precisa vocês estão longe deles. Preciso que venha aqui em casa. A Nina desapareceu e o Heitor está me enlouquecendo há manhã toda. Preciso que venha aqui, entendeu? E precisa ser agora, Manuela.

Manu — Eu vou, mas... Quem é Nina? Mãe?

Afastei o celular do rosto, sentindo um nó se formar na minha garganta quando percebi que ela havia desligado. Esfreguei meu peito para afastar a sensação pesada, antes de respirar fundo e abrir o maior sorriso que conseguia, antes de sair do banheiro e voltar pro quarto onde Bernardo me esperava.

—Meus pais estão com um problema. Eu vou ter que ir pra casa agora. Desculpa por isso, sei que a gente deveria estudar e sempre tem alguma coisa minha atrapalhando. —Falei, mantendo aquele sorriso no rosto, enquanto ele me observava com a testa franzida. —Prometo que da próxima vez não vai ter nada pra atrapalhar.

—Não tem problema, Manu. Imprevistos acontecem. —Bernardo não desviou os olhos de mim quando peguei as chaves do apartamento, enquanto ele reunia suas coisas. —Está tudo bem? Quer que eu vá com você?

—Não, está tudo bem. Não quero te incomodar com os meus problemas. —Sorri mais ainda. Um sorriso dolorido que fazia o nó na minha garganta aumentar. —A gente se vê mais tarde, certo?

Ele me olhou por alguns segundos. Aquele sorriso bonito não estava ali, assim como as covinhas. Mas fiquei feliz quando ele balançou a cabeça que sim.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora