Capítulo 56: Estamos bem, Manu?

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Pela primeira vez na vida, gostei de toda impulsividade que as vezes tomava conta de mim. Deixei uma Júlia cansada e sorridente no sofá, enquanto saia do apartamento e batia na porta do apartamento da frente sem pensar duas vezes. Estava tarde, então talvez ele estivesse em casa.

Mas não foi Bernardo quem atendeu e sim Eduardo, com uma roupa velha suja de tinta roxa, assim como algumas mechas do cabelo loiro. Aquilo fez meu coração errar algumas batidas, ao mesmo tempo que eu via Felipe saindo da cozinha também com as roupas manchadas de tinta.

—Oi, Manu! —Os dois falaram ao mesmo tempo, abrindo um sorriso muito grande pra mim, que fez o gelo que havia se formado no meu coração depois de terça a noite se derreter um pouco mais, me lembrando que eles haviam feito o mesmo quando entrei no seu apartamento pela primeira vez.

—Ele obrigou vocês dois a ajudarem ele a pintar? —Indaguei, mordendo o lábio para não sorrir ao ver Eduardo passar as mãos nos cabelos sujos de tinta.

—Na verdade, não. Nos o encontramos no elevador com a tinta e decidimos o ajudar. —Felipe deu de ombros, enquanto eu escutava a porta do meu apartamento se abrir. —Bernardo é um idiota as vezes, Manu. Mas ele gosta muito de você. Não estou dizendo isso porque sou amigo dele, mas é porque eu e Eduardo estamos ouvindo ele falar de você a dois anos inteiros. Então, sim, ele gosta de você, mesmo que de vez em quando ele vá ser um babaca.

—Obrigada pelo que fizeram no meu quarto. —Meus lábios tremeram e minha garganta se fechou com a súbita emoção que cresceu dentro de mim. Eu não fazia ideia do que fazer além de agradecê-los.

—Será sempre uma honra. —Eduardo piscou pra mim, usando um jeito totalmente charmoso que me fez soltar uma risada e me aproximar, dando um beijo na bochecha dele. Me aproximei de Felipe, ficando na ponta dos pés e dando um beijo na bochecha dele também, sabendo que eu os adorava mais do que eu achava ser possível.

—Que fofo, eu não ajudei a pintar seu quarto, mas eu ganho beijo também? —Érika surgiu no corredor da entrada, fazendo nós três cairmos na risada. Dei um beijo nela também, que me abraçou apertado, antes de passar por mim e puxar Felipe e Eduardo pra fora do apartamento. Pude ver Júlia escorada no batente da porta do nosso apartamento, observando tudo com diversão nos olhos. —Vamos deixar os pombinhos se acertarem. Tenho certeza que Júlia pode nos abrigar por algumas horas.

Eles saíram tão rápido que nem tive a chance de dizer nada, até que Felipe estivesse fechado a porta, me deixando completamente sozinha no corredor do apartamento deles. Meu coração estava tão acelerado que eu podia ouvir o som dele batendo na minha cabeça, assim como a ansiedade e o nervosismo borbulhavam nas minhas veias.

Segui em direção ao quarto que Bernardo dividia com Felipe, porque era onde ele deveria estar para não ter aparecido ali ainda. A porta estava fechada quando me aproximei, me fazendo hesitar quando segurei a maçaneta da porta. Não fazia ideia do que dizer a ele. Quando sai do apartamento minutos antes, tinha na cabeça tudo que queria dizer, mas tudo sumiu nesse exato momento, como se a possibilidade de vê-lo depois de dois dias alterasse a química do meu cérebro.

A porta se abriu antes que eu decidisse o que fazer primeiro. Meu coração despencou no peito quando Bernardo me viu, dando um passo assustado para trás, como se me ver ali fosse a última coisa que ele esperasse. Meu peito se apertou, com aquele medo de ser rejeitada tomando conta de mim. Mas forcei isso pra longe, decidida a não deixar absolutamente nada disso me atrapalhar mais.

Os lábios dele se abriram como se ele quisesse me dizer alguma coisa, antes dele engolir em seco e então apenas me olhar, daquele mesmo jeitinho que sempre fazia, como se nunca tivesse me visto antes, ao mesmo tempo soava como se eu fosse o centro do seu universo. Me dei conta, naquele exato momento, que eu também poderia amá-lo e ser a melhor pessoa do mundo por ele.

—Eu li suas mensagens hoje. —Foi o que consegui dizer, porque as palavras estavam emboladas na minha língua. —E o que fez no meu quarto.

—Eu queria que você tivesse tudo que tinha desejado nele. —Afirmou, enquanto eu notava a tinta seca nas suas mãos e nas suas roupas, da mesma forma que seus amigos estavam. —Você gostou?

—Eu amei. —Nos dois não desviamos os olhos um do outro, enquanto aquela distância entre nós gritava para que nos aproximássemos e nos tocássemos. —Obrigada por isso, era exatamente como eu queria.

Ele balançou a cabeça que sim, como se sequer estivesse respirando e não fosse mais capaz de falar. Calor manchou minhas bochechas, enquanto o nervosismo deixava minhas mãos soadas. Tudo que eu queria era que as coisas entre nós voltassem ao normal. Tudo que eu queria era enterrar toda aquela situação ruim e seguir em frente.

—Meu quarto está cheirando a tinta, então acho que vou precisar da sua cama emprestada hoje. —Sussurrei, vendo a sombra de um sorriso surgir nos lábios dele. Era tão pequeno, mas foi o suficiente para causar uma explosão de felicidade dentro de mim.

—Estamos bem, Manu? —Indagou, dando um passo na minha direção. Meu coração se estilhaçou quando ele tocou minha bochecha, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Balancei a cabeça que sim, me inclinando na direção dele, até seus braços me envolverem. O sorriso dele ficou maior quando ele encostou a testa na minha, fechando os olhos como se estivesse apreciando aquele nosso momento. —Me desculpa. Eu não deveria ter falado aquilo naquele momento e daquele jeito. Você não precisava de mais merda quando a situação já estava ruim.

—Tudo bem. —Ergui minha mão e toquei o rosto dele, sorrindo tanto que minhas bochechas doeram quando vi aquelas covinhas aparecendo pra mim. —Me desculpa por afastá-lo também. Sei que você só estava tentando me proteger.

Ele balançou a cabeça negativamente, como se aquilo não tivesse mais importância.

—Senti sua falta, gatinha. —Os lábios dele roçaram nos meus e eu soube que tudo ia mesmo ficar bem. E quando Bernardo me beijou, tive certeza que já o amava, com cada pedacinho quebrado e confuso dentro de mim. Mas o amava da maneira mais verdadeira possível apesar disso.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now