Capítulo 20: É minha comida favorita.

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Não demora muito pra praia ficar lotada. Na verdade, não demorou quase nada. Ao nosso redor a areia vai sendo preenchida por famílias, amigos e mais surfistas, enquanto eu começo a desejar ir embora o mais rápido possível. Não tenho problemas com as pessoas, eu só não me sinto confortável em lugares muito lotados. Não consigo ficar muito tempo fora de casa antes de desejar voltar correndo pro meu quarto e as minhas coisas.

Érika abandonou o mar depois de alguns minutos, vindo se juntar com Melissa e Júlia em uma conversa sobre os melhores doramas que elas já assistiram. Eu fiquei de fora, porque simplesmente nunca assisti um dorama na vida. Mas era engraçado ver a animação das três conversando.

Bernardo não voltou pra onde estávamos. Eu o vi sair pra caminhar pela praia com Eduardo e Felipe. Não sei se ele ainda estava pensando no que havia quase acontecido, assim como eu estava, mesmo que eu fizesse de tudo para me distrair. Mas meu coração ainda não havia voltado ao normal, não importa quanto tempo estava passando.

—Vou comprar alguma coisa pra beber, vocês querem? —Elas negaram, enquanto eu ficava de pé e caminhava até a barraquinha mais próxima de onde estávamos. O sol já estava se tornando quente demais, a ponto de eu sonhar com uma piscina de gelo. Me sentei em uma das cadeiras que havia ali e pedi uma água

—Você já não parece mais tão animada com a praia. —Diogo apareceu do nada, se sentando ao meu lado, pedindo algo pra ele também.

—Culpe meu cérebro por isso. Ele não consegue focar em uma coisa só. —Dei de ombros, o que o fez rir. —Vou ficar bem, sério. Não é a primeira vez que fico entediada na praia ou em qualquer outra coisa que eu esteja fazendo.

—Quer que eu te leve pra casa? —Indagou, me fazendo balançar a cabeça negativamente, por mais que estivesse grata pela preocupação dele.

—Não vou estragar a sua tarde só porque não estou animada. —Afirmei, vendo ele comprimir os lábios, como se eu não estivesse estragando nada. Ele ficou em silêncio quando o rapaz entregou nossas águas, parecendo perdido em pensamentos, assim como eu. —Escuta, Diogo, sei que as coisas andam um pouco esquisitas entre nós.

—Esquisitas do tipo você andar me evitando? —Ele riu da minha expressão culpada. —Você é péssima em esconder suas emoções, sabia?

—Desculpa, eu não quero me afastar de você nem nada. Não quero que pense que não gosto de você, Diogo. Trabalhamos juntos e somos amigos. Gosto de você e não quero que isso mude. —Afirmei, tentando ser sincera com alguém, pelo menos uma vez na vida. —Só não quero estragar as coisas entre nós.

—Você não precisa me dizer, Manu. Eu entendo. Não sou do tipo que vai virar um babaca só porque uma garota me deu um fora. —Ele riu, parecendo mais tranquilo do que qualquer outra coisa. —Gosto da sua amizade. Mesmo que as vezes pareça que não, estou feliz pelas coisas serem como são.

Entendi o que ele estava querendo dizer, lembrando do momento constrangedor e tenso de mais cedo, quando ele e Melissa chegaram. Na verdade, eu o entendo. É difícil controlar as emoções. Não consigo ficar meio brava ou meio chateada. Tudo é sempre demais pra mim. Não tirar Bernardo da cabeça é a prova disso.

Conheço ele a dois anos, mas estamos convivendo a quatro dias e ele se infiltrou na minha cabeça. Odeio como isso me faz soar um pouco iludida demais. Não sei onde isso vai dar e não quero pensar nisso. Não posso me esquecer que falei com ele pelas aulas de cálculo. Um beijo ou o que quer que esteja rolando entre nós não pode estragar isso.

—Terra chamando, Manuela. —Diogo esfregou minha testa, me fazendo exibir uma careta e soltar uma risada. —Tem certeza que não quer ir pra casa? Eu realmente não me incomodo.

—Não, estou bem, juro. —Insisti, apontando para o cara que estava vendendo comida enquanto caminhava pela praia. —Mas você pode me pagar um churros de areia.

—Churros de areia? —Ele soltou uma gargalhada.

—Claro, você acha mesmo que com ele andando a praia inteira, não vai ter uns grãos de areia misturado com o açúcar e a canela? —Afirmei, vendo uma mulher comprando dois churros, enquanto Diogo exibia uma careta. —Churros de areia, cara. É um apelido fofo que eu dei pra ele.

—E você quer um? —Ele riu mais ainda quando eu dei de ombros.

—É minha comida favorita. —Revelei, vendo ele balançar a cabeça negativamente.

—Tudo bem, mas eu prefiro comprar em um lugar que me de certeza que não vá ter areia junto. —Ele se levantou, enquanto eu sorria ao vê-lo se afastar, indo realmente procurar outro lugar pra comprar um.

—Quem é o Deus grego em forma de gente? —Érika deslizou para a cadeira que Diogo ocupada segundos antes.

—Diogo. Mas eu nem tentaria se fosse você. —Falei, vendo ela me lançar um olhar questionador. —Ele não tem namorada. Mas o seu irmão está aqui, caso tenha esquecido, e o Diogo é 8 anos mais velho que você. Além de você ser menor de idade.

—Só mais uma derrota diária pra minha conta. —Ela choramingou, soltando um suspiro frustado.

—Devem ter garotos bonitos na sua escola. —Comentei, vendo ela fazer uma careta. —Dá sua idade.

—Uns idiotas que só querem saber de jogar Free Fire e fazer piadinhas infantis? To fora. —Ela torceu os lábios como se os garotos tivessem doenças contagiosas, o que me arrancou uma risada sincera. —Quer saber, eu vou voltar pro mar que eu ganho mais.

Ela realmente voltou pro mar, enquanto eu sorria e negava com a cabeça, imaginando como Érika seria quando fosse mais velha. Tinha quase certeza que ela faria Eduardo ter um infarto em algum momento. Algumas vezes eu penso que gostaria de ter tido um irmão também.

Olhei para trás quando escutei a voz de Felipe, junto com o som de um vilão. Ele, Eduardo e Bernardo estavam sentados juntos com Júlia e Melissa. Bernardo estava tocando vilão enquanto Felipe começava a cantar. Não consegui mais desviar os olhos deles, me sentindo um pouco perdida quando Bernardo olhou pra onde eu estava. O sorriso escondido nos lábios sérios, enquanto seus olhos pareciam querer dizer muitas coisas pra mim.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now