Capítulo 51: Eu posso ir com você.

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Fiquei parado enquanto via Manu falando com a mãe no telefone. Não podia ouvir o que estavam falando, porque Manu havia se afastado de mim, parecendo tensa e até mesmo preocupada a medida que os segundos iam passando. Coloquei minha mochila nas costas, pegando a de Manu que ela havia soltado no chão.

—Preciso ir pra casa, a gente se vê depois, tudo bem? —Ela se aproximou de mim assim que desligou, pegando a mochila das minhas mãos enquanto eu franzia a testa e tentava entender o que acontecia ali e porque ela parecia com tanta pressa.

—O que? —Eu segurei o braço de Manu quando ela tentou se afastar de mim, rápido demais. —O que está acontecendo? Aconteceu alguma coisa com os seus pais?

—Eu não sei direito. Minha mãe disse que eles brigaram e meu pai saiu de casa... —Ela balançou a cabeça negativamente, começando a se afastar de mim, o que me obrigou a ir atrás dela. —Eu preciso ir, Bernardo. É sério.

—Eu posso ir com você. —Afirmei, vendo ela me lançar um olhar carregado por cima do ombro, cheio de dúvidas. —Te levei pra conhecer os meus pais, esqueceu? —Eu não estava cobrando nada, eu só queria que ela confiasse em mim pra entrar nessa parte da sua vida também. Sabia que os pais eram importantes, mesmo sendo do jeito que eram. —Me deixa ir com você, Manu.

—Meus pais não são como os seus, Bernardo. —Ela parou de andar, se virando pra mim com o nervosismo escancarado no rosto. —Eles não vão ser gentis com você ou te dizer pra voltar lá outras vezes.

—Eu quero ir junto por você e não por eles. —Rebati, vendo ela morder o lábio, me encarando com tanta dúvida que meu coração se apertou por alguns segundos, com medo que a gente voltasse pra trás e ela acabasse me afastando. Estava tudo indo bem. Não queria que nada desse errado agora. —Eu posso te levar de carro. Se não quiser, eu não desço. Só me deixa ir com você.

Ela pensou por alguns segundos e então balançou a cabeça que sim. Soltei um suspiro de alívio, antes de segurar a mão dela e a puxar em direção ao meu carro. Teria que mandar uma mensagens para Felipe explicando que não pudemos esperar por ele, onde quer que ele tenha ido se enfiar.

Manu me passou o endereço da casa dela e eu não hesitei em ligar o carro, mesmo que meus dedos tremessem toda vez que eu pegava no volante. A sensação de desconforto era aplacada pela preocupação que eu estava sentindo por Manu. Ela merecia pais melhores. Ela não deveria se importar tanto com eles, quanto se preocupa.

Nosso caminho foi todo em silêncio. Eu olhava pra ela uma vez ou outra, observando seus ombros rígidos enquanto olhava pela janela, mordendo o lábio sem parar, ao mesmo tempo que apertava uma mão contra outra. Queria poder falar alguma coisa que a deixasse mais tranquila, mas nem sabia ao certo o que estava acontecendo. Ela me deixar ir junto já era muita coisa.

—É aquela ali. —Ela apontou para a casa no final da rua, com as luzes da sala acesa e a garagem aberta e vazia. Estacionei o carro na frente, observando ela tirar o cinto e esfregar as mãos na calça. —Espera aqui, por favor.

—Se precisar, me chama. —Falei, vendo ela balançar a cabeça que sim e então sair do carro, caminhando em direção a porta da frente. Não tirei os olhos dela um único segundo sequer, batendo meus pés no carpete do carro até vê-la desparecer lá dentro. Meu celular vibrou no bolso, enquanto eu via a sombra de alguém passar pela janela.

L. Felipe — Tive um problema.
Onde vocês estão?

Respondi a mensagem dele no automático, erguendo a cabeça para a casa de novo quando Manu saiu batendo a porta, vindo na direção do carro a passos rápidos. Não parecia triste, mas estava tão tensa quanto antes. Esperei ela entrar no carro, passando o cinto antes de olhar pra mim e hesitar. Não perguntei nada, esperei que ela quisesse me falar.

—Tenho que ir buscar meu pai em um bar. Eles ligaram aqui pra casa avisando que ele estava um pouco alterado e não queria ir embora. —Os lábios dela tremeram quando ela evitou olhar pra mim. —Pode ir comigo? Ou...

—Qual o endereço? —Eu já estava ligando o carro, me sentindo mal por ela ter que passar por essas coisas com os pais. Mas de jeito nenhum eu a deixaria passar por isso sozinha.

Dirigi até lá em silêncio, querendo dar espaço pra ela. Tinha medo de falar alguma coisa e criar uma parede entre nós dois. Além do mais, meus pensamentos sobre os pais dela não estavam muito positivos naquele momento e eu provavelmente falaria alguma merda. Não havia lugar para estacionar perto do lugar. Então paramos uma quadra antes e fomos a pé. Manu estava andando com os braços cruzados na frente do corpo e os ombros caídos.

—Vai ficar tudo bem, Manu. —Toquei as costas dela, ouvindo ela soltar uma risada amarga.

—Acho que eles vão se separar. Quer dizer, eu já esperava por isso. Sempre tive certeza que eles não se amavam mais. —Ela balançou a cabeça negativamente, se encolhendo mais ainda quando chegamos na frente do lugar. —Mas eu ainda sim fui pega de surpresa quando minha mãe falou que vai pedir o divórcio.

—As vezes, a melhor coisa que as pessoas podem fazer, é se divorciar. —Afirmei, porque aquela era a única opção quando não se existia mais amor. —Temos um bom exemplo disso com os pais de Eduardo.

Manu não respondeu, porque estava olhando com uma expressão tensa para o bar que iríamos entrar. Segurei a mão dela e a mantive atrás de mim quando entramos, porque não tinha muita certeza da situação que encontraríamos o pai dela. Alguma coisa me dizia que ele não iria ficar nem um pouco feliz em nos ver ali. Em ver ela ali.

—Bernardo? —Ela parou, segurando na minha camiseta do time, antes de indicar com a cabeça o homem sentado na frente do bar, virando uma garrafa de vodka da boca. —É ele.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now