Capítulo 39: Camisa 10.

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Bernardo realmente chegou rápido. Eu estava na frente do prédio esperando quando o carro parou e ele abaixou o vidro, mostrando que era ele quem estava ali. Abri um sorriso, me sentando no banco da frente ao seu lado.

—Tudo bem? —Ele se inclinou e me deu um beijo, como se aquilo fosse a coisa mais natural de todas, antes de partir com o carro dali.

—Sim, obrigada por vir me buscar. Ia ser um saco ter que pegar ônibus nesse horário. —Afirmei, observando o rosto dele que estava voltado para a rua a medida que atravessávamos o trânsito dê Florianópolis. —Eu estava na terapia.

Eu já tinha falado aquilo pra ele por mensagem, mas senti que precisava falar de novo. Estava na hora de tentar colocar um tijolo de cada vez, como a minha psicóloga havia me dito.

—Falei pra ela sobre você. —Comentei, vendo ele me olhar de relance, antes de voltar a encarar a rua. —Sobre como nos aproximamos e sobre ontem.

—A briga? —Balancei a cabeça que sim, percebendo que ele parecia super pensativo. —Falei de você para os meus pais.

—O que? —Eu quase me engasguei com minha própria saliva ao ouvir aquilo, enquanto meu coração parava de bater por alguns segundos. —Por que falou de mim pra eles?

—Contei sobre as aulas. —Ele deu de ombros, enquanto eu sentia que aquela não era absolutamente toda a história. —Eles querem te conhecer.

Eu fiquei em silêncio, olhando para as pessoas que caminhavam pela calçada, enquanto o carro passava por elas. Minha mente se perdeu em milhares de possibilidades de um encontro entre eu e seus pais. Só de pensar nisso, minha ansiedade chegava a querer explodir de dentro de mim.

—Não vou te levar pra conhecer eles se não quiser. Sei que as coisas entre nós são super recentes. —Ele riu, enquanto uma de suas mãos deixava o volante para repousar carinhosamente na minha perna, manchando minhas bochechas de vermelho com o ato. —Mas pensa nisso, está bem? Talvez daqui algumas semanas, quando as férias começarem.

—Vocês tem planos para as férias? —Indaguei, querendo fugir do assunto. Conhecer os pais dele significava dar um passo muito grande, pra algo mais sério. Ainda não estava pronta pra isso. Se fosse pra eu levar um tombo no futuro, preferia que ele não fosse tão dolorido assim.

—A gente costuma viajar pro interior. —Bernardo deu de ombros, mostrando aquelas covinhas quando levei minha mão até a dele que estava sobre minha perna e entrelacei nossos dedos. —Mas meus pais estavam viajando antes, então vão trabalhar agora em junho. Então é provável que eu vá ficar por aqui mesmo, ou fazer alguma coisa com o Felipe e o Edu.

—E a Érika.

—E a Érika. —Ele concordou com uma risada. —Podemos fazer alguma coisa todos juntos, sabe? Nós e seus amigos.

—Posso ver com eles. —Falei, brincando com os dedos dele, enquanto pensava no quão natural estava sendo pra agirmos daquele jeito. Parecíamos um casal. Mas não éramos. Tudo era muito, muito recente. Mas parecia que nosso momento no laboratório tinha sido anos atrás. —Pra onde a gente está indo?

—Beira-mar. —Ele se virou e sorriu pra mim, apertando minha mão. —Peguei nossos patins antes de vir.

—Nossos patins? —Ergui as sobrancelhas, vendo ele morder o lábio e dar de ombros. —Você esteve no meu apartamento?

—Pedi a chaves emprestada pra Júlia antes de vocês irem trabalhar. Eu dei uma desculpa que queria fazer uma coisa pra você, mas na verdade era o Felipe quem queria fazer pra ela. —Ele riu, balançando a cabeça negativamente. —Devolvi as chaves pra ela antes de ir te buscar. Acho que ela vai ter uma surpresa quando voltar pra casa hoje.

—O que ele fez? —Bernardo olhou pra mim, hesitando por alguns segundos antes de estacionar o carro. Pensei que ele não iria me contar. Mas ele contou, e eu caí na risada ao imaginar a reação de Júlia quando descobrisse.

[...]

No final das contas Bernardo tinha feito bem em levar nossos patins. Era bom não estudar cálculo só pra variar. Poder andar de patins durante a semana e não só quando não tenho mais nada pra fazer. Ele já havia pegado o jeito, andando mais rápido do que eu até. Era até engraçado o quanto ele parecia mais feliz do que eu com aquilo.

—Não deu problema pra você, a briga ontem? —Indaguei, assim que nos sentamos em um dos bancos, observando o por do sol e o mar. Era uma das vistas mais bonitas da cidade.

—Não. Ninguém falou nada hoje, apesar de eu ter ficado com vontade de quebrar a cara daquele idiota, quando o vi hoje. —Afirmou, me fazendo olhar pra ele quando passou o braço ao redor da minha cintura, me puxando para mais perto. —Pelo visto, ainda estou te devendo um gol.

—Uma pena, eu estava gostando de te ver jogar ontem. —Falei, escorando minha cabeça no ombro dele. A calmaria do mar parecia estar passando pra mim. Eu estava muito mais leve desde que conversei com Rafaela. —Acho que nunca gritei tanto na minha vida quando eles te derrubaram.

—Então era você que estava xingando o time adversário quando eles me machucaram? —Ele ergueu meu rosto, me encarando com uma expressão divertida quando eu ri. —Bem que eu achei que conhecia aquela voz super desesperada.

—Super desesperada nada. —Bati no ombro dele, revirando os olhos. —Aquiete esse seu ego, camisa 10. Eu estava torcendo pelo time todo, porque sou da química.

—Se fingir que não está caidinha por mim faz você se sentir melhor, vá em frente, gatinha. —Ele beijou minha bochecha, ficando de pé e me puxando junto com ele. Ergui a cabeça, fazendo uma careta para Bernardo quando ele parou na minha frente. —Mas nos dois sabemos muito bem o que está acontecendo aqui e onde isso vai dar.

—Ah, é mesmo? —Eu passei meus braços ao redor dos ombros dele, escorando meu queixo no seu peito. —E onde, exatamente, isso vai dar, Bernardo?

—Você sabe, Manuela. Mas se não sabe, faço muita questão de te mostrar em vez de falar. —Ele apertou a ponta do meu nariz, me arrancando um sorriso. —Vem, vamos dar mais uma volta antes de irmos pra casa.

—Bernardo? —Eu o segurei quando ele fez menção de se afastar, lembrando da conversa que tivemos sobre seus pais.

Será que aquilo já estava se tornando maior do que eu? Eu não podia entrar na sua vida e não falar nada sobre a minha. Mas só de pensar em falar sobre meus pais, uma bola surgia na minha garganta, me impedindo até mesmo de respirar. Bernardo esperou, me olhando com cautela antes de suspirar e se aproximar de mim.

—Está tudo bem, Manu. Não precisa me falar nada. —Ele me deu um selinho, como se quisesse deixar claro que iria estar sempre ali. —Vou estar aqui quando estiver pronta pra falar, sobre qualquer coisa que quiser.


Continua...
.......
Vocês tem noção que faz 17 DIAS que esse livro chegou no Wattpad e a gente já tá no capítulo 39?? Gente, não faço a menor ideia do que tá acontecendo. Fiquei igual aquele meme do "rapaz, tá certo isso?" quando percebi. É o livro mais rápido que eu vou escrever. Sim, estou surtando.
Obs:  jurei que esse livro ia flopar quando comecei a escrever e olha só onde a gente chegou??

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now