Capítulo 18: Posso te ensinar a andar de patins.

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Não demoramos pra chegar na praia, que já estava um pouco cheia pelo horário. Bernardo, Felipe e Eduardo levaram as pranchas, enquanto eu pegava o violão a pedido de Bernardo. Não via a hora de ouvi-lo tocar de novo. Ontem havia sido um dia incomum pra mim e hoje não parecia diferente. Mais amigos com a gente e meu corpo reagindo aos comentários de certo cara.

—Olha só isso. —Érika parou ao meu lado quando achamos um lugar bom pra parar na praia. Olhei na direção que ela estava encarando, vendo o grupo de surfistas que estavam entrando na água. —Eu amo a praia da Joaquina por isso. Só surfista gos...

—Érika! —Eduardo exclamou, fazendo ela soltar uma risadinha inocente e dar de ombros como se aquilo não fosse nada. —Eu estou ouvindo e se eu ver você de olhos nos caras...

—Eu tenho 16 anos! —Ela retrucou, soltando um grunhido de indignação. —Não sou mais bv, então para de ser dramático e chato.

Eduardo fechou os olhos por longos segundos, parecendo tentar conter o turbilhão de emoções dentro de si. Por fim ele abriu os olhos e soltou um suspiro pesado, esfregando a nuca ao se virar para Bernardo, parecendo cansado.

—Por que caralhos eu não tive um irmão em vez de uma irmã? Seria tudo tão mais fácil. —Murmurou, fazendo Érika soltar uma gargalhada, mostrando a língua pra ele. —Dramático e chato, é cada coisa que eu sou obrigado a ouvir.

Eu ri dos dois, ajeitando minhas coisas no chão, abrindo o lenço sobre a areia para me sentar. Júlia se sentou ao meu lado, se entupindo de protetor solar, como se o sol fosse derretê-la ali mesmo, naquele instante. Observei Felipe pegar a prancha e partir pra água, parecendo não querer esperar um segundo. Eduardo e Érika foram logo atrás, gritando sobre as ondas estarem perfeitas.

—Quer ajuda? —Olhei para Júlia, só então percebendo que ela estava falando com Bernardo e não comigo. —A Manu pode passar nas suas costas.

—Se não for incômodo. —Ele olhou pra mim, segurando o protetor solar com os olhos curvados e a testa franzida por conta do sol que batia no seu rosto. Meu coração disparou quando ele tirou a camiseta, revelando os belos músculos de quem certamente fazia academia ou passava muitas horas jogando futebol.

—Vira, por favor. —Peguei o protetor solar das mãos dele, esperando ele se virar de costas.

Lancei um olhar afiado na direção de Júlia quando ele não estava mais olhando, vendo o sorriso maroto que estava nos lábios dela, antes da mesma levantar e se afastar em direção a uma barraquinha de comida e bebidas, nos deixando sozinhos ali.

Bernardo estava colocando um boné preto na cabeça quando me virei pra ele de novo, com o coração na boca ao colocar uma quantidade generosa do produto na mão e então passar nas costas dele. Meu corpo inteiro ficou arrepiado quando senti o quão macia e quão quente sua pele era, sem qualquer cicatriz ou marca.

Tentei não tremer, porque estava incrivelmente nervosa naquele momento. Era incrível a capacidade que Bernardo tinha de me tirar do eixo, me deixando quase transbordando com várias sensações diferentes. O pior de tudo é que eu tinha quase certeza que ele sabia o que causava em mim.

—Então, nós vamos estudar amanhã? —Indagou, respirando um pouco mais rápido do que o normal a medida que eu passava o protetor na linha da bermuda e então subia para seus ombros e sua nuca, com uma eletricidade correndo entre nós dois.

—Ah, pode ser. A gente pulou quinta pra ficar jogando Super Mário. —Falei, arrancando uma risada baixa dele. —Qual horário é bom pra você?

—Qualquer horário que seja bom pra você. —Retrucou, me fazendo engoli em seco quando o tom da sua voz deixou claro que eu estava no comando. Pensei no que Júlia disse, ao mesmo tempo que fiquei hesitante sobre dar o primeiro passo. —Me manda uma mensagem amanhã quando estiver a fim de estudar. Vou ficar o dia todo em casa, então estou livre. —Ele se virou quando eu terminei, me lançando um sorriso preguiçoso de agradecimento que fez meu coração derreter um pouquinho. —Obrigado. Quer que eu passe em você?

—Ah, não, Júlia passou antes de sairmos. —Falei, sabendo que se ele colocasse as mãos em mim naquele momento seria meu fim. Não sei como vim parar nessa situação de estar completamente interessada nele, sem conseguir pensar em mais nada enquanto ele me olha desse jeito intenso. —Você vai entrar na água?

—Você vai entrar na água? —Ele devolveu a pergunta, me fazendo morder o lábio para não sorrir, antes de negar com a cabeça.

—Vou ficar aqui um pouco. Não sou muito a favor de água gelada. —Comentei, me sentando no lugar que eu havia arrumado pra mim, nada surpresa ao vê-lo se sentar ao meu lado e puxar o violão, começando a ajustar as cordas. —Você tocou super bem ontem. É um pouco desconcertante o quanto você tem talento pra tudo.

—Você também tem, só não descobriu quais são ainda. —Afirmou, me lançando um olhar carregado. —E eu não sou bom em tudo. Tem coisas que eu sou um completo desastre.

—Tipo? —Ergui as sobrancelhas, vendo ele morder o lábio e negar com a cabeça.

—Sou péssimo em vôlei e basquete. —Eu ri, enquanto ele dava de ombros, antes de ficar sério por alguns segundos, como se estivesse pensando longe. —Não gosto de dirigir. Sofri um acidente de carro quando estava aprendendo. Errei os pedais e fiz merda. Agora, toda vez que eu preciso dirigir, fico ansioso pra caramba. Pode parecer idiota, mas não consigo controlar minhas emoções quando pego no volante. É um pouco frustrante e constrangedor.

Não soube como reagir aquilo, sentindo toda sinceridade naquelas palavras. Bernardo não estava olhando pra mim, ocupado em ajustar o violão enquanto contava aquelas coisas. Quis contar algo também, mas tudo que eu tinha eram coisas negativas relacionadas ao TDAH e aos meus pais.

—Também não sei andar de patins. Tentei uma vez, mas cai e quebrei a mão. —Revelou, erguendo os olhos para ver minha reação aquilo. —Então tem algo que você vai muito bem e eu muito mal.

—Posso te ensinar a andar de patins. —Sugeri, em um momento de coragem, mesmo que estivesse morrendo de timidez por dentro. Mas Bernardo sorriu, me olhando como se não houvesse nada mais perfeito no mundo. —Se você quiser.

—Mesmo? —Ele desviou os olhos, encarando o mar com uma expressão calma. —Porque eu acho que existem poucas coisas que eu diria não pra você.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now