Capítulo 12: Meus pais estão se separando.

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Estava um pouco frustrada quando atendi a ligação, mesmo que a culpa não fosse de Júlia por eu ter expectativas demais em relação aos meus pais.

Manu — Oi, Júlia. Precisa de alguma coisa?

Juju — Não, eu só estranhei não encontrar você em casa. Não vi você saindo. Pensei que ia estudar com o Bernardo. Tá tudo bem?

Manu — Ah, sim. Na verdade, eu tô no apartamento dele.

Juju — Ah...

Sim, ela literalmente disse só isso. Um mísero "Ah..." cheio de significados impróprios. Olhei para Bernardo, percebendo que ele estava me observando com a testa franzida, como se estivesse muito confuso naquele momento.

Juju — Tudo bem então. Só queria saber se você estava bem. Você vai jantar aí? Vou pedir alguma coisa pra mim e posso pedir pra você também.

Manu — Não, não, eu vou jantar aqui. Mas obrigada. Daqui a pouco eu volto pra casa.

Juju — Hmmm, então tá bom, dona Manuela. Não esquece de usar a camisi...

Eu desliguei antes que ela completasse, torcendo muito para que Bernardo não tivesse escutado aquilo. Quando olhei pra ele, Bernardo estava com as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho na cara. Puta merda, eu não tenho sorte mesmo.

—Não liga pro que ela disse. Ela só estava me provocando. —Comentei, indo me sentar ao lado dele de novo, ouvindo sua risada.

—Acho que ela se daria muito bem com o Felipe, porque ele também adora me atazanar. —Afirmou, se ajeitando no sofá quando me sentei ali de novo. —Estava esperando a ligação de quem? Pareceu um pouco decepcionada quando viu que era sua amiga.

—Ah, era da minha mãe. —Falei, olhando pra tv, porque não queria que ele notasse a mentira no meu rosto. —Ela deve estar ocupada. Mas tarde eu ligo pra ela.

—Eles são daqui? —Indagou, parecendo subitamente curioso.

—Sim, eu os visito de vez em quando. —Era mentira. Fazia muito tempo que eu não ia lá, mesmo morando na mesma cidade que eles. —E os seus pais?

—Eles são daqui de Floripa também. Mas estão viajando. O irmão do meu pai mora nos Estados Unido, então eles foram os visitar. —Esclareceu, enquanto eu sentia uma pontada de inveja, porque todo mundo parecia ter famílias normais, menos eu.

A porta do apartamento abriu, com uma voz feminina resmungando alguma coisa. Ergui os olhos, vendo uma garota loira que não parecia ter mais de 16 anos entrando no apartamento ao lado de Eduardo. Não precisei de muito pra saber que era a irmã dele, já que os dois eram visivelmente parecidos.

—Ah, não! —Ela parou na porta da cozinha, soltando um gritinho. —Por que você tá cozinhando? Hoje é o dia do Bernardo.

—Qual o preconceito com a minha comida? —Felipe saiu da cozinha e parou na frente dela, colocando as mãos na cintura.

—É péssima. Você e o Edu são uma tragédia na cozinha! —Exclamou, fazendo uma careta. —O único que sabe cozinhar decentemente aqui é o Bernardo.

—Cozinha você então, sua enjoada! —Felipe retrucou, enquanto Eduardo revirava os olhos por ouvi-los discutindo.

—Érika, Manu. Manu, Érika. —Eduardo murmurou, gesticulando entre nós duas, quando a garota se virou e viu que eu estava ali. —Ela é nossa colega de química e essa coisa é minha irmã.

—Coisa é a sua cara. —Ela bufou, caminhando na direção do sofá, se sentando do meu lado. —É um prazer, Manu. É bom não ser a única mulher na casa pra variar. Apesar de você ter vindo em um dia péssimo, porque o Felipe cozinha pior que a minha vó.

—Por que sua irmã está dando pitaco na minha comida se ela nem sabe fritar um ovo? —Felipe jogou o pano de prato sobre o ombro e olhou para Eduardo, que deu de ombros, com uma expressão frustrada.

—É assim todo dia. —Bernardo comentou, me fazendo rir, antes de ficar de pé e ir pra cozinha junto com eles.

—Vocês estão se pegando? —Érika indagou, quando Bernardo sumiu, me fazendo engasgar com minha própria saliva.

—O que? —Soltei uma risada nervosa, negando com a cabeça. —Estamos estudando juntos só.

—Certeza? Porque ele te olha como se quisesse te pegar. —Afirmou, fazendo meu rosto ficar tão quente que não consegui dizer nada. —Eu moro com eles a uns meses, então posso te dar certeza disso.

—Por que você está morando aqui? —Questionei, preferindo ignorar a primeira parte.

—Meus pais estão se separando. —Eu soltei um suspiro pesado e ela balançou a cabeça. —Pois é, uma merda, você deve imaginar. Então enquanto eles se matam pra decidir quem vai ficar com o que, o Edu resolveu me trazer pra morar com ele. Ele não me quer no meio dessa confusão. —Ela olhou para as unhas, que estavam pintadas de um rosa já descascando. —Mas eu acho que daqui a pouco o tema das brigas vai ser eu, quando eu tiver que escolher com quem quero morar. Apesar de eu querer dar um soco no meu irmão a maior parte do tempo, ainda prefiro ficar com ele.

—Vocês dois já conversaram sobre isso? —Perguntei, observando a pele super bronzeada de Érika, como se ela fosse muito pra praia. —Você e o Edu, quero dizer.

—Já sim. A escolha é minha. Se eu quiser ficar com ele, posso ficar. Se eu quiser ir pra casa de um dos meus pais, ele me leva. —Ela deu de ombros, pegando o controle pra começar a jogar quando o viu na tv. —Seus pais são separados?

—Não, eles ainda são casados. —Falei, apesar de achar que eles não se amaravam mais.

Na maioria das vezes que eles ligavam, é porque estavam brigando um com o outro. Eles queriam que eu fosse uma mediadora, mas normalmente eu me tornava um saco de pancadas para ambos. Grande ironia, no final das contas.

—Eu moro no apartamento da frente com uma amiga. —Falei, chamando a atenção de Érika. —Quando ficar cansada dos três, pode bater ali. Normalmente eu estou em casa depois das 19:45.

—Sério? —Ela olhou pra mim com os olhos arregalados e um sorriso enorme quando balancei a cabeça que sim.

—Claro. Imagino que as vezes seja um pouco entediante dividir o apartamento com três caras. —Dei de ombros, o que arrancou uma risada dela. —Pode aparecer ali quando quiser.

—O jantar está pronto, garotas. —Bernardo apareceu na porta da cozinha, olhando pra nós duas.

—Você já foi mais cavalheiro, nem pra nos servir. —Érika murmurou, correndo para a cozinha e dando um tapinha no ombro de Bernardo quando passou.

—Quer que eu sirva você? —Indagou, enquanto eu saia do sofá e me aproximava dele. Lembrei do que Érika disse minutos atrás, mordendo o interior da bochecha.

—Você vai me deixar mal acostumada. —Falei, vendo ele erguer as sobrancelhas com um sorrisinho no canto dos lábios.

—Se eu tiver sempre presente pra te ajudar, não vejo como isso possa ser um problema. —Afirmou, antes de piscar pra mim e voltar pra cozinha, fazendo algo doce e agradável dançar na boca do meu estômago.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now