Capítulo 44: Quero ficar aqui com você.

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Bernardo se afastou de mim quando seus pais nos chamaram. Passamos o restante da noite sentados no sofá assistindo filmes e conversando, mesmo que eu não estivesse prestando atenção em quase nada. Eu estava dispersa, com a cabeça em um lugar bem longe dali, mesmo que me esforçasse para conversar com eles quando me dirigiam a palavra.

Tenho certeza que Bernardo percebeu que eu não estava agindo normalmente. Ele sempre sabe quando alguma coisa está errada comigo. Isso soa um pouco estranho, porque não consigo imaginar alguém que conheça minhas emoções mais do que ele, mesmo que tenhamos começado a conviver há pouco tempo.

—Fiquei surpresa ao ver que ele veio dirigindo. —Eloísa comentou, enquanto Bernardo e o pai estavam em uma discussão acalorada sobre futebol. Olhei pra ela um pouco confusa, vendo que ela observava os dois. —Ele te contou sobre o acidente?

—Contou sim. Quando ele estava aprendendo a dirigir. —Comentei, vendo ela balançar a cabeça positivamente. —Estava chovendo, não é?

—Estava. —Ela concordou, com a cabeça se escorando no sofá para continuar a observar os dois. —Ele estava fazendo as aulas práticas pra tirar a carteira de motorista. Bernardo nunca foi muito ligado a carros ou a querer dirigir, mas ele sabia que era importante. Não dá pra andar de Uber e ônibus a vida inteira, certo? —Eloísa negou com a cabeça, comprimindo os lábios. —Era a última aula dele. Estava chovendo e era um horário que o transito estava uma loucura. Um mulher parou o carro bruscamente na frente dele sem dar sinal. Ele tentou desviar e parar, mas na hora do nervosismo errou os pedais e o carro deslizou na pista. O instrutor que estava com ele conseguiu desviar o carro das pessoas na calçada, antes que o carro batesse em uma árvore. Ele estava tremendo quando o tiraram do carro. Tão assustado e se sentindo culpado. —Ela suspirou e então olhou pra mim. O sorriso igual ao dele moldando os lábios. —Ele nunca dirigiu em dia de chuva desde então. Essa foi a primeira vez.

—A culpa não foi dele. Foi da mulher que parou sem avisar. —Afirmei, o que ela concordou com um leve aceno de cabeça.

—Sim, mas todo mundo já se culpou por algo que não era verdadeiramente culpa sua, não é? —Ela soltou uma risada baixa, balançando a cabeça. —Você precisa saber uma coisa sobre o meu filho, Manu. Ele esconde a maioria das coisas dentro de si, mostrando apenas aquilo que as pessoas querem ver dele, porque ele odeia mais do que qualquer outra coisa decepcionar as pessoas. Então mesmo quando ele está irritado ou triste, ele esconde muito bem isso atrás de um sorriso que soa mais confiante do que verdadeiramente é.

—Seu filho é a melhor pessoa que eu já conheci. —Afirmei, percebendo o brilho que se abriu nos olhos dela ao ouvir aquilo, antes de segurar carinhosamente minha mão.

—E você é a melhor pessoa que ele já conheceu.

[...]

Os pais de Bernardo já haviam se recolhido quando sai do banheiro, usando meu pijama e com os cabelos úmidos do banho. Ainda sentia as coisas estranhas entre eu e Bernardo, mesmo que tivéssemos conversado sobre aquilo. Era estranho pra mim pensar que ele sabia que eu era adotada, porque eu queria saber o que se passou na sua cabeça quando me ouviu contar aquilo.

Quase travei quando entrei no quarto dele. Bernardo estava sentado na ponta da cama tocando algumas notas com o violão. Parecia pensar completamente longe, mas ergueu a cabeça quando percebeu que eu havia chegado, já que a porta fez barulho assim que eu a fechei.

—Quer que eu peça o secador de cabelos da minha mãe? —Indagou, indicando meus cabelos molhados.

Balancei a cabeça, mas não tinha certeza se aquilo era um sim ou um não. Estava perdida demais a expressão hesitante dele, da mesma forma que ele ficou depois do jogo. Ele ficou de pé, deixando o violão de lado antes de caminhar até a porta atrás de mim.

—Acho que vou dormir em outro quarto, pra você ficar mais a vontade.

—Nos já dormimos juntos várias vezes. —Falei, percebendo que ele só não havia saído porque eu estava parada entre ele e a porta. Meu coração se apertou, porque pensei por um segundo que ele estava se arrependendo de tudo. —O que está acontecendo?

—Você ficou estranha depois da nossa conversa, como eu imaginei que ficaria. Só pensei que você fosse querer ficar um pouco sozinha. —Ele deu de ombros, me fazendo lembrar das coisas que sua mãe havia me dito. Aquilo me deixou aliviada, ao mesmo tempo que tensa.

—Por que você não me diz o que você quer, em vez de presumir o que eu quero? —Eu dei um passo até ficar bem na frente dele, erguendo o queixo para encara-lo. Minha respiração ficou irregular quando senti uma certa tensão entre nós. Uma eletricidade que estava acendendo uma faísca dentro de mim.

—Eu quero o que for mais confortável pra você. —Afirmou, e eu percebi que aquilo era meio verdade e meia mentira.

—Mas você não sabe o que é mais confortável pra mim. Então, o que você quer? —Repeti, sentindo minha boca ficar seca quando ele se inclinou pra perto de mim. O nariz roçando, fazendo meu coração disparar dentro do peito. Ele hesitou por um tempo, como se não tivesse certeza de nada, mas quisesse tudo.

—Quero ficar aqui com você. —As mãos dele seguraram minha cintura quando eu quase cambaleei para trás ao sentir os lábios dele tocarem os meus de leve. —Quero fazer amor com você na minha cama, porque estou imaginando isso a muito, muito tempo.

Não sei se estava respirando quando o beijei depois de ouvir aquelas palavras, como se fosse combustível o suficiente para me dar coragem de dar a ele o que ele queria. Porque eu estava sentindo a mesma coisa e desejando a mesma coisa a muito tempo também.

Cada pensamento racional evaporou quando senti o gosto dos lábios de Bernardo quando ele me prensou contra a porta, aprofundando o beijo como se quisesse levar absolutamente tudo de mim. E eu sabia o que era aquela coisa quente e perigosa no meu peito, que me deixava com frio na barriga sempre que ele chegava perto e me beijava. Estar apaixonada por ele era assustador.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now