Capítulo 9: Não é legal ignorar os amigos.

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Quinta feira é sempre um dia agradável, porque eu tenho uma aula a menos, o que significa que tenho tempo de sentar e respirar aliviada pelo menos por alguns horas antes de ir pro trabalho. E é um dos poucos dias que consigo almoçar decentemente, sem precisar voltar correndo pra casa pra preparar qualquer besteira e depois correr pro mercado.

Júlia está parecendo um zumbi quando acorda de manhã, me encarando como se sua alma tivesse saído do corpo depois de uma noite bebendo até cair na cama desmaiada, porque foi exatamente isso que ela fez ontem a noite. Somos diferentes nisso também, porque nunca fiquei bêbada uma única vez na vida. Não quero ninguém se obrigando a cuidar de mim enquanto falo merda e nem consigo andar direito.

—Bom dia, Bela Adormecida. —Falei, soltando uma risada ao ver a careta de Júlia, antes de pegar a xicara de café que eu estendi pra ela. —Dormiu bem?

—Tão bem que nem me lembro de nada. —Ela bocejou, passando as mãos pelos cabelos brancos que estavam espetados em várias posições diferentes. —O que foi que aconteceu?

—Você bebeu, deu em cima de uma árvore e o Diogo te trouxe no colo pra casa. —Falei, vendo ela me olhar horrorizada, pra no segundo seguinte cair na gargalhada. Comecei a rir também, porque Júlia tinha aquele tipo de risada contagiante que te fazia rir apenas por ouvi-la gargalhando.

—Pensando bem, eu lembro sim. Aquele juiz filha da mãe roubou descaradamente e a gente perdeu, tive que afogar as mágoas na bebida. Espero estar viva pra aula mais tarde. —Ela bocejou de novo, dando um longo gole no café. —E você e o Bernardo? Lembro que quando chegamos vocês dois estavam só sorrisos.

—Não estávamos só sorrisos. —Sibilei, bufando quando ela riu. —A gente só se entendeu e eu descobri que ele é um ótimo professor.

—Como assim se entendeu? —Júlia me encarou com as sobrancelhas erguidas. —Vocês falaram sobre as piadas infantis que eles fizeram sobre você?

—Sim. Ele pediu desculpas e prometeu que não vai mais acontecer. Pelo menos ele parecia estar sendo sincero. —Dei de ombros, observando a cabeça de Júlia se mover como se ela estivesse guardando aquela informação.

—Isso é bom, porque se não eu vou invadir o apartamento dele e dar um soco naquela cara bonitinha que ele tem. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada, antes de perceber o que ela havia falado.

—Você sabia que ele era nosso vizinho? —Indaguei, vendo ela beber mais café, franzindo a testa com a minha pergunta.

—Sim, você não? —Quando balancei a cabeça negativamente, Júlia soltou uma risada. —Ele já morava aqui quando nos mudamos, sua desligada.

—Eu nunca o encontrei aqui, como eu ia saber? —Exclamei, esfregando a mão na testa. Ser desligada e desatenta era comigo mesmo. Nada de novo sob o sol. —Vamos estudar hoje de novo. Acho que isso vai me ajudar muito.

—Pelo menos alguém aqui tá tendo sorte. Meu time perdeu. Flertei com um cara só pra depois descobrir que ele tinha namorada e depois fui dar em cima de uma árvore. —Júlia esfregou os olhos, balançando a cabeça negativamente. —Eu não tenho sorte, Manu. Quando eu me interesso por um cara bonito, ou ele é gay ou tem namorada. —Soltei uma risada, o que a fez rir também. —É sério. É sempre assim. Por isso eu pego garotas também, você deveria seguir o meu exemplo.

—Eu não to desesperada pra beijar.

—Nem eu, mas isso não significa que de vez em quando não seja bom. —Murmurou, me fazendo balançar a cabeça negativamente e sorrir com a tranquilidade que ela falava aquilo.

[...]

Ainda estava de jaleco e óculos quando sai do laboratório no meio da manhã, depois de uma desastrosa tentativa de fazer uma reação química que quase explodiu na minha cara, antes de eu receber um olhar reprovador do meu professor por ter errado na quantidade de produtos que coloquei. Tudo bem, esse eu mereci.

Quando passei no meu armário pra pegar minhas coisas, encontrei aquele grupo de pessoas, que me olham de soslaio enquanto eu tirava o jaleco e o óculos para guardar. Ignoro a existência deles como estou acostumada a fazer. Só porque Bernardo pediu desculpas, não significa que os idiotas dos amigos dele tenham a mesma mentalidade pra fazer isso. Tenho certeza que pra maioria deles tanto faz se seus comentários estão machucando alguém.

Soltei uma respiração pesada quando vi outro laboratório abrir e a turma de Bernardo começar a sair dali. Podia ver ele junto com o garoto loiro e de expressão risonha, que sei que é Eduardo, um de seus colegas de apartamento. Não quero ignora-lo, mas também não estou afim de socializar com os amigos dele. Então peguei minhas coisas e saia dali antes que ele me visse.

Júlia e Melissa estavam me esperando no restaurante universitário quando cheguei. A amiga de história de Júlia estava atualizando ela sobre sua tentativa de flertar com uma árvore quando estava bêbada, o que arrancou várias risadas de Júlia. Arrumei meu almoço e me sentei com elas, feliz por poder respirar longe dos professores.

—Dá próxima vez você precisa ir com a gente, Manu. —Melissa chamou minha atenção, abrindo um de seus sorrisos calorosos. Não somos tão amigas, mas o fato de ela ser super próxima de Júlia por conta do curso nos faz sair juntas muitas vezes. —Júlia xingou tanto que eu pensei que o dono iria nos expulsar de lá. Além do Diogo não parar de perguntar sobre você.

—Eu estava estudando, não tinha tempo pra ver jogo. —Afirmei, dando de ombros. —Mas da próxima vez eu vou, prometo.

—Eu só sei que a gente precisa ir pra praia no sábado. Não quero ficar entocada em casa. —Júlia murmurou, enquanto eu puxava meu celular do bolso quando ele começou a vibrar.

Bernardo — Não é legal ignorar os amigos, sabia?
Parte meu coração.

Mordi o interior da bochecha, sem acreditar que ele havia realmente me visto saindo de lá. Mas ele viu, e ainda mandou uma figurinha de um cara chorando. Sorri, balançando a cabeça negativamente ao ver que ele ainda estava digitando.

Bernardo —Alias, bom ver que você me levou a sério ontem.
Essa maçã ao lado do seu prato parece deliciosa.

Fiz uma careta, erguendo os olhos e encarando ao redor, até encontra-lo sentado algumas mesas atrás de mim, junto com seus amigos. Ele sorriu quando o olhei, erguendo uma das sobrancelhas pra mim, como se fosse a criatura mais inocente do planeta.


Continua...
......
Adicionei os outros personagens nos aesthetics, caso alguém ainda não tenha visto<3

Todos os &quot;eu te amo&quot; não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now