Capítulo 29: Não quero dormir sozinha.

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O motorista do Uber me encarou com desconfiança quando desci do carro junto com Manuela, provavelmente imaginando o que eu faria com ela. Não me senti ofendido, porque sabia que hoje em dia era difícil saber se alguém era de confiança ou não. Ainda mais que eu estava carregando uma garota bêbada.

—Bernardo... —Manuela gemeu quando paramos em frente ao elevador, com os olhos praticamente fechados e os pés tropeçando uns nos outros. Peguei ela no colo e entrei no elevador quando a porta se abriu, sentindo ela esfregar a bochecha contra o meu ombro. —Hm, você vai me levar pra sua cama?

—Não, vou te levar pra sua cama. —Beijei a testa dela, ganhando um sorriso torto em resposta, antes dela fazer um biquinho com os lábios e apertar os braços ao redor dos meus ombros.

—Mas eu quero ir pra sua cama, dormir agarradinha com você. —Afirmou, me fazendo muito desejar que tivesse falado essas coisas quando estava sóbria. —Eu tenho medo de escuro, Be. Não quero dormir sozinha.

—Vou ficar ali até você dormir. —Prometi, tendo certeza que ela iria apagar no momento que eu a colocasse na cama. O elevador se abriu e eu segui até a porta do apartamento dela, colocando-a no chão com cuidado, porque ela não queria desgrudar de mim.

—Assim eu não quero... Me leva pra sua cama! —Resmungou, antes de afundar o rosto no meu pescoço e soltar uma risadinha. —Você tá apalpando minha bunda.

—Desculpa, só estou procurando suas chaves. —Afirmei, engolindo em seco ao sentir sua respiração na minha garganta, fazendo meu coração acelerar tanto que parecia que havia algo de errado dentro de mim. Mas era só o efeito Manuela, que eu já estava acostumado.

—Eu não tenho muita bunda, mas meus seios são bonitos. —Contou, e eu praticamente me engasguei ao ouvir aquilo, suspirando de alivio quando finalmente encontrei as chaves dela no bolso da frente. —Você quer ver?

—Prometo que não vou falar sobre isso quando você estiver melhor. —Falei, vendo o sorriso lindo que ela deu pra mim quando a encarei.

—Bernardo, seu apartamento fica pro outro lado. —Eu a peguei no colo de novo assim que abri a porta e entrei, fechando a porta atrás de mim. —Tchau, apartamento do Bernardo... Por que eu não posso dormir na sua cama? É meu segundo fora da noite. Primeiro do Bernardo e agora do quarto dele.

—Eu nunca te daria um fora. Mas eu divido o quarto com o Felipe e... —Eu tropecei, me escorando na parede quando ela chupou descaradamente meu pescoço, fazendo uma onda de calor se espalhar pelo meu corpo. Ela iria me matar. Essa diabinha linda iria me matar. —Nossa, como eu gostaria que você estivesse sóbria agora.

—Se eu estivesse você me levava pra sua cama? —Ela se remexeu até eu coloca-la no chão, de frente para a porta do seu quarto. A porta do quarto de Júlia estava fechada e a luz apagada, o que não me dava certeza se ela não havia voltado ou já estava dormindo.

Manuela abriu a porta, ficando uns segundos tentando acender a luz, antes de soltar um gritinho animado quando encontrou o que procurava e o quarto ficou iluminado. Entrei atrás dela, me virando de costas, com o coração chegando a boca quando ela começou a tirar as roupas.

—Manuela? —Chamei, escutando ela resmungar um "hmm?" meio grogue.

—Tá tão quente aqui. —Resmungou, me fazendo olhar por cima do ombro, a encontrando só de calcinha e sutiã, subindo na cama e chutando a coberta para o chão. —Vem deitar comigo.

—Quer que eu ligue o ventilador? —Eu já estava fazendo isso, escutando ela resmungar uma resposta da cama, de onde me observava com o rosto contra o travesseiro.

Deixei ele virado para a cama, porque o quarto estava realmente abafado e eu deveria mesmo ir embora dali, antes que Manuela conseguisse me causar um ataque cardíaco. Mas ela não estava dormindo e eu não queria ir embora antes que ela apagasse de vez e eu tivesse certeza que estaria segura.

—Bernardo? —Ela soltou um gritinho quando fechei a porta e apaguei a luz.

—Eu ainda estou aqui. Você precisa dormir. —Afirmei, caminhando na direção da cama, tentando não bater em nada. Mas Manuela me encontrou antes, me fazendo perceber que havia ficado de pé. Ela se inclinou sobre mim quando seus braços me encontraram, grudando o corpo pequeno e macio no meu peito.

—Não gosto de escuro, gatinho. —Sussurrou quando a empurrei de volta pra cama. —Por que apagou a luz?

—Não posso ficar olhando pra você. —Afirmei, fazendo ela se deitar de novo quando chegamos na cama.

Tirei meus tênis e me deitei ao lado dela, tomando cuidado para não toca-la em lugares inapropriados, porque ela estava grudando o corpo em mim de novo, passando uma perna sobre a minha, enquanto escorava o rosto no meu peito. Cada parte de mim sentia a presença dela como uma reação química prestes a entrar em combustão.

—Por favor, não me odeie. —Pediu, se agarrando mais em mim como se estivesse com medo de eu sumir. —Eu não quero que me odeie e me deixe sozinha.

—Eu não vou te deixar sozinha. Estou aqui, Manu. —Beijei sua testa, a trazendo para mais perto de mim. —Jamais vou odiar você. Isso não é nem possível.

—Você vai se cansar de mim como eles. —Algo se apertou no meu peito quando senti a vulnerabilidade na sua voz. —Vai me odiar quando não aguentar mais minha confusão. Eu sou uma confusão ambulante, sabia? Eu odeio meu cérebro por não me obedecer. Ele é um idiota.

Toquei o rosto dela com a minha mão, sem tirar meus lábios da sua testa, sentindo uma sensação avassaladora de protegê-la tomar conta de mim.

—Ele não é um idiota, linda. Não há nada de errado com você. Gosto do seu jeitinho bagunçado. É perfeito pra mim e eu nunca vou me cansar disso. —Prometi, sentindo ela fungar e esfregar o rosto na minha camiseta. —Não sei quem fez você pensar essas coisas, mas eu jamais vou odiá-la ou me cansar de você. —Sorri contra a testa dela. —Estou te esperando a dois anos. Não deveria duvidar de mim.

—Você está mentindo. Todo mundo mente. Você está mentindo como eles. —Ela bateu de leve no meu ombro. —Por que eles me pegaram se não me queriam? Por que eu não fui escolhida por outra família? —A mágoa na sua voz causou uma sensação pesada dentro do me peito. —Posso te contar um segredo, Be? Só que você não pode contar pro Bernardo de carne e osso. Ele não pode saber. Ninguém pode.

—Manu...

—Eu sou uma substituta. —Sussurrou, soltando um choramingo, enquanto eu prendia a respiração. —Só que eu vim com defeito, por isso eles me odeiam.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now