Capítulo 47: Você não vai atender?

1.5K 242 43
                                    

A professora Carla me entregou minha última prova quando parei na frente da mesa dela, me lançando um olhar demorado antes de abrir um mínimo sorriso. Os outros alunos já haviam saído, porque eu queria mesmo pegar minha prova quando ninguém mais estivesse presente. Mesmo sabendo que fui bem, ainda estava nervosa com a nota.

—Você melhorou muito em cálculo. —Comentou, parecendo feliz com o fato, o que era novidade pra mim. —Ouvi dizer que estava estudando com o Bernardo.

—Sim, ele tem me dado algumas aulas. Está me ajudando muito. —Afirmei, vendo ela balançar a cabeça que sim, provavelmente notando o tom mais do que positivo na minha voz.

—Você é uma ótima aluna, Manuela. Tenho certeza que será uma ótima profissional quando se formar também. —Ela olhou pra mim, me pegando de surpresa com o elogio repentino. —Continue assim que você irá longe.

Concordei com a cabeça, antes de pegar minhas coisas e sair da sala. Não conseguia acreditar que havia acabado de receber um elogio da minha professora mais durona e inflexível. Ela até mesmo havia sorrido pra mim. Um sorriso pequeno, sim, mas sorriu.

—Ei, gatinha! —Olhei pra trás, parando de andar quando vi Bernardo saindo de um dos laboratórios junto com Eduardo e Felipe. Os três estavam de jaleco, tirando o óculos de proteção. A turma saindo logo atrás deles. Mas ignorei todos eles quando Bernardo se aproximou de mim, com aquelas covinhas a mostra.

—Acabei de pegar minha última prova. —Falei, abrindo um sorriso quando Bernardo deu um beijo na ponta do meu nariz. Ele sempre fazia isso e meu coração sempre batia mais forte toda vez. —8,5, acredita?

—Claro que acredito. Você é uma aluna incrível e eu sou um ótimo professor. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada, enquanto Eduardo e Felipe reviravam os olhos ao mesmo tempo.

—Vocês dois não se cansam de serem fofos juntos? —Felipe indagou, empurrando o ombro de Bernardo de leve quando começamos a andar pelo corredor juntos. —Vocês dois vivem grudados agora. Daqui a pouco vão estar até a tv fazendo comercial de margarina como um casal feliz.

—Que foi, ficou com ciúmes? —Bernardo lançou um olhar sarcástico a Felipe, enquanto passava o braço ao redor dos meus ombros, me puxando para mais perto dele. —Ainda não conseguiu seu encontro com a Júlia, depois de semanas tentando?

—Você não tem como saber disso. —Rebateu, fazendo nós três trocarmos um olhar demorado.

—Então você conseguiu? —Eduardo indagou, unindo as sobrancelhas enquanto tentava não sorrir pra expressão disfarçada de Felipe.

Não sabia o que aquilo significava, porque Júlia não estava me dizendo nada do que estava acontecendo entre os dois desde a surpresinha dele pra ela dias atrás. Mas ela andava super estranha nos últimos dias, sempre trocando mensagens com alguém e nunca me deixando ver quem era.

—Isso não é da conta de nenhum de vocês. —Felipe soltou, fazendo Eduardo soltar uma risadinha para provoca-lo ainda mais. Felipe lançou um olhar mortal ao amigo e eu tinha certeza que daria um soco em Eduardo se não estivéssemos dentro do prédio de química.

—Não sei o que está rolando entre vocês. —Falei, tocando o ombro de Felipe para chamar sua atenção. —Mas não leva pro lado pessoal qualquer coisa que a Júlia fizer. O ex namorado dela era um babaca e ela não teve sorte com os caras com quem saiu depois dele.

Ele me encarou por longos segundos ao me ouvir falar aquilo, como se aquela informação fosse muito importante e ele não estivesse esperando por ela. Mas como se não quisesse deixar transparecer absolutamente nada, Felipe balançou a cabeça negativamente, mordendo o lábio inferior.

—Bom, mas eu não sou um babaca. —Afirmou, apontando para Eduardo. —Você, vá arrumar a própria namorada ou cuidar da sua irmã. E vocês dois... —Ele se virou para eu e Bernardo, comprimindo os lábios para não rir. —Leve ele pra morar com você de uma vez, assim eu fico com o quarto só pra mim.

—Não fica, não. —Eduardo retrucou, me fazendo rir da careta que Felipe fez, enquanto saímos de lá. —Aquela cama vai ser minha no momento que Bernardo sair do apartamento.

Os dois continuaram discutindo até chegarmos no restaurante universitário, onde entramos na fila para pegar nossa comida. Pude ver Júlia sentada com Melissa, já almoçando. Parecia um pouco mais contida que o normal. Quando nos aproximamos, as duas ergueram a cabeça. Melissa abriu um sorriso, cumprimentando todo mundo, enquanto Júlia apenas balançou a cabeça em sinal de reconhecimento a nossa presença.

Me sentei ao lado da minha amiga, junto com Bernardo, enquanto Eduardo e Felipe se sentavam na nossa frente junto com Melissa. Felipe olhou na direção de Júlia na mesma hora, como se esperasse alguma coisa dela, mas percebi que Júlia parecia chateada e até mesmo tensa.

—Tudo bem? —Toquei a mão dela por baixo da mesa, fazendo-a olhar pra mim. Júlia pareceu confusa por alguns segundos, mas balançou a cabeça em concordância. Não soava muito convincente e nem um pouco animada como estava ontem a noite quando voltei pro apartamento.

—Sim, só estou cansada. Sabe que o final do semestre é socado de provas. —Resmungou, soltando uma respiração pesada quando seu celular começou a tocar. Mas Júlia continuou comendo, sem fazer qualquer menção de atende-lo.

—Seu celular está tocando, Jujuba. —Felipe murmurou, fazendo tanto Eduardo como Melissa se engasgarem com a comida ao seu lado. Júlia o fulminou com o olhar, apertando as mãos ao redor da faca e do garfo como se pudesse matá-lo com eles.

—Jujuba? —Eduardo se virou pra Felipe, as sobrancelhas erguidas e um sorriso descrente no rosto. —Você é péssimo, sabia? Entendo ela por não querer sair com você.

—Cale a boca, você não sabe de nada. —Felipe mostrou o dedo do meio pra ele. —É um apelido fofo que eu dei pra ela.

—Você é um besta. —Eduardo afirmou, enquanto eu olhava para Júlia, que continuava a comer e ignorar o celular que não parava de tocar.

—Você não vai atender? —Ela me olhou, com uma expressão que deixava claro qual era a resposta para aquela pergunta. —Quem é?

—Mais tarde a gente conversa. —Júlia se levantou, pegando suas coisas antes de ir embora.

A mesa ficou em silêncio, como se todo mundo percebesse o clima estranho que ficou no ar. Me virei para Bernardo quando ele tocou minha mão, percebendo que ele estava tão preocupado com ela quanto eu. Mais tarde, quanto estivéssemos no trabalho, longe de todos eles, conversaria com ela.



Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora