Capítulo 21: Destruidora de climas.

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Não tirei os olhos de Bernardo enquanto ele tocava violão, observando cada movimento das suas mãos e dos seus dedos, enquanto Felipe cantava "Cedo ou Tarde" do Nx Zero, sobre os olhos atentos de Júlia. O interesse dela está ali, mesmo que ela tenha uma cabeça dura enorme.

—Seu churros. —Diogo apareceu ao meu lado, me fazendo abrir um sorriso enorme quando vi que ele realmente havia me comprado um churros, assim como um pra ele. —Esse é sem areia, prometo.

—Um brinde ao churros de areia. —Soltei uma risada quando realmente brindamos com os dois, antes de eu dar uma mordida enorme no meu e praticamente gemer de felicidade. Eu não estava brincando, eu realmente amo churros.

Diogo se sentou ao meu lado e começou a prestar atenção na música que Felipe estava cantando, assim como as outras pessoas que estavam ao redor. Voltei a olhar pra lá também, percebendo a confusão nos olhos de Bernardo quando nossos olhos se encontraram, como se eu tivesse o deixado completamente perdido naquele momento.

Quando a música acabou, as pessoas que estavam ao redor bateram palmas, fazendo Felipe ficar de pé e fingir uma reverência exagerada que arrancou uma risada de todos nós. Assim que terminei de comer, voltei para perto deles, enquanto Diogo pegava a prancha pra voltar pra água. Pelo menos agora as coisas entre nós não estavam mais esquisitas. Não gosto de perder amigos que são importantes pra mim e ele está nessa lista, por menor que ela seja.

—Ei, Manu, o que acha de aprender a surfar? —Júlia indagou, quando me aproximei deles, sentindo os olhos de Bernardo sobre mim, aquecendo minha pele. —Estou louca pra aprender, mas não quero passar vergonha sozinha.

—A Melissa vai no meu lugar. Surfar não me parece muito legal. —Comentei, escutando Felipe soltar um grunhido de incredulidade, levando a mão ao peito quando olhei na direção dele.

—Assim você me machuca, Manu. Surfar é uma arte e é incrível. —Ele passou por mim, puxando a própria prancha pra voltar pro mar. —Deveria dar uma chance.

—Tenho certeza que pra vocês, é sim. —Bati no ombro dele, rindo da sua expressão de falsa indignação. —Mas vou passar essa, obrigada.

Ele riu, se afastando em direção ao mar. Eduardo e Érika foram logo atrás, enquanto Júlia resmungava e puxava Melissa junta com ela, me deixando sozinha com Bernardo de novo. Me sentei perto das minhas coisas, pegando o celular para checar a hora, antes de olhar pra minha perna, vendo a concha que Bernardo havia depositado ali.

—Andou catando conchas pela areia? —Indaguei, pegando a concha e a deixando na palma da minha mão. Era pequena, de um tom creme, suja com grãos de areia.

—Achei essa por acaso. —Ele observou ela na minha mão, enquanto ajeitava o boné sobre seus cabelos bagunçados e molhados. —Dizem que dá sorte, sabia? Peguei ela pra você.

—Sorte, é? —Sorri, colocando a concha na minha perna de novo, antes de tirar uma foto dela ali, com a areia e o mar no fundo.

—Elas tem alguns outros significados. —Ele tombou a cabeça de lado, com uma expressão inocente, dando de ombros. —Mas você pode pensar nela como um punhado de carbonato de cálcio.

—Uma coisa que um químico certamente diria. —Soltei uma risada, balançando a cabeça negativamente, ainda olhando pra ela. —Mas eu estou precisando de sorte, então obrigada. Quem sabe ela realmente não funcione? Vou guarda-la bem.

—Por que você está precisando de sorte? —Indagou, me fazendo comprimir os lábios e erguer os olhos para o mar, pensando naquela pergunta.

—Minha vida toda é um caos desde que eu nasci. Não tive sorte em nenhum momento da minha vida, Bernardo. Entenderia o que eu quero dizer se... —Parei de falar, encolhendo os ombros.

—Eu entenderia se conhecesse você de verdade. —Ele se sentou mais perto de mim, com o ombro quase tocando o meu, fazendo todos os pelos do meu corpo se arrepiarem quando se inclinou e deixou um beijo carinhoso no meu ombro nu. —Pode confiar em mim, Manu. Se não for agora, pode ser depois. Sou super paciente. Mas vou estar aqui pra ouvir quando quiser me contar qualquer coisa sobre você.

—Você manda muito bem com as palavras, sabia? Deveria escrever um livro. —Brinquei, o fazendo se inclinar para trás quando soltou uma gargalhada. Mas ele estava me deixando nervosa com aquela conversa. Ainda não sabia como ser sincera com as pessoas.

—Você é uma destruidora de climas. —Afirmou, e eu dei de ombros com um sorriso enorme nos lábios. —Eu tentando ganhar sua confiança e você zoando com a minha cara.

—Eu estava sendo sincera. —Retruquei, percebendo que ele ainda estava rindo, olhando pra mim com o rosto todo iluminado. Aquilo me afetava mais do que eu gostaria que fosse possível. —Estarei na primeira fila pra comprar e ganhar um autógrafo seu.

—Você não precisa entrar numa fila pra ganhar qualquer coisa minha, Manuela. —Ele se inclinou pra perto de mim de novo, fazendo meu coração disparar com a forma que ele falava meu nome inteiro. —Só precisa confiar em mim. Não estou brincando com você. Quero que confie em mim. Quero ser seu amigo.

—Meu amigo? —Eu repeti, como se as palavras fossem impossíveis de serem absorvidas pelo meu cérebro, que ia e vinha em todas as coisas que Bernardo já havia dito e me feito sentir nesse pouco tempo. Era difícil me concentrar normalmente e mais difícil ainda quando ele estava por perto de mim.

—Seu melhor amigo. —Corrigiu, deixando outro beijo demorado no meu ombro, que causou uma explosão no meu peito e uma onda de calor pelo meu rosto. —Pensa nisso, ok?

Ele se afastou, ficando de pé, antes de me estender a mão e indicar o mar, onde os outros estavam. Hesitei por alguns segundos, porque não gostava muito da água tão gelada. Mas a expressão paciente de Bernardo me fez segurar a mão dele e ficar de pé, deixando que ele me guiasse até a água onde nossos amigos estavam.


Continua...

Todos os "eu te amo" não ditos / Vol. 1Where stories live. Discover now