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ARCO III

INTERROGAÇÕES

Pedrux engoliu em seco. Ele voltou a encarar Foka e respirou fundo antes de dizer.

--- Apenas o protegi. O protegi de mim.

Um raio rasgou os céus de Utopia. O que antes era apenas uma garoa, agora se tornava
tempestade. Quando o trovão ecoou por toda a cidade, os pelos no braço de Lg se arrepiaram. Olhando o cientista pela janela da sala de interrogatório, Lg só podia sentir o seu peito apetar. Pedrux estava falando de Apuh, como ele tivesse alguma moral para falar sobre ele.

Apuh respirou fundo, trazendo Lg para mais perto. Ele inclinou a sua cabeça até enterrar o nariz no pescoço cheiroso e se embriagar com o cheiro de lavanda da pele leitosa do espadachim. Em seu interior, ele se corria de raiva, mas como um bom ator, sabia disfarçar os seus verdadeiros sentimentos e cobrir a sua face com a máscara de moralidade.

--- O protegeu de você? - Foka anotou mais algumas coisas no caderno - Por que você estaria o protegendo de você mesmo?

Pedrux apertou os seus dedos na corrente da algema e batucou ele levemente na mesa. Os cabelos oleosos o caíram pelo rosto, encobrindo os seus olhos arroxeados e impedindo Apuh e Lg de verem o que se passava por suas íris coloridas.

--- Há coisas em mim que eu não posso controlar - disse baixo, quase num sussurro. A sua voz ecoou quase que de maneira imperceptível pela sala onde Lg e Apuh assistiam a tudo tensionados.

--- Você alega ter problemas mentais?

--- E quem não tem problemas nessa cidade?

--- Você se recusou a conversa com a nossa psicóloga ontem quando chegou - informou Foka - deseja uma nova seção com ela?

Pedrux balançou a cabeça fazendo os seus cabelos se movimentarem.

--- Não há necessidades para tal - respondeu encarando as unhas em seus dedos.

--- Você possui algum diagnostico? Não temos nada em seu prontuário.

Pedrux negou novamente.

--- Então o que você não consegue controlar?

Pedrux se manteve em silencio. As gotas de chuva faziam barulho no telhado da delegacia e Jennie no andar de baixo observava as poças de agua se formando pelas ruas de Utopia.

--- Passado. É isso que eu não controle. O passado - respondeu o cientista depois de um minuto de silêncio.

Lg mordeu seu lábio inferior sentindo um aperto em seu coração. O passado era algo intenso demais para poder controla-lo. Lg já teve problemas com o seu passado, um passado que pensava que não o pertencia.

Pedrux vinha de TopCity e fazia viagens intermendicionais pelos multiversos. Ele também tinha problemas com o seu passado.

Era uma droga tudo aquilo.

--- Por que sequestrou o Lg? - Foka voltou a pergunta na esperança que Pedrux o respondesse.

Pedrux apertou os lábios e batucou novamente os dedos na mesa. Com as pernas mais inquietas cruzadas em baixo da mesa, Pedrux ergueu a cabeça, encarou o teto ouvindo a sinfonia das gostas de chuva nas janelas da delegacia. Seus olhos sem vida miraram a lâmpada acesa e o teto branco com nenhum rastro de mofo. Parecia ser uma delegacia nova.

A paredes em um tom creme não ajudava a passar o tempo naquela sala. O chão de cimento queimado apenas servia para disfarçar a sujeira dos sapatos.

--- Por que sequestrou o Lg? - Foka repetiu a pergunta tendo o silencio como resposta mais uma vez - Se coopera com o caso, podemos negociar com o Juiz uma diminuição em sua sentença.

Dias de Chuva| LapuhWo Geschichten leben. Entdecke jetzt