52. Marta Bragança

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~Nota do autor~
O capítulo que está prestes a ler pode conter descrições de extrema violência, ofensas verbais, violência física e sexual, e não deve ser lido por pessoas sensíveis.

Quinta-feira, 21 de Julho, 2022

18:47

Estava com muito medo para prestar atenção no caminho. Os pulmões haviam contraído, o que causava dor e queimação todas as vezes que Nicholas tentava puxar o ar para eles.

Engasgou com o oxigênio, olhando ao redor do carro, como se fosse, milagrosamente, encontrar uma brecha para fugir dali. Mas não havia brechas. Não havia nada.

Sentindo-se extremamente desconfortável com o cinto pressionando o peito, Nick puxou a fivela, buscando o oxigênio. Pequeno e Pinóquio não paravam de discutir entre si, Pinóquio ao seu lado, com o revólver sempre apontado na direção de Nicholas, Pequeno dirigia descontroladamente no volante.

– Se continuar dirigindo assim a polícia vai nos encontrar - Reclamava Pinóquio, batendo violentamente no banco do carona – Vai devagar, caralho!

– A polícia já tá na nossa cola - Pequeno respondeu, cruzando os sinais vermelhos – Ou acha que ninguém chamou os zomi quando nós saímos?

– A culpa é sua por ter matado o advogado!

– Ele viria atrás de nós. Ele sabe quem somos. Já nos viu no gabinete da governadora.

Nicholas tentava não pensar em Paulo estirado no chão do posto de gasolina. Haviam enfiado uma bala em sua cabeça, morreu com os olhos abertos, a expressão que implorava por misericórdia estava eternizada em sua face. Sentiu um calafrio súbito subindo sua pele.

– Por favor, o que está acontecendo? - disse aos soluços, mas tanto Pinóquio, quanto Pequeno, os ignorou.

19:21

Aos poucos a visão de prédios foi tomada por casas pequenas, depois campos abertos e escuros graças a noite, casebres, galpões e por fim mato. Quilômetros e mais quilômetros de mato. Atravessaram pontes e rios, com a esperança de que seriam encontrados pelos policiais aos poucos deixando de existir.

Passaram-se mais alguns minutos, prédios e casas voltaram a fazer parte da paisagem; Nick achou alguns deles familiar, o que significava que conhecia aquele caminho. Mas estava nervoso demais para perceber, só compreendeu o destino dos sequestradores quando eles entraram no condomínio.

Ruas asfaltadas de pedra, muros altos demais para ver as casas do outro lado, em outras casas, o muro era baixo, mas as mansões que eles guardavam eram enormes. Quando o carro virou na próxima esquina Nicholas sentiu a bile subindo em sua boca. O amargo o fisgou.

Havia algo misterioso na rua Arantes Coelho. Nick nunca soube explicar o porquê; os muros das casas eram altos demais, os postes afastados demais para dar-lhes uma iluminação total dos paralelepípedo. A rua possuía dezessete casas ao todo, mas sempre estava vazia. As casas, mesmo com os muros grudados uns nos outros, ficavam afastadas demais.

Nicholas pegou-se notando uma coisa que nunca antes havia percebido. Ele nunca soube como se pareciam os moradores daquelas casas. Sabia que existiam, vez ou outra presenciava os carrões entrando e saindo pelos portões, com os vidros fumê erguidos. Lembrava-se de ver as babás com as crianças passeando pelas calçadas; dos jovens adolescentes levando os cães para passear. Mas, mesmo assim, em todos os seus quinze anos morando naquela rua, nunca os conheceu de verdade. Nunca nem sequer soube os seus nomes.

O Sedan prata parou em frente ao portão cujo Nick conhecia muito bem. Quase engasgou, engolindo todo o choro e limitando-se apenas a fungar. O portão de alumínio branco arrastou pelo chão e mostrou a garagem escura do outro lado. O Sedan entrou lentamente.

O Misterioso Caso Duarte [Em Revisão}Where stories live. Discover now